O que esperar quando se espera

Lá vamos nós tudo outra vez

Para ler ouvindo: Todo Dia – Roberta Campos

O doce cheiro da manhã de verão entra pela janela trazendo consigo a boa nova. Não fossem as marteladas do vizinho e o jardineiro cortando a grama, ambos desde às 8h,  eu continuaria a poesia. Digo isso bem-humorada, acreditem. Estar grávida novamente é um misto de sensações, uma ode bem maluca ao saber e não saber. Dizem que algumas mulheres ficam com o olfato aguçado, eu ouço o motor do carro do meu marido virando a esquina um quarteirão antes dele chegar em casa – não exatamente pelo poder do sentido, mas pela necessidade de vê-lo assumir um pouco o controle.

Ando sonolenta e enjoada. A barriga, definitivamente, cresce mais rápido da segunda vez. Diferentemente do que há 7 anos, não estou preocupada com enxoval, decoração e lembrancinhas. Bom, pelo menos não tanto com isso, vai. É só o tal medo do futuro mesmo e não do meu, mas das crias. Quando paramos para pensar racionalmente, saber que vivemos num país como o Brasil é de tirar a paz de qualquer mãe. Questões como políticas públicas, respeito às escolhas no parto e mínimas condições sanitárias para parir um bebê em segurança preenchem a pauta de pensamentos. Enquanto isso, me desdobro para ser a melhor com o menino que está aqui fora, do meu ladinho, ainda tendo aulas on-line, em isolamento social e com o devido direito de ser apenas criança e feliz.

Tudo mudo, mas nem tanto

Será que vou conseguir acordar no meio da madrugada para amamentar? Honestamente, essa é minha maior aflição (confesso). Claro que eu vou, mães trabalham no modo automático quando se trata de funções fisiológicas. Talvez seja por isso que eu tenha ficado tão plena depois que o Pedro passou a embalar um soninho a noite toda e eu pude novamente dormir o quanto realmente preciso. Está certo que eu trabalhava fora naquela época, até uma semana antes dele nascer tive que cumprir expediente. Agora, em casa o tempo todo, me pergunto se estou mais descansada de fato.

Já sabemos a resposta, contudo, meu maior desafio aqui é fazer o que venho dizendo incansavelmente: sem essa de abraçar o mundo e enfiar um prefixo super nas minhas denominações. O que busco mesmo é dar conta do que dá e terminar o dia sem ter tido mais do que dois ataques de nervos. Estamos trabalhando com a média de 1,5. No fim das contas, o bom mesmo é sentir aquele cheirinho que só um filho tem, bem encorujadinho debaixo da asa e não pensar em mais nada pelo menos por alguns minutos.

Rumo ao topo, de joelhos

Ter um irmão significa muito, desde brigas na infância à incompatibilidades na vida adulta. Mas não para por aí: apesar de tudo, é alguém que se preocupa com você, às vezes sem se dar conta disso no cotidiano. Quando o bicho pegar, pelo menos eles terão um ao outro. Sempre quis uma casa cheia de filhos e cachorros, hoje quero meus dois filhos e a cachorrinha que já tenho. Continuo enxergando a magia, só me tornei uma pessoa mais pragmática. A jornada está sendo generosa comigo, especialmente quando reconheço meus limites. Óbvio que não cheguei no topo de nada, mas estar feliz com as minhas escolhas preenche aquele vazio que hora sim hora não bate no peito, ecoa pelo corpo e na gravidez vira azia.

Prometi a mim mesma que vou curtir mais os três primeiros meses do recém-nascido; que vou deixar o irmão mais velho cuidar; que não vou saracotear nos primeiros 40 dias depois do parto – e aproveitar a “regalia” indicada pela médica para descansar, ou melhor, para amamentar de madrugada e sobreviver. No último exame ainda não descobri o sexo do bebê, previsto para chegar no inverno, mas não me importo. O que uma mãe quer mesmo é ver seus filhos crescendo seguros, fortes, saudáveis e alegres. Ah, e com oportunidades!

Até a próxima!

Patricia Pavloski Perez

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