Com fácil execução, vídeolaringoscopia permite rápido diagnóstico de problemas na voz
Para compensar o uso da máscara – essencial na prevenção de Covid-19 –, muitas pessoas adquiriram o hábito de falar mais alto durante a pandemia. Seja devido ao som abafado gerado pela proteção facial ou pela distância provocada pelas videoconferências no trabalho remoto, os brasileiros ampliaram o volume da voz no dia a dia e não perceberam que o hábito pode ser muito prejudicial.
De acordo com Domingos Hiroshi Tsuji, otorrinolaringologista e responsável pelo Voice Center no Hospital Paulista, o uso exagerado e desregrado da voz pode gerar lesões nas cordas vocais, situadas na laringe e responsáveis pela produção de som. Trata-se da laringite (inflamação na laringe) causada por fonotrauma decorrente desse uso inadequado da voz.
“Inicialmente, o exame mais recomendado é a videolaringoscopia. No entanto, alguns pacientes demonstram receio em sua realização, associando o procedimento a algo extremamente desconfortável”, destaca o especialista. Na realidade, o exame é muito simples, rápido e seguro, e o incômodo é mínimo.
“O paciente faz o exame sentado, sem necessidade de sedação ou anestesia geral. Usamos um spray anestésico na garganta e um tubo rígido de pequeno calibre com micro câmera é inserido suavemente pela boca do paciente. Esse instrumento é chamado de telescópio de laringe e é usado com o objetivo de ‘espiar’ de longe a laringe, o que reduz sensivelmente o desconforto do procedimento”, explica o médico.
Um dos diferenciais da vídeolaringoscopia é que o telescópio não precisa entrar profundamente na garganta. “Como o aparelho tem um ângulo de visualização de 70 graus, a ponta do telescópio é posicionada no fundo da boca, próximo à ‘campainha’ (úvula), para analisar partes da faringe e laringe”, completa.
As imagens são ampliadas e visualizadas em tempo real, em um monitor de vídeo, e documentadas em forma de fotografia. A partir daí, o especialista pode avaliar se há, de fato, danos na laringe.
Nos casos oriundos da pandemia de Covid-19, os desgastes vocais são simples e podem ser tratados com repouso vocal ou medicação. Além disso, o médico pode recomendar mudanças de comportamentos no cotidiano do paciente, para evitar que o problema persista ou seja agravado.
“Deve-se evitar conversas (presencialmente ou através de vídeo e telefone) em locais barulhentos. É preciso também falar pausadamente para facilitar a compreensão do interlocutor e esperar sua vez para interagir, evitando falar junto com outras pessoas. Nestas situações, para sermos ouvidos, costumamos aumentar o tom de voz e sequer percebemos”, explica o otorrinolaringologista do Voice Center.
Informações sobre a laringite
Além do uso excessivo da voz, algumas laringites também podem ser causadas por substâncias irritativas ou agentes infecciosos, como bactérias e vírus. Sua principal manifestação inclui rouquidão e perda de voz, podendo ser algo curto (laringite aguda) ou mais prolongado (crônica). Neste último caso, ocorre rouquidão persistente e o diagnóstico pode estar relacionado com algum problema subjacente, como mau uso da voz, refluxo gastroesofágico, alergia, sinusite, uso de álcool ou tabagismo.
De acordo com Domingos, além da rouquidão, são sintomas da laringite: (i) tosse seca ou com secreção; (ii) irritação e dor de garganta; (iii) sensação de garganta seca; (iv) dificuldade para engolir; (v) febre; (vi) glândulas no pescoço; e (vii) obstrução das vias respiratórias e dificuldade de respirar, em casos mais graves.
Na laringite crônica, o repouso da voz não é suficiente para atenuar os sintomas. Neste caso, é preciso recorrer a um tratamento específico que pode envolver remédios e até mesmo intervenção cirúrgica, dependendo da gravidade e da causa do problema.
Algumas das possíveis causas da laringite crônica são:
- uso excessivo de álcool;
- tabagismo;
- refluxo gastroesofágico;
- reações alérgicas (laringite alérgica);
- sinusite crônica;
- uso excessivo e constante da voz;
- doenças autoimunes (como a artrite reumatoide);
- infecções virais, bacterianas ou fúngicas;
- infecções por parasitas;
- tumores das cordas vocais.
Seja em casos agudos ou crônicos, a recomendação é buscar auxílio médico o quanto antes, para que o diagnóstico e o tratamento correto sejam realizados corretamente.