Poeminha Atemporal
Para ler ouvindo: Alegria, Alegria – Caetano Veloso
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Ah, se hoje fosse o dia
De acabar com essa agonia
E finalmente vibrar de alegria
Mal posso esperar para te fazer companhia
Nem tudo são flores
Mas tivemos amores
Entre muros e grades
Mercados, compras e alardes
Chegamos ao topo da tal fragilidade
Que chamamos de sociedade
Não nos conhecemos
Algum sentimento compartilhamos
Um deles é fato
O desejo que é mato
De sair desse buraco
O cientista explicou
Pouca gente entendeu
De pedidos médicos entoados
À sopros de coros suplicados
Especialmente por quem viu a morte do lado
Restou o tempo passando atordoado
O que eu disse?
Era pouco
Direto do coração
Guardei energia pra que tu visse
Você não leu
Passou despercebido
Cá estou eu de novo com ar descabido
Teve churrasco
Bolo, pão caseiro e exercícios
A vida toda acontecendo num apartamento
Quem dera eu pudesse te contar o quanto eu ainda me lembro
Da passagem que ser nenhum no mundo deixará cair no esquecimento
Aqui da minha bolha eu pude criar
Menino leu
Escreveu e reconheceu
Seus pais renascem todo dia
Em meio a felicidade e ventania
Filho nos faz gostar da vida
Independentemente da euforia
Se somos pessimistas da razão
Nos tornamos otimistas da vontade, por que não?
Já diria Ariano Suassuna ou Guimarães Rosa
Ter esperança ativa requer descuido, coragem e boa prosa
Crer que algo bom irá acontecer
Nem que pra isso a gente precise ter paciência
Não só pra respeitar o processo
Como para emaranhar e equilibrar o que te traz vivência
Voltei toda semana pra tentar entreter
Estive atenta às notícias, aos sinais e especialistas
Tratei de chutar a bunda da ansiedade
Aumentei a maturidade
Desassociar da lógica imediatista leva tempo
Mudanças singelas ainda assim tem seu reconhecimento
Façamos pelo futuro o que hoje pode ser utopia
Momento que um dia chega
Pra partilha
Pode ser daqui um ano
Ou um século inteirinho
Como no ditado, rezo e faço
Deus não é telemarketing
Com fé eu corro atrás, reconheço e abraço as oportunidades
Se falo da parte difícil eu choro
A poesia seca as lágrimas
Na simplicidade de palavras
Sobrevivo ao Brasil e ainda encontro reciprocidade
Quem dera também igualdade
Racial e social
Equidade como valor maioral
Não tem audiência que pague
Efêmero prazer de estar de bem comigo mesma
Isso eu não posso sair pra comprar
Encontrei diversas vezes aqui mesmo no meu andar
Sem radar para apitar
Vibrações positivas vieram da ciência brasileira
Essa sim disposta a um inédito despertar
Mas querem politizar
Tudo fica muito grande
Os olhos não alcançam
Mesmo que eu descreva o que acho ser muito
Ainda falta uma parcela gigante
Que do meu viés é perigosa e única
Mais que isso, suplicante
Pouco contagiante
O que você sabe, sente ou sonha
Quanto desperta todas as manhãs
O que consegue enxergar além-mar
Do cotidiano barulhento
Realmente é o legado que vai ficar
Basta ter espaço e tempo para passar
A quem o universo vai herdar
Se hoje me desligo a trégua tem um preço
Que é o sabor nem sempre doce do desapego
Claustrofobia da informação
Doença da hiperconexão
Notícias ruins são maioria
Deletar um pouco faz parte
Sem largar os cabos que nos tiram a arte
Não saber é o mistério
Desvendar a mágica é coisa de quem não leva a sério
Para acreditar eu sigo a intuição
Se gratidão chamam de over
Mãe natureza na orelha dá um puxão
Estou contigo e não abro
Você que vê a beleza no embalo
Mesmo que ao redor seja mentecapto
Uma força que move a transgredir
E pensar que o melhor está sim sempre por vir
Nem todo dia é uma calmaria
Também não há só presença da alegria
Entre o sal da vida e a correria
Optei por baixar a guarda
Priorizar a infância
Escutar a militância
Para estar de novo na pista e na dança
Quem sabe com certa premissa
De que se o amanhã chegar (e ele vai)
Meus braços estarão abertos para abraçar
Pessoas, momentos, causas, brigas
Haja membros pra compor uma sinfonia
De vozes
Menos algozes
Oportunidade de fato
Quem merece pode ter
Mas quem precisa terá
E se for pra questionar
Seja quem trabalha pra isso estar lá
Posto na mesa
Disponível no asfalto
Em abundância no corredor que cura
Saúda novos tempos
De menos caos
E mais aproveitamento
Dificuldade molda
Ajuda é necessário
Buscar apoio
Correr atrás
Nada é em vão
Nem de mão beijada
Negar que o sistema é obstáculo
Leviano se mostra no ato
O que a gente desconhece porque não viveu
Ouve atento, mente aberta e absoluto respeito
Jamais, sem saber, põe em xeque a resenha do sujeito
Opinião é sobra
Fica mesmo é a história
Do que se viveu e aprendeu
Sobretudo do quanto apanhou e sobreviveu
Pra hoje cantar a bola de que há sim essa luz
Desde que não queiram tapar o sol do futuro teu
Porque se essa geração de adultos instituiu o mimimi
Como ferramenta de desumanização e suspensão
A minúscula minhoca migra da mente para o porvir
Bagunçando as ideias de quem não há muito chegou por aqui
Respeitar é aquela coisa
Relativizar não é uma opção
Muito menos sofrimento
Pra que falar se dali só sai desprezo e desmerecimento?
Ouça o que dizem do coração, teve quem previu
Enquanto uns abrem a boca
Outros o pensamento da mente extorquiu
De que adianta ter evoluído se é pra hoje ser tão vil?
Perversidade naturalizada
Então nos resta radicalizar
Sem confundir reação do oprimido
Com violência do opressor
Silenciar diante disso é passar pela vítima
Como um rolo compressor
Que te afasta da empatia
Achincalhar virou verbo com maestria
Na pauta de toda gente
Se autoproclama do bem
Desde que a ofensa seja pra outrem
Se tudo precisa ser dito que seja
Não em detrimento de algo
Cabe quase tudo na visão de quem quer ampliar o entendimento
Quem decide não vem ao caso
O dia a dia é quem comanda o atraso
Esteja atento para não ser surpreendido
Pelo próprio mal que outrora pode até ter defendido
Chega de lero
Coluna e poesia, ambos tem fim
Pra quem passar por aqui
Eu pareço gente boa
Mas trocaria cada um por uma hora com a escritora
Chimamanda é o nome dela
Que vem do país que não é a África e sim a Nigéria
Um continente todo desconhecido
Assim como sua leitura que deu lugar ao algoritmo
Ah, se hoje fosse o dia
De acabar com essa agonia
E finalmente vibrar de alegria
Mal posso esperar para te fazer companhia
Até a próxima!
Patricia Pavloski Perez