Beleza limpa

Há algum tempo vem se observado um crescimento do mercado orgânico de beleza e bem-estar. Uma pesquisa de 2019 da Soil Association, organização de certificação orgânica do Reino Unido, mostrou que 79% das pessoas são mais propensas a comprar um produto que se diz orgânico. E 41% escolhe uma beleza orgânica por ser mais sustentável. Isso mostra o quanto as pessoas estão mais conscientes, refletindo a respeito de suas decisões de consumo. Seguindo essa tendência, outro movimento vem crescendo: o ‘Clean Beauty’.

De acordo com a dermatologista Bianca Viscomi, esse termo é muito amplo e ainda não existe uma definição muito clara a seu respeito. Mas, em linhas gerais, significa utilizar produtos de beleza e higiene pessoal que não contenham ingredientes tóxicos, para as pessoas e o meio ambiente. “Esse movimento existe há algum tempo no Brasil, embora ainda tenham pouquíssimas opções quando comparado com o mercado europeu e norte-americano. No entanto, aos poucos as pessoas estão ficando mais conscientes, se informando mais sobre o assunto. Essa demanda vai crescer e as indústrias de beleza vão ter que se adaptar”.

A médica explica que esse fenômeno não está acontecendo apenas na esfera da indústria. É possível perceber também essa tendência na área científica. “Hoje, quando se faz uma pesquisa no ‘Pubmed’, que é uma base de dados científicos de artigos indexados, encontra-se muitos conteúdos sobre toxicidade de ativos, impacto ambiental, possíveis efeitos hormonais de alguns produtos químicos presentes nos cosméticos. Então, é um movimento que vai crescendo à medida que as pessoas se informam mais sobre o assunto”, explica.

Ingredientes nocivos à saúde e ao meio ambiente

Bianca cita alguns exemplos de ingredientes tóxicos que podem causar danos à saúde: “Parabenos, silicones, petrolatos, sulfatos, formaldeídos, e todas as substâncias derivadas do formaldeído”. A médica explica, por exemplo, que o formaldeído é uma substância carcinogênica. “Ele é absorvido pela pele, e é extremamente volátil. Por isso, a gente também inala quando usa um cosmético que contém formaldeído. E já se sabe que a exposição a essa substância está ligada, por exemplo, a leucemia na infância”. Além dessas substâncias, têm os microplásticos que poluem os oceanos. Também as embalagens plásticas, que são liberadoras de bisfenol A, substância que causa distúrbios hormonais, e o próprio chumbo que é um metal pesado e está presente em diversos produtos de maquiagem. “Assim, torna-se necessário que esses assuntos sejam discutidos, pesquisados e validados”, diz ela.

Quando se trata de impactos na pele, existem alguns desses componentes tóxicos que são potenciais causadores de dermatites e alergias. No entanto, existem também ativos naturais, como óleos essenciais de origem vegetal, que também são potenciais causadores de sensibilidade e irritação. “Quando for falar de ‘Clean Beauty’ precisa ficar muito claro o que cada agente é capaz de provocar. O óleo de alecrim é capaz de dar uma dermatite de contato desastrosa. Os óleos cítricos também. E todos eles são naturais. Existem extratos botânicos cujas plantas são cultivadas com agrotóxicos e tem contaminação por metal pesado. Então, acredito que é preciso ser muito específico e entender o que cada produto realmente pode causar.”

Na área da medicina estética

No campo da estética, de acordo com a médica, existe uma toxina botulínica que se encaixa mais no conceito de ‘Clean Beauty’. Uma das razões para isso é que essa toxina não requer transporte refrigerado. “A toxina botulínica é importada para vários países, e o transporte em veículo refrigerado provoca liberação de um gás que é extremamente poluente para a nossa atmosfera”. Além disso, ela é livre de proteínas desnecessárias. “Essas substâncias têm a capacidade de induzir a formação de anticorpo no paciente ao receber a toxina botulínica. Como resultado, a pessoa fica resistente à ação da própria toxina”. Segundo Bianca, essas proteínas não tem efeito terapêutico nenhum, elas são simplesmente proteínas estranhas. “Por isso, na minha prática, eu só uso a toxina purificada, há cinco anos”.

Impactos da beleza limpa

Na opinião da dermatologista, o aumento da demanda por produtos mais limpos, faz com que as pessoas também tenham uma consciência maior sobre a sua própria beleza. O que está associado à autoaceitação. E diz que o ‘Clean Beauty’ é uma questão de necessidade. “Se a gente considerar que uma mulher usa, em média, 12 produtos de higiene pessoal por dia, é importante entender para onde vão essas substâncias e o que elas causam”.

Bianca explica que os profissionais vão precisar se adaptar e conhecer mais. “Isso é essencial, porque é uma demanda cada vez mais frequente no nosso dia a dia e acredito que todo mundo só tem a ganhar. O impacto é muito positivo, tanto na saúde das pessoas como no meio ambiente”.

Por fim, dá uma dica: “Aprenda a ler o rótulo e a identificar alguns ingredientes que são realmente nocivos à nossa saúde. Informação é tudo. À medida que a gente se empodera do conhecimento começa a exigir das agências regulatórias que limitem o uso de algumas substâncias nos produtos de beleza”.

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