Solidão
Quando me mudei para o meu apartamento novo, costumava olhar os aviões pousando e decolando a uma distancia de menos de 10km. Casualmente, também observava uma Senhorinha que andava claudicante, ligeiramente curvada, cabelos brancos, carregando uma sacolinha com pão… E eu pensava: por que essa Senhora está sempre sozinha? Não tem filhos, marido, algum parente?
Sem resposta.
E, dia após dia, eu a via passar…. Até que uma tarde, não consegui visualizá- la, porque eu estava fora de mim, anestesiada, tentando encontrar algo que me fizesse despertar daquele pesadelo, mudo e surdo, até entender que…. fui “abandonada”…
Os dias passaram e eu continuei indo à janela na esperança de ver o portão abrir e ele entrar… A espera foi em vão.
Ele nunca mais voltou.
E, de repente, voltei a ver a Senhorinha, e vi nela o meu futuro não distante, triste e sozinha…. Até perceber que teria que me reerguer com os meus próprios meios, juntar os cacos e seguir em frente (clichê).
O tempo passou e com ele foram a esperança e a vontade de recomeçar.
Mesmo não querendo, a saudade bateu à minha porta e só então percebi que tinha vivido de migalhas e do pouco que tive, ainda assim, senti saudade…
Difícil admitir, porém, senti e tentei lembrar quando foi o nosso último beijo, último abraço, a última vez que andamos de mãos dadas, o último presente, o último gesto de carinho… Não consegui.
E a imagem da Senhorinha voltou-me à memória e me questionei: “Será que ela (também) sentiu falta de um abraço, de um gesto de carinho ou até de simplesmente olhar nos olhos “dele”, e calada, suavemente passar a mão em seu rosto, sorrir com ternura, recostar a cabeça em seu ombro, fechar os olhos e sonhar???
E quantos “serás” ainda terá pela frente?
Não sei…
Talvez nunca saiba… Os dela… Porque os meus, eu sei!
Mas, também, só o tempo dirá, até lá seguiremos, eu e a Senhorinha, claudicando, ligeiramente curvadas, cabelos brancos, carregando uma sacolinha com pão.