Era uma vez na Flórida
2ª- feira
Estava eu na praça de alimentação de um mall (shopping), em Miami, na Flórida, comendo salada com fritas (que combinação!!!!), quando deparei-me com o olhar insistente de um homem, sentado a uns dez metros da minha mesa. Era tão persistente que já estava me deixando constrangida, até porque, havia duas mulheres com ele. Levantei-me, um pouco sem jeito, e fui às compras.
3ª-feira
Voltei ao mall e parei em frente a um estúdio fotográfico. Havia um poster exposto na vitrine, era de um casal abraçado à luz do luar e… “Are you from?”
Será que era o homem que eu tinha visto no dia anterior?
Virei-me e vi os olhos azuis mais lindos que jamais havia visto. Ligeiramente calvo (eufemismo pra careca!), alto, 1,90m, eu diria e sem pensar em nada, respondi: Brasil!
Ele: “Que bom, assim podemos conversar”. Estendeu-me a mão: “Muito prazer, Eduardo”. Eu, feito um robô com a pilha fraca, disse o meu nome e cumprimentei-o.
Passados uns segundos, perguntou-me se havia gostado do poster; disse que sim, que eu sempre quis ter um com o marido, mas ele jamais mostrou interesse. Quis saber se eu gostaria de fotografar, respondi que não. “Será que o marido ficaria aborrecido?”, eu disse que não havia mais marido. Não havia mais ninguém. Divorciada.
Conversamos mais um pouco. Despedi-me e fui andando, dei uns poucos passos e alguém me segurou pelo braço; “Quer almoçar comigo e com as minhas filhas?”
Nesta altura, eu já estava igual ao “curiosity” (aquele robozinho da NASA, vagando em Marte, a Deus dará!), já não sabia o que estava sentindo e aquele olhar, quase suplicante, me fez aceitar o convite… “Aqui, às 13 horas?” Concordei, agradeci e fui… já sem rumo. Não conseguia tirá-lo do pensamento! Já vi homens bonitos, ex-marido, filhos, artistas, mas aquele tinha algo diferente… que eu só descobriria dias depois.
Almoçamos, conheci as filhas dele, conversamos mais um pouco. Combinamos de nos encontrar no mesmo lugar ao entardecer e fomos às compras.
Conforme combinado, voltei ao estúdio e ele já estava lá. Sorrindo, veio ao meu encontro e tive a impressão de que o conhecia desde sempre, tal a alegria que senti ao revê-lo. Gentilmente, ofereceu-me carona, agradeci e disse que estava num hotel bem próximo, casualmente, era o mesmo em que ele e as filhas estavam. Trocamos números de telefone e fomos, cada um, para o seu canto.
23h, mensagem no whats, era ele me desejando “boa noite, até amanhã”, retribuí e fui me deitar, com um sorriso de satisfação, esperando que a noite passasse rapidamente.
Demorei a dormir, não conseguia esquecer aqueles olhos azuis !!!
4ª-feira
Levantei-me, fiz o que tinha que fazer no quarto e fui ao shopping, torcendo pra que ele estivesse lá.
Não estava !!!!
Talvez fosse muito cedo pra eles.
Fui às compras.
Perdi a hora do almoço. Já bastante tarde, olhei o celular, havia 3 ligações dele e umas 5 mensagens no whats. Por educação, retornei à ligação e, ele nervoso, perguntou onde eu estava… Sem querer, estava dando satisfação do meu dia. Pediu-me que o encontrasse no mesmo lugar (estúdio)… e fui… Quando estava próximo, ele foi ao meu encontro e para meu espanto, abraçou-me e perguntou, quase num lamento, por que não atendi as ligações dele. Mais uma vez, fiz um breve relato do meu dia e ele disse: “então, vamos embora”, passou o braço pelos meus ombros e fomos…. e não sei por que , me senti, feliz, segura, protegida… olhei pra ele e entendi.
Jantamos juntos, conversamos, andamos de mãos dadas e como num passe de mágica, estávamos abraçados, feito dois adolescentes…e, com um beijo terno, doce, suave (para ficar na lembrança. Aquele, sem a volúpia da carne, sabe como, né?), encerramos a noite.
5ª-feira
Acordei flutuando. Estava nas nuvens. Feliz. Apaixonada, Queria vê-lo, abraçá-lo… Eu precisava daquele abraço….
5ª-feira? 5ª-feira? Um frio percorreu-me a espinha e um punhal dentado perfurou o meu coração e eu sangrei.
Lembrei com tristeza que o meu voo de volta para a casa estava marcado para sábado, às 17h. Isto queria dizer que eu tinha que estar às 14h no aeroporto,
E chorei!!!
Grossas e quentes lágrimas desciam pelo meu rosto.
Não sei quanto tempo fiquei sem me mexer, sem “me sentir”, sem saber o que fazer… Até ouvir o telefone tocar… “Eduardo?” pensei… E era. Mal consegui responder.
Até hoje não sei como me vesti… Mas quando abri a porta do quarto, lá estava ele à minha espera… Quando dei por mim, estava nos braços dele, chorando copiosamente e ele sem entender o que estava acontecendo. Com soluçantes e desconexas palavras, tentei explicar. Tranquilizou-me dizendo que nada aconteceria porque o destino havia nos unido e nada nos separaria. Não entendi direito, mas saímos, fomos passear, andamos pela praia, andamos pelas ruas, sem destino, mas a tristeza não saía de perto. Eu tentava disfarçar, às vezes conseguia, noutras, não.
6ª-feira
E a 6ª-feira chegou. Praticamente o meu último dia com o Eduardo, que sofrimento, meu Deus!!!
Já passei por momentos terríveis na vida, mas aquele, foi o mais difícil, muito triste, estava entorpecida por uma dor lancinante que se apoderou de mim.
Mesmo com o coração dilacerado, fizemos, praticamente, as mesmas coisas, parecia que ele sabia que nada aconteceria, agia normalmente.
Sábado
Olhando para os lados, me vi sozinha no aeroporto… Cadê todo mundo? Onde está o Eduardo?
Assustada e quase chorando, ACORDEI e me dei conta de que foi um SONHO.
Eu não estava em Miami, não havia passado a semana lá, nada daquilo era verdade…
Sentei-me, apoiada na beirada da cama, olhava para os meus pés que insistiam em balançarem-se, e, sinceramente, com tristeza, percebi que eu queria voltar a dormir, encontrar o Eduardo nunca mais acordar.
Foi um sonho lindo, com um homem lindo, com lindos olhos azuis… A perfeição em formato (quase) humano.
Com a alma dolorida, preparei-me para ir trabalhar e saí. Trabalho num shopping, mas não consegui passar pela praça de alimentação, sabe-se lá por que…
Talvez eu nunca mais passe por lá… Talvez…
Ah, mas se por acaso alguém vir um homem lindo, com 1,90m de altura, lindos olhos azuis e atender pelo nome de Eduardo, por favor, diga-lhe que estou esperando por ele, em frente a um estúdio fotográfico de um mall qualquer na Flórida, e que se ele puder, que apresse-se porque eu estarei lá, esperando por ele… Até o fim dos tempos…