De um extremo ao outro: Mãe de cachorro
O que te vem à mente quando com a expressão “mãe de cachorro”? Até poucos meses atrás, essa expressão me gerava certa estranheza. “Como assim mãe de cachorro? Não é pra tanto, né?”.
Nos últimos anos comecei a pensar em adotar algum cachorrinho abandonado. Cheguei a visitar um abrigo, encontrei várias histórias tristes, bichinhos muito fofos, mas não consegui me “apaixonar” por nenhum.
Semanas antes de completar 40 anos, em meio à pandemia, recebi a foto de um cachorrinho abandonado na farmácia onde uma amiga trabalha. Passou-se pouco mais de uma hora entre saber da existência dele, ponderar rapidamente as responsabilidades e estar ali, frente a frente com ele. Não sei explicar o porquê, apenas agi por impulso. Ainda bem! Se tivesse racionalizado muito não teria o feito. Só senti que naquele momento devia fazer e fiz!
A princípio, a ideia era resgatar e cuidar dele até encontrar uma pessoa que realmente quisesse adotá-lo. Mas chegando ao local, o encontrei dentro de uma caixa de papelão, muito sujo, molhado e magro. De repente, ele virou a cabecinha e olhou na minha direção (mal sabia eu que este movimento passaria a ser o meu trejeito favorito). Nesse momento comecei a chorar e, no meu coração, já sabia que ele seria meu e eu dele. A certeza e o amor brotaram de uma maneira assustadora. O sentimento foi de reencontro.
Ele veio como um furacão: foi mudando meus conceitos, alterando minha rotina e moldando minhas manias (que são muitas), mas acima de tudo enchendo meus dias de amor. Todos os meus amigos, TO-DOS, sem exceção, ficaram surpresos. Uma delas me questionou: “Que bicho te mordeu?”. Fiquei pensativa, mas a resposta era clara: o amor.
Na última semana ele adoeceu e tive que interná-lo. Fiquei apavorada! Eu não queria, não podia perdê-lo. Sentia-me muito grata pelo nosso período, sentimentos e aprendizados compartilhados, mas não estava pronta para me despedir: tinha esperança em termos mais tempo juntos.
Durante o internamento, sua ausência se apresentava em cada canto da casa, em cada pedaço do meu dia. Aquele olhar doce, acompanhado da viradinha de cabeça – aquela que falei ali em cima – não saía da minha cabeça. Era uma dor familiar, mas ao mesmo tempo totalmente nova.
Esse coraçãozinho tão cheio de amor, que agora sabemos bater de um jeito diferente, foi capaz de me ensinar um novo jeito de amar. Ele me fez enxergar que, logo eu que sempre torci o nariz para o título “mãe de cachorro”, mudei de ideia depois de me permitir viver essa experiência.
Se você também, talvez, pense como eu pensava, pense de novo. Não julgue, pois um dia pode ser com você. E tomara que seja! Garanto que não irá se arrepender… Amor nunca é demais. Então, prazer! Meu nome é Isabel e eu sou a mãe do Bacon!