Isolamento social reacende a importância de passear pela cidade
Cidade Pedra Branca (Palhoça/SC)
Um bairro em que a prioridade é dada aos ciclistas e pedestres. Calçadas largas, ciclovias, trajeto seguro e atraente. Essa é a receita básica para promover a caminhabilidade nas cidades.
“Se as ruas de uma cidade parecem interessantes, a cidade parecerá interessante. Se as ruas parecem monótonas a cidade parecerá monótona”, já dizia a urbanista e ativista social Jane Jacobs autora do livro ”Morte e vida das grandes cidades”, escrito por ela em 1961.
Este princípio foi uma das bases do planejamento da Cidade Criativa Pedra Branca, que tem a promoção da caminhabilidade como premissa. O bairro planejado, localizado em Palhoça, na Grande Florianópolis, apresenta centralidade compacta e usos mistos, permitindo morar, trabalhar, estudar e se divertir no mesmo lugar – “ao alcance de uma caminhada”, como define a arquiteta e urbanista Silvia Lenzi, referência em planejamento urbano em Santa Catarina e uma das autoras do plano diretor da Cidade Pedra Branca.
Uma das principais características das cidades inteligentes é o incentivo à caminhabilidade e mobilidade ativa. É primordial priorizar o pedestre proporcionado infraestrutura completa e acessível com o intuito de facilitar a locomoção e promover maior qualidade de vida às pessoas. Outro aspecto importante é amenizar os impactos ambientais, sociais e econômicos da poluição do ar ocasionada pelo uso excessivo dos automóveis.
“O conceito de ‘Cidade para Pessoas’ sempre esteve muito forte em nossa estratégia. Entendemos como é importante ter uma praça, um banco e espaços de convivência”, afirma Marcelo Gomes, presidente da Cidade Pedra Branca. Daí a decisão pela diversidade de usos, com imóveis residenciais e comerciais, oferecendo um variado mix de produtos e de serviços para compras e lazer, estimulando a vida urbana durante o dia e a noite, e investindo em uma infraestrutura de segurança. Criado há 20 anos, atualmente o bairro concentra uma população de 12 mil moradores, 8 mil trabalhadores e 7 mil estudantes.
Prioridade ao pedestre e ao ciclista
No processo de planejamento, alguns questionamentos nortearam as decisões. “Como os pedestres e os ciclistas irão circular por aqui? Qual será a velocidade dos carros? O que é, afinal, uma cidade para caminhar?”, conta o empresário. Essas reflexões foram feitas pelos empreendedores a partir da leitura do livro “Cidade para Pessoas”, do arquiteto e urbanista dinamarquês Jan Gehl, referência mundial no tema, e que se tornou consultor da Cidade Pedra Branca, assim como os escritórios Jaime Lerner Arquitetos Associados e Keystone, especializado na criação de centralidades de bairro a partir dos preceitos do Novo Urbanismo.
A edição brasileira do livro de Jan Gehl veio a ser patrocinada pela Pedra Branca em 2013 – ano em que o bairro-cidade inaugurou o Passeio Pedra Branca – a rua central do bairro. Considerado o “shopping a céu aberto” da região, o Passeio Pedra Branca reúne lojas, bares e restaurantes em um espaço público atraente, confortável e seguro. Apresenta calçadas de oito metros de largura, cabeamento subterrâneo, farto mobiliário urbano e abundante e diversificada vegetação. Com 250 metros de extensão, liga ao campus da Unisul a uma praça central, circundada por prédios residenciais, lojas e edifícios corporativos, além de um supermercado.
Uma das principais inovações foi a implantação do conceito de rua compartilhada – a primeira do país – com calçadas sem meio-fio, no mesmo nível da via, facilitando a mobilidade urbana e, principalmente, exigindo a redução da velocidade dos carros, que não pode ultrapassar os 10 km/h. A prioridade, afinal, é dos pedestres. A rua, assim, deixa de ser um local de passagem e passa a ser um destino para o convívio e, também, para caminhadas e passeios de bicicleta. A rua é integrada à rede de ciclovias do bairro, que hoje totaliza 15 quilômetros de extensão total.
A Cidade Pedra Branca conta com a chancela do conselho nacional de prédios verdes (GBC Brasil). A partir do seu planejamento, em 2025 o empreendimento deverá comportar 30 mil habitantes em uma área de 1,7 milhão de metros quadrados e gerar, aproximadamente, 15 mil empregos.
O Plano Diretor da Cidade Pedra Branca foi desenvolvido por alguns dos maiores escritórios de arquitetura de Santa Catarina sob a consultoria de especialistas de renome internacional, como Jaime Lerner Arquitetura e Urbanismo, Keystone e Gehl Architects. De caráter inovador, a iniciativa rendeu premiações e reconhecimento internacional.
http://www.cidadepedrabranca.com.br