Futuro incerto: como é viver com Esclerose Múltipla?
O Dia Nacional de Conscientização da Esclerose Múltipla é celebrado hoje, 30 de agosto, mas durante todo o mês são desenvolvidas ações de apoio aos doentes. Dentre os destaques deste ano encontra-se a pesquisa organizada pelas Amigos Múltiplos pela Esclerose (AME), em parceria com uma farmacêutica, apontando que apenas 26% das pessoas com EM recebem orientações adequadas sobre seu futuro com a doença.
Realizada com 391 pessoas, entre portadoras de EM e médicos, outros dados importantes da pesquisa se referem ao grau de comprometimento da doença. Para 74% dos pacientes brasileiros, a fadiga é o fator mais limitante, seguida da dor (42%), distúrbio de concentração (37%), problemas cognitivos (37%), dificuldade para caminhar (35%), desequilíbrio e tendência a quedas (35%) e problemas sexuais (24%).
São informações importantes, uma vez que a esclerose múltipla evolui progressivamente piorando a capacidade funcional do indivíduo. “Algumas pessoas passam ter comprometimento acentuado para a realização de atividades simples, como tomar um banho ou se alimentar”, afirma o neurocirurgião e doutor pela UNIFESP, Dr. Claudio Corrêa.
A doença
A EM, sigla para o distúrbio neurológico crônico que já afeta aproximadamente 35 mil brasileiros, tem característica autoimune. Isso significa que ela decorre de uma agressão feita pelo sistema imunológico sobre a bainha de mielina, uma membrana que envolve os neurônios, causando um processo inflamatório e consequente lesão do sistema nervoso central.
“Dessa forma, é provocada uma série de disfunções, gradativamente limitantes com o passar dos anos”, explica o médico.
Diagnosticando a Esclerose Múltipla
De causa desconhecida, a esclerose múltipla inicialmente se apresenta de forma sutil, com manifestações que geralmente são momentâneas e de caráter sensitivo. As mais comuns são problemas no controle da urina e turvação visual, que podem durar apenas semanas e então parar.
Após, os sintomas evoluem para alterações motoras e cerebelares, estimulando o cansaço, fraqueza, formigamento nas pernas, desequilíbrio, tremores, descontrole de esfíncter anal e vesical, diplopia (visão dupla), espasticidade (rigidez muscular), que é a principal responsável pelo quadro de dor, e neuralgia do trigêmeo, que afeta 10% dos pacientes com EM.
“Além disso, a doença é mais comum em mulheres e é identificada em indivíduos com média de idade que vai dos 20 aos 40 anos”, diz Dr. Claudio.
Tratamentos
Como não há uma origem para a EM, também não há cura. Assim, as técnicas terapêuticas existentes visam atenuar os sintomas e reduzir o número de crises.
Os medicamentos corticosteroides são usados para reduzir a intensidade das manifestações, enquanto os imunossupressores e imunomoduladores atuam no espaçamento de seus episódios.
Para a espasticidade, a fisioterapia pode ser facilitada pela injeção da toxina botulínica A, que promove o relaxamento muscular necessário para a manobra de exercícios no paciente. A medicação também acaba favorecendo na redução da dor.
“Ainda para o controle da dor é possível realizar diversas modalidade de cirurgias, como neuroablativas e neuromoduladoras (como o implante de neuroestimulador medular), sendo exemplo no primeiro caso a rizotomia dorsal seletiva. “Nela, os nervos que enviam as mensagens de contração para o músculo são isolados e as fibras mais anormais são cortadas, a fim de aliviar a espasticidade e, ao mesmo tempo, preservar outras funções sensitivas e motoras”, conta Dr. Claudio.
Os métodos ainda podem ser neuroaumentativos, como a terapia injetável de relaxante muscular, feita por bombas eletrônicas de infusão.