Peso e idade são o maior risco quando se trata do coronavírus, mostram estudos
Peso e idade são o maior risco quando se trata do coronavírus, mostram estudos
Pesquisas revelam que a obesidade é o principal fator para a hospitalização por coronavírus, depois da idade avançada.
Em uma das maiores análises de dados de casos COVID-19 até agora, pesquisadores da Faculdade de Medicina Grossman da NYU descobriram que idade e doenças crônicas (doenças cardiovasculares, diabetes e obesidade, em particular) foram os principais fatores que levaram à hospitalização por COVID -19. O estudo, que analisou relatórios de 4.103 pacientes, mostrou que a obesidade, depois da idade avançada, foi de longe o preditor mais importante de hospitalização.
Outro estudo separado feito por pesquisadores da NYU Langone Health, revelou que pacientes com menos de 60 anos apresentavam maior risco de hospitalização devido a complicações do COVID-19 se fossem obesos. O relatório, publicado na revista Clinical Infectious Diseases, analisou os dados de 3.615 pacientes que apresentaram resultado positivo para o coronavírus de 4 de março a 4 de abril.
Covid-19 e os obesos – “A obesidade, por si só é um estado de inflamação crônica no corpo e isso afeta o funcionamento das células e de suas superfícies, que interrompem sua função natural de barreira protetora e facilitam o ataque de vírus, como o coronavírus”, explica Caetano Marchesini, cirurgião bariátrico, pesquisador e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica. O excesso de peso também tem efeitos negativos no sistema imunológico, como a diminuição da produção de proteínas vitais para defender o corpo contra possíveis infecções. O coronavírus entra no corpo aderindo à enzima conversora da angiotensina, localizada principalmente nos pulmões, rins e vasos sanguíneos. O nível dessa enzima é aumentado em pacientes com diabetes, o que facilita a entrada e a infecção do novo coronavírus neles. Quem sofre de obesidade severa pode ter os pulmões afetados para respirar normalmente, ou mesmo sofrer de apneia do sono e problemas de oxigenação. Algumas pesquisas sobre os efeitos da obesidade na gripe sugerem que esse fator de risco pode prolongar o tempo que os vírus permanecem em nossos corpos, dificultando o combate à doença. A obesidade geralmente está por trás de muitas das condições pré-existentes que foram definidas como de alto risco para a possível disseminação do coronavírus. Assim, é um fator de risco conhecido para o desenvolvimento de hipertensão e doenças cardiovasculares. Ao mesmo tempo, alguns estudos sugerem que pessoas obesas têm três vezes mais risco de ter diabetes.
Pandemia no Brasil – Segundo um levantamento recente do Ministério da Saúde (pesquisa VIGITEL-2019), um em cada cinco brasileiros (19,8%) é obeso. Além disso, mais da metade da população (55,7%) tem excesso de peso. De acordo com o último Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde, divulgado nesta quinta- feira (16 de abril), sobre covid-19, oito em cada dez brasileiros (78%) que morreram da doença apresentavam pelo menos um fator de risco associado. A obesidade, por si só, não foi o principal fator de risco para pacientes acima de 60 anos – grupo que compõe a maioria dos mortos -, embora apareça na lista de comorbidades. Mas doenças normalmente resultantes dela, sim. Cardiopatias foram, por exemplo, a condição mais prevalente ligada às mortes investigadas entre aqueles que tinham mais de 60 anos (81% do total de mortos). Nessa mesma faixa etária, em segundo lugar vêm os diabéticos, seguido por quadros de pneumopatia e doenças neurológicas. Entre os mais jovens, as comorbidades mais predominantes foram, nessa ordem: diabetes, cardiopatia e obesidade.
Exercitar-se regularmente é uma das melhores formas de combater obesidade – A orientação das autoridades é que essas pessoas sigam uma dieta que contribua para aumentar suas defesas e tentar ser ativas em casa, exercitando-se por pelo menos 1h por dia. E tomar todos os cuidados recomendados de segurança contra a contaminação, como o isolamento social e o uso de máscaras.
“O diabético deve prestar mais atenção à sua dieta e seu nível de glicose, o hipertenso precisa estar alerta à sua pressão arterial e diminuir a ingestão de sal. E o paciente obeso deve começar a se conscientizar fazendo atividades físicas, a comer com mais qualidade nutricional e aumentar os cuidados consigo mesmo”, afirma Marchesini. “Temos cada vez mais oferta de alimentos altamente calóricos, de baixo custo e pouca ou nenhuma qualidade nutricional. Além disso, nosso organismo foi feito para o movimento e estamos cada vez nos exercitando menos”, acrescenta o especialista.
“Com tudo isso que está acontecendo, acredito que as pessoas vão aprender a mudar alguns hábitos e a tomar decisões importantes para melhorar a saúde. E que tudo passe logo, é o que todos queremos”, conclui Marchesini.