Marca de moda social produzida com tecido africano tem parte do lucro destinado a países do continente

30% do que é recebido com a venda das peças Usoma é destinado para capacitação em moda de homens e mulheres na região do Dondo, entre outras.

Apesar da discussão socioeconômica que toma conta de muitos países, inclusive o Brasil, outras nacionalidades ainda enfrentam problemas centenários mais alarmantes, como a pobreza extrema. Na visão de alguns jovens, a atitude de uma única pessoa pode propagar a esperança em comunidades que se veem, muitas vezes, isoladas de processos evolutivos.

Com a diversidade de cores e tecidos típicos, a Usoma, uma marca de moda social, trabalha com esse objetivo de criar possibilidades de mudança para quebrar o ciclo de pobreza de diversos países por meio da capacitação e transmissão do conhecimento. Assim, as roupas da Usoma são feitas com tecidos africanos e 30% do lucro gerado é voltado para a criação e desenvolvimento de projetos de capacitação em moda e empreendedorismo em regiões como: Dondo, em Moçambique e Bié, em Angola.

“Acreditamos que essa é a forma que temos para ajudar a quebrar o ciclo da pobreza que toma conta de muitos países. No futuro, queremos abrir para outros continentes, outras culturas, usando seus tecidos típicos em nossas roupas e podendo levar recursos para eles”, afirma Gabriela Ramos, sócia fundadora e diretora criativa da marca.

Usoma, em Umbundo, dialeto angolano, significa Reino. Para os fundadores da marca, Gabriela Ramos (diretora criativa), Gabriel Chiarastelli (fotógrafo) e Amanda Farias (diretora artística), existe algo maior – o reino – que pode mudar as pessoas e levar esperança a diversos povos de que existe alguém que pensa no próximo. Assim, os interessados que comprarem uma peça se tornam Usoma, como um propagador da ideia.

Voluntária em projetos missionários na África há 4 anos, Gabriela Ramos, a idealizadora da Usoma, cresceu no meio da moda, em ateliês de costura e sempre teve muitas ideias de confecção têxtil. Contudo, o propósito de pegar tecidos típicos de países que vivem em pobreza extrema dando um novo estilo para eles e usando isso para ajudá-los foi o que lhe motivou a fundar a marca.

 Gabriela Ramos – sócia fundadora e diretora criativa da marca

Diferenciais do tecido africano

As peças de roupa vendidas apresentam diferenciais além da missão social. O estilo da marca carrega estampas de capulanas, respeito à cultura do continente africano, cortes específicos e a criação de peças exclusivas aos usuários. Os interessados podem adquirir jaquetas, casacos e blazers no site www.usoma.com.br ou no Instagram @usoma.oficial, os produtos são enviados para todo o Brasil. Na cidade de São Paulo, é possível encontrar a Usoma no Afropolitan Station, uma loja colaborativa de cultura afro, no Centro da capital paulista (Rua Rêgo Freitas, 530). As peças ficam disponíveis para venda também em feiras que acontecem no decorrer do ano, as datas são divulgadas nas redes sociais do projeto.

Os tecidos africanos são comercializados com uma goma, que traz uma textura mais brilhosa e dureza ao pano. Porém, quando o material é lavado, a goma sai naturalmente. Nesse sentido, o diferencial da Usoma é que essa goma é retirada antes da produção das peças, o que garante que a textura da roupa do cliente não sofra alterações após a lavagem e gerando o caimento correto do tecido.

Alguns produtos são exclusivos e outros são confeccionados em quantidade limitada. Todas as peças produzidas são disponibilizadas no site (usoma.com.br). “Às vezes as pessoas acham que temos poucos produtos, mas é porque eles são total ou quase exclusivos e acabam logo”, explica Gabriela.

Os fundadores destacam, também, que a marca é produzida por e para pessoas negras, brancas e de todas as religiões e crenças. A ideia é divulgar a beleza dos tecidos africanos e, consequentemente, conseguir capacitar homens e mulheres para que eles tenham condições de crescimento através das próprias ações.

Ou seja, o objetivo deles é compartilhar conhecimento com as comunidades mais pobres da África – e futuramente de outras nacionalidades -, o que traz mais do que soluções momentâneas, como a doação de alimentos e ajudas financeiras pontuais, mas vai gerar ferramentas para que eles cresçam com seus talentos e trabalhos próprios.

Em média, um costureiro consegue ganhar R$7 por peça de roupa. Nossa ideia é ensinar a costura com capulana para quem ainda não sabe, trazendo novos modelos e opções de roupas. Junto a isso, queremos gerar novas visões de negócio para que seus salários aumentem e novos recursos e possibilidades apareçam pra romperem com a pobreza e cultura de miséria, ainda muito frequente em sociedades que estão em crescimento e ressurgimento”, explica Ramos.

Divulgação e conhecimento da marca

A cantora e compositora Lorena Chaves, de “Envelhecer Com Você” e “Por Onde For”, adquiriu uma jaqueta da Usoma como uma forma de ajudar o projeto e apoiar a causa. Assim que conheceu os fundadores, ela ficou encantada com o trabalho de inclusão e busca por igualdade da marca.

Eu conheci o pessoal da Usoma em um evento e meus amigos que me apresentaram. O que me chamou atenção foi o projeto que eles apoiam e, também, as cores das peças, com umas estampas bem diferentes das que a gente vê normalmenteEu quis adquirir uma peça porque eu queria ajudar de alguma forma. Eu achei muito legal e a porcentagem que eles repassam é alta, 30% é bastante coisa, diferentemente de outras marcas que falam só ‘parte disso vai para tal lugar’. E eu decidi que queria contribuir e acabei escolhendo uma jaqueta”, disse a cantora.


Lorena Chaves usando jaqueta da marca Usoma

 

Outros projetos de inclusão

No início de 2019, após a passagem do ciclone Idai em Moçambique, os fundadores da Usoma iniciaram um projeto para ajudar as famílias que estavam desabrigadas. De acordo com o Instituto de Gestão de Situações de Emergência (INGC) do país, 3.300 casas ficaram parcial ou completamente destruídas, e cerca de 18 mil pessoas encontraram refúgio em abrigos de emergência.

Um de nossos fundadores e fotógrafo, Gabriel Chiarastelli, havia ido para Moçambique em 2016 pra fazer fotos para um livro, que ainda está em produção. Então, como solução imediata, os missionários utilizaram algumas fotos, que Gabriel havia feito por conta própria do cotidiano dos moçambicanos, e criaram o projeto “Devolva o sorriso para Moçambique”. Foram produzidos quadros com as fotos, em parceria com a empresa Coragem pra Tudo, e 100% do lucro arrecadado com a venda desses produtos foi destinado para construir casas de famílias desabrigadas.

Ao término da campanha, foi arrecadado cerca de R$9 mil. Com o valor, iniciaram a construção de quatro casas no padrão da região de Beira/Dondo, além da compra de chapas e portas para 12 casas que já estavam em processo de construção e mais materiais para que fosse possível reiniciar as plantações que foram perdidas com o ciclone.

Outra ação que conta com Gabriela Ramos, Gabriel Chiarastelli e Amanda Farias, é em prol do projeto Aldeia Nissi, da Cia de Artes Nissi, no Brasil. Aldeia Nissi é uma escola de ensino infantil e fundamental, localizada no Bié, em Angola, que possui mais de 1.300 estudantes. Todas as crianças e jovens são alimentados diariamente com os recursos gerados de trabalhos de diversos missionários e artistas espalhados pelo mundo, entre eles os fundadores da Usoma. A Aldeia Nissi é um lugar em que a Usoma pretende implantar seu projeto de capacitação em moda e empreendedorismo, desenvolvendo uma produção de moda no local.

“A ideia é criar parcerias com projetos locais, que já capacitam pessoas para a costura, e ensinar novas modelagens para os nativos produzirem peças da nova coleção para trazer ao Brasil e dar andamento ao propósito de mudar vidas” – explica a fundadora.

A missão da Usoma é gerar recursos possíveis e reais para projetos missionários de capacitação em lugares esquecidos nos países de onde os tecidos vêm. Adicionalmente, criar escolas que capacitam pessoas para o mercado da moda, tanto na confecção quanto no empreendedorismo e proporcionar recursos para que possam continuar a produção diariamente. Assim, superar a pobreza com a geração de empregos, novas perspectivas de vida, possibilidades de mudança de mente e condição social.

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