Enchentes no Brasil: o aumento da leptospirose e os desafios do saneamento urbano

Como as mudanças climáticas e a urbanização desordenada elevam o risco de surtos da doença e o que pode ser feito para proteger a população

As mudanças climáticas e a urbanização desordenada têm intensificado os alagamentos em diversas cidades brasileiras. Os desastres provocados pelas chuvas no Brasil mais que triplicaram nas últimas décadas, na década de 1990, foram registrados 2.335 eventos; já entre 2020 e 2023, esse número saltou para 7.539. Os prejuízos econômicos também impressionam: R$ 132 bilhões entre 2020 e 2024, o que representa um aumento de 123 vezes em relação aos anos 1990. Esses dados fazem parte da série “Brasil em Transformação”, publicada pela Aliança Brasileira pela Cultura Oceânica. A população enfrenta não apenas prejuízos materiais, mas também graves riscos à saúde. Entre eles, a leptospirose se destaca como uma ameaça silenciosa, capaz de provocar surtos epidêmicos e complicações fatais.

Dados sobre a leptospirose em 2025 são preliminares, mas indicam aumento de casos graves e óbitos em algumas cidades, como Curitiba, onde 30 casos e 6 mortes foram registrados nos primeiros meses, com 20% de letalidade. Causada pela bactéria Leptospira, essa doença é transmitida principalmente pela urina de roedores contaminados, que se mistura à água das enchentes. Assim, qualquer contato com essas águas pode expor as pessoas ao risco de infecção. O problema é agravado pela falta de saneamento adequado, pelo acúmulo de lixo e pela insuficiência de drenagem urbana, que criam um ambiente propício para a proliferação de ratos e para a estagnação da água contaminada.

Os sintomas da leptospirose podem ser inespecíficos nos estágios iniciais, como febre, dor muscular e mal-estar, o que frequentemente leva a diagnósticos tardios. Nos casos graves, a doença pode evoluir para insuficiência renal, hemorragia pulmonar e até óbito. Diante disso, o acesso rápido ao diagnóstico e ao tratamento é essencial para reduzir a letalidade da infecção.

Prevenir surtos de leptospirose exige um esforço coletivo. Governos devem investir em infraestrutura urbana, melhorando o escoamento pluvial e garantindo o saneamento básico. A população, por sua vez, precisa estar atenta a medidas individuais de proteção, como evitar contato direto com água de enchentes, usar botas e luvas quando necessário e procurar assistência médica ao primeiro sinal de sintomas.

Enfrentar as consequências dos alagamentos não se limita a drenar a água das ruas ou reconstruir patrimônios perdidos. É preciso combater a raiz do problema: a negligência com o planejamento urbano e a saúde pública. Enquanto o Brasil continuar convivendo com enxurradas e enchentes sem estratégias eficazes de prevenção, o fantasma da leptospirose seguirá assombrando nossas cidades.

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Por Ana Paula Weinfurter Lima Coimbra de Oliveira

mestre em Ciências Farmacêuticas, coordenadora de cursos da área da saúde no Centro Universitário Internacional – UNINTER

Artigo de opinião

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