Sênior Living no Brasil: Desafios e Perspectivas para o Morar 55+

Por que o conceito escandinavo de moradia para pessoas maduras ainda é pouco compreendido e aplicado no mercado brasileiro

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O tal do Sênior Living, ou o morar 55+, virou uma febre nos últimos tempos. Temos grandes players do mercado apostando nessa fatia que é próspera e crescente. Mas o Sênior Living de verdade, moldado pelas vivências muito mais longevas de países do norte da Europa, está longe de ser o que é vendido hoje, no Brasil e eu te mostro o porquê.

Depois de uma longa jornada pelo mercado imobiliário brasileiro, no qual eu transitei por várias frentes e passei por grandes nomes, como Abyara e Tecnisa, na incorporação, e na Brognoli, na venda, fui trabalhar em Dubai, para a BRIC Group como Diretora de Incorporação. Minha trajetória internacional se completou com cargos de direção na Electrolux AB. E por que eu estou te contando isso?

Bem, trabalhar aqui no Brasil me deu a desenvoltura necessária para entender como o brasileiro mora e como se projeta, e se comercializa, a habitação aqui. Mas foi com a expertise internacional e trabalhando mais especificamente na Suécia que eu entendi o papel dos projetos imobiliários na construção de uma sociedade longeva e saudável e posso dizer com todas as letras: não é o que estamos comercializando aqui.

Pra começar, Sênior Living, nos países escandinavos, se refere a uma fatia apenas desse mercado do morar 55+, o primeiro de três níveis, que mundialmente ficou conhecido como Independent Living. Veja:

Independent Living: autonomia total das atividades diárias, com planejamento e atividades pensadas para um público maduro, 55+, mas sem supervisão ou serviços médicos.

Assisted Living Memory Care: autonomia parcial das atividades diárias, com serviços médicos e terapêuticos em parte do tempo e apartamentos com adaptação ainda maior para acolher as necessidades de mobilidade dos moradores.

Nursing Home: pouca ou nenhuma autonomia das atividades diárias e condomínios totalmente preparados para receber quem precisa de cuidados 24h.

E como funciona o Sênior Living, hoje, aqui no Brasil? Basicamente, uma mistura de tudo, com ênfase no nível 2, pensado para pessoas que já precisam de assistência e têm autonomia apenas parcial. Ou, no caso de alguns empreendimentos mais recentes, misturam moradia para 55+ e apartamentos para um público mais jovem, surfando a onda do amadurecimento do mercado mas sem abrir mão do que já dá certo.

A própria questão da longevidade e das nomenclaturas desse mercado ainda está em um momento de adaptação. Esses dias, na minha rede social, chamaram a minha atenção sobre a expressão “jovem de 60 anos”, usada para designar pessoas 60+ que não se consideram “velhos”, que continuam ativos, que não sentem uma grande diferença no seu estilo de vida a não ser a vontade de viver experiências e aproveitar mais a vida, ser uma forma de etarismo.

Enquanto estivermos presos a preciosismos, não vamos olhar para o que realmente interessa: Sênior Living é, na verdade, a compreensão de que existe uma população ativa, saudável, com sede de viver e que está cansada de ser tratada ou como adolescente ou como idoso. Como se as únicas soluções possíveis fossem a “balada” ou o “asilo”. Essa faixa da população, nosso jovem de 60 anos, está amadurecida, mas ainda com vontade de viver experiências, aprender novas habilidades, usar seu corpo de forma livre e viver em um ambiente em que os seus gostos e necessidades são contemplados.

Se o Brasil não acordar, vai demorar muito pra entender o que os países escandinavos já sabem: o Sênior Living é mais do que tendência, não é uma onda que vai passar, é uma necessidade urgente de adaptação de um mercado que, hoje, só olha para os jovens que precisam de um bom lugar para morar perto do trabalho, recém casados rumo ao primeiro imóvel ou à família que cresceu por causa da chegada de mais um filho.

A solução é um planejamento apurado de projetos em parceria com incorporadoras que abracem esse público de mais idade e preserve sua autonomia, mas ofereça mais do que eles têm hoje. Afinal de contas, quem trabalhou a vida inteira e juntou patrimônio agora merece morar bem, ter serviços de alta qualidade à sua disposição e viver a sua ainda juventude, em pleno envelhecimento. Por que não?

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Por Daline Hällbom

CEO da Söderhem; mais de 17 anos de mercado imobiliário; experiência internacional em Dubai e Suécia; cargos de direção na Electrolux AB; trajetória em empresas como Abyara, Tecnisa e Brognoli

Artigo de opinião

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