Inteligência Artificial na Saúde: Reduzindo Burocracia e Colocando o Paciente em Primeiro Lugar

Como a IA está transformando hospitais e clínicas, otimizando processos e humanizando o atendimento médico

Nos últimos anos, a inteligência artificial (IA) deixou de ser um tema de pesquisa para se tornar parte da rotina de hospitais, clínicas e operadoras de saúde. Hoje, algoritmos já ajudam a acelerar diagnósticos, prever agravamentos clínicos e organizar filas de atendimento — impactando tanto o SUS quanto a saúde suplementar. Ainda assim, persistem dúvidas e mitos, especialmente o receio de que a IA substitua médicos ou desumanize o cuidado. A experiência prática, no entanto, mostra o contrário: quando bem implementada, a IA simplifica processos, evita a repetição de exames e libera mais tempo para que profissionais se dediquem ao que realmente importa: o paciente.

Em 2025, diversos estudos e experiências conhecidas da literatura médica reforçam esse cenário. Uma meta-análise realizada a partir de artigos clínicos, por exemplo, demonstrou que sistemas de alerta precoce baseados em IA são capazes de identificar agravamentos clínicos com mais precisão e antecedência do que métodos tradicionais, permitindo intervenções rápidas e melhor uso de recursos hospitalares. Na radiologia, hospitais brasileiros que aplicam IA em raios-X de tórax relatam reduções expressivas no tempo de entrega de resultados e ganhos importantes de eficiência ao priorizar automaticamente casos críticos, como suspeitas de pneumotórax ou consolidações extensas, deixando exames normais para posterior leitura do especialista. Essa lógica não substitui o radiologista, mas garante que o paciente em situação grave seja atendido primeiro.

Outro avanço importante deste ano é a integração da saúde suplementar ao SUS por meio da Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS). Desde agosto estão incorporando registros de atendimentos dos últimos cinco anos, e a partir de outubro a transferência será automática. Isso significa que informações de exames e condutas médicas estarão disponíveis de forma interoperável, reduzindo a duplicidade de solicitações e fortalecendo a continuidade do cuidado. Essa mudança responde a um dos maiores gargalos do sistema: a fragmentação de dados que obriga o paciente a ser o “mensageiro” da própria história clínica, carregando resultados em papel de um serviço para outro.

O problema das filas também tem recebido atenção. Uma pesquisa do Instituto Locomotiva, publicada em fevereiro de 2025, mostrou que 60% dos brasileiros consideram muito longo o tempo de espera para consultas com especialistas e 56% relatam demora para realização de exames. Modelos de IA aplicados à regulação e ao agendamento oferecem uma alternativa real, transformando filas organizadas por ordem de chegada em filas que consideram gravidade e necessidade clínica, priorizando os casos mais urgentes. Essa racionalização impacta diretamente a experiência do paciente, evitando agravamentos e reduzindo a sensação de abandono no sistema.

Não se trata apenas de diagnósticos mais rápidos ou gestão de filas. A IA também tem potencial de aliviar a burocracia. O NHS (National Health Service), no Reino Unido, iniciou em agosto de 2025 projetos-piloto que usam IA para automatizar a elaboração de resumos de alta hospitalar, o que libera leitos mais rapidamente e devolve aos médicos e enfermeiros horas antes gastas com preenchimento de formulários. Esses exemplos mostram como a automação de tarefas administrativas pode se refletir em benefícios clínicos, agilizando fluxos e dando mais tempo para a equipe cuidar diretamente do paciente.

Com isso, é importante desfazer mitos. A IA não substitui o médico: ela apoia a decisão clínica, ao passo que mantém a relação de confiança com o paciente. Além disso, evita a solicitação de exames desnecessários ao integrar dados. Modelos de IA também não são caixas-pretas incontroláveis: existem riscos de viés e falhas, mas esses podem ser mitigados com governança, auditoria e protocolos de segurança. No Brasil, o Conselho Federal de Medicina discute em 2025 uma resolução específica para balizar responsabilidades e a Autoridade Nacional de Proteção de Dados colocou informações de saúde entre as prioridades da sua agenda regulatória para 2025–2026, reforçando os cuidados com transparência, privacidade e uso ético de dados sensíveis.

Na prática diária, a transformação é visível. Em pronto-socorro e enfermarias, na execução de exames de imagem, nos fluxos de regulação e também no que tange à gestão administrativa. Humanizar a jornada, nesse contexto, não é colocar robôs no consultório, mas otimizar processos e extrair o melhor que a tecnologia pode oferecer para que o tempo da equipe médica seja dedicado ao paciente. Com avanços em interoperabilidade, evidências consistentes de predição clínica e pilotos que já mostram ganhos concretos, 2025 marca um ponto de virada: a tecnologia começa a transformar filas e esquecimentos em cuidado contínuo, seguro e centrado na pessoa. O desafio, agora, é assegurar que a implementação seja ética, responsável e guiada pelas necessidades clínicas — para que a inteligência artificial não desumanize, mas devolva humanidade à saúde.

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Por André Castilla

médico radiologista, com doutorado em Inteligência Artificial pela USP, Chief Medical Officer e cofundador da NeuralMed

Artigo de opinião

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