Hiperconexão Infantil: Desafios e Estratégias para um Uso Saudável das Telas
Como pais e responsáveis podem enfrentar o vício digital e promover o equilíbrio entre tecnologia e convivência familiar
Especialistas do comportamento humano estão preocupados e têm se dedicado a estudos e pesquisas sobre os impactos do uso contínuo e exagerado das telas, seja do celular, tablet ou videogame, no desenvolvimento das crianças. Neurocientistas alertam sobre os efeitos prolongados do tempo de exposição a esses aparelhos digitais, e destacam que a exposição abusiva à internet pode reprogramar a forma como o nosso cérebro funciona.
Ao serem expostas às telas, ocorre no organismo a liberação de dopamina, a famosa substância responsável pela sensação de prazer, que estimula o sistema de recompensa do cérebro. Esses efeitos são comparáveis aos causados pelo consumo de drogas em indivíduos dependentes. Os vícios decorrentes dessas práticas estão associados a mudanças funcionais e estruturais no cérebro, afetando o processamento emocional, a atenção executiva, a tomada de decisões e o controle cognitivo.
Imersos em distração excessiva, os usuários têm dificuldade em mensurar o tempo gasto com o aparelho. Nesse cenário, surgiu um fenômeno que vem chamando atenção: o vício específico em celular e a chamada “nomofobia”, termo que descreve o mal-estar ou a ansiedade sentida por indivíduos quando estão sem o celular por perto.
Infelizmente, muitos pais percebem o problema apenas quando seus filhos já estão completamente dependentes, negligenciando inclusive cuidados básicos como higiene e alimentação. Não são incomuns os casos em que o tempo de conexão digital substitui o tempo de interação social, sinal de alerta de que atitudes rápidas e firmes precisam ser tomadas. Em vez de se relacionar com amigos e familiares presencialmente, a criança ou o jovem passa a preferir o isolamento no mundo digital.
Se houver um descontrole já instalado, é necessário tomar as rédeas e impor limites claros e precisos. Quando a obsessão parecer fora de controle, é a hora de retirar os aparelhos do alcance do indivíduo, ao menos enquanto não houver um adulto por perto para supervisionar o tempo e o conteúdo acessado.
Sabemos, no entanto, que a proibição e retirada do aparelho nem sempre é uma opção viável, já que até tarefas escolares exigem o uso da internet. Independentemente da abordagem adotada, é fundamental manter-se firme e coerente com a decisão. No início, a resistência será grande, mas o tempo trará resultados. Não se sinta culpado, mantenha-se firme e não aceite provocações. Você é o adulto da relação.
Crises de choro e até birras são reações comuns quando se retira algo que estava fora de controle. E tudo bem se isso acontecer. O mais importante é que a família, pais ou responsáveis foram capazes de identificar a necessidade de mudar algo que antes passava despercebido – a tempo de não deixar para lidar com a questão tarde demais, quando as intervenções só seriam possíveis com a ajuda de um profissional da saúde.
Para substituir a “abstinência” das telas, programas em família são excelentes aliados, que também ajudam a resgatar o prazer da convivência, além de serem uma forma de demonstrar o quanto o bem-estar das crianças é importante. Planeje a inclusão de atividades físicas na rotina dos seus filhos. A sensação de bem-estar proporcionada pelos exercícios ajudará a compensar a abstinência do uso de telas e videogames.
Não existe uma fórmula única para afastar crianças e jovens das telas. Cada caso é um caso, e cada ser humano é único. Por isso, cada família deve avaliar o que é ou não possível dentro da sua realidade. Com tempo limitado e supervisão adequada, será possível acalmar a ansiedade e reduzir a compulsão por conexão da criança.
Por Ana Claudia Favano
Psicóloga; pedagoga; educadora parental pela Positive Discipline Association/PDA, dos Estados Unidos; certificada em Strength Coach pela Gallup; especialista em Psicologia da Moralidade, Psicologia Positiva, Ciência do Bem-Estar e Autorrealização, Educação Emocional Positiva e Convivência Ética; gestora da Escola Internacional de Alphaville
Artigo de opinião