O Impacto do “Efeito Ozempic” no Varejo Alimentar: Preparando-se para a Nova Lógica de Consumo

Como as mudanças no comportamento dos consumidores impulsionadas por medicamentos emagrecedores estão transformando as estratégias do varejo supermercadista

Nos últimos anos, poucas tendências tiveram um impacto tão direto no comportamento de consumo quanto o chamado “efeito Ozempic”. As canetas injetáveis à base de GLP-1 foram inicialmente pensadas para questões como o tratamento de diabetes e, posteriormente, obesidade, mas rapidamente começaram a ser usadas para fins estéticos. No entanto, agora estamos vendo essa transformação chegar também a outros setores, como o varejo alimentar.

Consumidores que antes buscavam indulgência em snacks calóricos e ultraprocessados estão mudando suas escolhas. Hoje, milhares de shoppers passaram a priorizar alternativas mais saudáveis e que vão ao encontro dessa tendência global. Shakes proteicos, opções com menos açúcar e refeições low carb são apenas alguns exemplos das preferências dessa nova realidade.

Obviamente, o Ozempic não é o único responsável por esses movimentos. Contudo, é impossível desassociar esse tipo de medicamento e a sua rápida ascensão do que enxergamos no varejo neste momento.

Um estudo da Universidade de Cornell, em Nova York, é certeiro ao demonstrar essa relação no carrinho de compras moderno. De acordo com a pesquisa, famílias com pelo menos um usuário de GLP-1 reduziram em até 9% os gastos no supermercado, com destaque para uma queda de 11% em salgadinhos. Outro levantamento, desta vez da norte-americana Morgan Stanley, revelou que mais de 60% dos consumidores que utilizam Ozempic ou similares diminuíram ou eliminaram por completo o consumo de doces e sorvetes.

Foco no consumidor
É um fato que os varejistas e marcas que quiserem ser competitivos vão precisar se adaptar a um mundo totalmente impactado pelas “canetas emagrecedoras”. Isso não significa que mercados tradicionais vão deixar de ser relevantes, mas, a partir do momento que gigantes como Danone e Nestlé já olham com atenção para esses novos hábitos de consumo, é certo dizer que ficar estagnado é o mesmo que retroceder.

Antes de mais nada, é importante que os varejistas entendam que, mais do que direcionar todos os esforços para a categoria de produtos em si, o diferencial está em compreender o comportamento do consumidor e acompanhá-lo enquanto muda em tempo real. Para isso, a ciência do consumo, com dados, IA, CRM e análise preditiva, torna-se essencial para identificar padrões, antecipar necessidades e direcionar o sortimento.

A forma como os produtos são oferecidos importa ainda mais. Merchandising estratégico, clusters de consumo bem definidos e gôndolas estendidas são caminhos que ajudam a transformar abundância de escolha em clareza para o shopper.

Nesse contexto, não há espaço para campanhas de marketing com narrativas genéricas. Reforçar atributos como performance, bem-estar e confiança científica, por exemplo, tendem a ser cada vez mais importantes para a tomada de decisão dos consumidores da era do Ozempic. Marcas que conseguirem traduzir essa mudança em histórias autênticas terão mais chances de se consolidar e fidelizar o cliente em meio a tantas ofertas.

Perspectivas futuras
Nos próximos meses, tudo aponta para a potencialização do que estamos vendo agora. No Brasil, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) já aprovou a exigência de retenção de receita médica para a venda de medicamentos à base de GLP-1. Por outro lado, a partir de março de 2026, o Ozempic perderá a patente de exclusividade no país, o que garante a produção de genéricos. Isso deve diminuir o preço da categoria e, potencialmente, aumentar o uso, já que o alto valor ainda é um obstáculo para muitas pessoas.

Globalmente, o impacto para o mercado também é iminente: um estudo da Morningstar estima que os medicamentos desse tipo, que já movimentam US$ 50 bilhões atualmente, alcancem a marca de US$ 200 bilhões até 2031.

Em outras palavras, a transformação do comportamento alimentar em massa não dá sinais de que vai parar. Para o varejo, isso significa atuar de forma ativa, antecipando mudanças de hábito em vez de apenas reagir a elas.

O futuro indica que saúde, funcionalidade e propósito se estabelecerão como novos pilares para muitas decisões de compra. Vencerá quem conseguir traduzir esses valores em decisões estratégicas, inteligentes e embasadas.

F

Por Fernando Gibotti

VP de Varejo e Indústria da Rock Encantech, primeira encantech do varejo brasileiro e referência em soluções para engajamento de clientes na América Latina

Artigo de opinião

👁️ 59 visualizações
🐦 Twitter 📘 Facebook 💼 LinkedIn
compartilhamentos

Comece a digitar e pressione o Enter para buscar

Comece a digitar e pressione o Enter para buscar