Desvendando os Mitos da Carne Bovina: Ciência e Saúde em Debate
Por que a carne continua essencial para a nutrição e o desenvolvimento humano, apesar das tendências veganas
Informações deturpadas e sem base científica sobre o consumo de carne circulam livremente na internet. Essa desinformação pode comprometer a saúde e o desenvolvimento das crianças.
Uma pesquisa recente do Datafolha, encomendada pela Sociedade Vegetariana Brasileira, chamou atenção ao afirmar que 7% dos brasileiros se consideram veganos e que 74% estariam dispostos a reduzir o consumo de carne por motivos de saúde. Mas será que esses números refletem o comportamento alimentar real do brasileiro?
O consumo de carne segue alto no Brasil e, mais do que isso, ainda é central para a saúde da população. O problema é que o debate sobre alimentação está cada vez mais tomado por desinformações e radicalismos que não se sustentam nem do ponto de vista da ciência, nem na prática clínica.
É justamente para trazer mais equilíbrio a esse debate que nasceu o movimento “A carne do futuro é animal”, criado por mais de 70 pecuaristas do Mato Grosso, organizados no Canivete Pool. Além de promover uma pecuária de baixo carbono e com rastreabilidade completa, o grupo agora se mobiliza para esclarecer mitos alimentares que vêm afastando a população da carne, muitas vezes sem base técnica.
Abaixo, reunimos cinco dos principais mitos sobre a carne que circulam nas redes sociais e os argumentos que os desconstroem:
1. “O brasileiro está diminuindo o consumo de carne”
A carne é uma das fontes mais completas de nutrientes da alimentação humana, com alto valor biológico. É praticamente impossível manter bons níveis de ferro, vitamina B12, creatina e carnitina sem alimentos de origem animal. Esses nutrientes são essenciais para o cérebro, o sistema imunológico e a prevenção de distúrbios metabólicos.
2. “O brasileiro está diminuindo o consumo de carne”
Apesar da pesquisa da SVB/Datafolha, o Brasil segue entre os maiores consumidores de carne do mundo, com uma média superior a 100 quilos por habitante, por ano. Segundo dados da FAO (ONU), o consumo per capita no país se mantém estável, com pequenas variações motivadas por preço, não por comportamento ideológico. A carne ainda é símbolo de nutrição e prazer para a maioria da população. O que falta é informação de qualidade para tirar a culpa do prato.
3. “Dá para ter uma dieta saudável sem carne, em qualquer fase da vida”
Embora dietas vegetarianas bem orientadas possam ser viáveis para adultos, elas exigem suplementação rigorosa. Na infância, na gestação e na terceira idade, o risco de deficiência de ferro, vitamina B12 e outros micronutrientes é real. Inclusive, a Organização Mundial da Saúde recomenda alimentos de origem animal a partir dos seis meses de vida.
4. “A carne apodrece no intestino e causa inflamação”
Esse argumento ainda circula em redes sociais, mas não encontra respaldo na fisiologia humana. Temos um estômago com pH ácido justamente para digerir carne de forma eficiente. A carne não apodrece; ela é digerida, absorvida e contribui para a formação de proteínas estruturais do corpo. Já os alimentos ultraprocessados e ricos em açúcares são os principais responsáveis pela inflamação sistêmica.
5. “A carne de laboratório é o futuro da alimentação”
Embora promissora, a carne cultivada ainda enfrenta desafios como alto consumo energético, emissão de carbono maior que a pecuária regenerativa e incertezas nutricionais. O modelo de produção com pasto, integração lavoura-pecuária e manejo bem feito, como o que praticamos no Brasil, é hoje uma das formas mais sustentáveis do mundo de produzir proteína animal.
Existe um esforço sistemático em demonizar a carne e transformar o consumo em uma questão de culpa, ignorando décadas de evolução biológica e evidência clínica.
O consumo regular de carne está diretamente relacionado à melhora de quadros como depressão, obesidade, distúrbios metabólicos e até transtornos autoimunes.
Sem carne, não há como garantir um bom aporte de ferro, vitamina B12, creatina, carnitina e outros nutrientes essenciais. Pacientes veganos que não fazem suplementação adequada frequentemente apresentam sintomas como anemia, fadiga crônica e perda de desempenho cognitivo.
A diversidade alimentar é válida, mas sem orientação médica e suplementação rigorosa, dietas restritivas podem comprometer a saúde, especialmente na infância.
Vitaminas como B12, ferro-heme, ômega 3 e tipos biodisponíveis de vitamina A são praticamente exclusivos dos alimentos de origem animal. Isso tem impacto direto no desenvolvimento neurológico e cognitivo.
Por Juan Pablo Roig Albuquerque
médico, especialista em psiquiatria metabólica, membro do movimento "A carne do futuro é animal"
Artigo de opinião