Transparência e Ética no Uso de Dados Pessoais: O Desafio das Empresas na Era Digital

Como o acesso à informação e a proteção de dados moldam a confiança do consumidor diante da personalização e da inteligência artificial

Em um cenário onde 90% dos consumidores brasileiros consideram a proteção de dados pessoais um dos fatores mais importantes para confiar em uma empresa, o Dia Internacional do Acesso Universal à Informação, celebrado em 28 de setembro, levanta questões cruciais sobre como as organizações utilizam essas informações para influenciar decisões de compra. A data, estabelecida pela UNESCO, ganha relevância especial no contexto digital atual, onde a linha entre informar e manipular se torna cada vez mais tênue.

Dados recentes revelam que apenas 20% das empresas brasileiras estão completamente adequadas às normas de privacidade, enquanto 74% dos consumidores se sentem influenciados por conteúdos divulgados nas redes sociais. Esse paradoxo evidencia que, embora os consumidores valorizem a proteção de seus dados, muitas empresas ainda não cumprem integralmente as exigências legais. A Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) intensificou a fiscalização em 2024, aumentando o número de autuações, como no caso emblemático da exposição de dados sensíveis de beneficiários do INSS, com mais de 90 milhões de consultas sem justificativa operacional.

Vivemos uma era em que o acesso à informação sobre produtos e serviços nunca foi tão amplo, mas, paradoxalmente, os consumidores estão mais vulneráveis à manipulação. As empresas contam com tecnologias sofisticadas para mapear comportamentos, preferências e até estados emocionais em tempo real, e o uso desses indicadores deve ser feito de forma responsável. O desafio está em garantir que essas informações atendam genuinamente às necessidades do consumidor, e não sejam usadas para explorar vulnerabilidades psicológicas. Quando uma empresa cria urgência artificial ou explora inseguranças pessoais, ultrapassa a linha entre marketing inteligente e manipulação predatória.

A crescente utilização da inteligência artificial (IA) para análise comportamental amplia ainda mais essa preocupação. Algoritmos avançados podem prever com precisão não apenas o que o consumidor vai comprar, mas também quando estará mais propenso a fazê-lo. Assim, o acesso à informação hoje não se limita a saber quais dados são coletados, mas envolve compreender como esses dados são processados, correlacionados e transformados em estratégias de influência. A transparência algorítmica deveria ser um direito fundamental do consumidor na era digital.

No contexto do Dia Internacional do Acesso Universal à Informação, especialistas recomendam que os consumidores adotem práticas para proteger seus dados pessoais, como ler políticas de privacidade, questionar o uso das informações, utilizar ferramentas de controle de cookies, reportar práticas suspeitas, entender os termos de uso, usar autenticação em dois fatores, monitorar vazamentos de dados, revisar permissões de aplicativos e preferir empresas que adotam selos de conformidade.

O desafio que se impõe vai além da tecnologia: trata-se de um compromisso ético entre empresas, governo e sociedade. A informação pode empoderar o consumidor, mas seu mau uso compromete a autonomia de escolha e corrói a confiança. Em um mundo orientado por dados e algoritmos, garantir transparência, responsabilidade e educação digital não é apenas uma questão de conformidade legal, mas um passo essencial para preservar a liberdade de decisão do indivíduo.

O acesso à informação é um direito fundamental que, na era digital, deve incluir transparência sobre como nossos dados são coletados, processados e utilizados para nos influenciar como consumidores. Mais do que nunca, as empresas precisam compreender que a confiança é o ativo mais valioso que podem conquistar. Transparência no uso de dados não deve ser vista como um obstáculo, mas como uma oportunidade de construir relacionamentos duradouros com os clientes. Quando a ética orienta as estratégias de marketing, todos ganham: a marca fortalece sua reputação e o consumidor se sente respeitado em suas escolhas.

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Por Thiago Muniz

Especialista em vendas, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), CEO da Receita Previsível, palestrante e consultor em estratégias de vendas B2B

Artigo de opinião

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