Brincar em Todas as Idades: Um Caminho para Saúde Mental e Bem-Estar

Como as atividades lúdicas beneficiam o cérebro, a criatividade e a prevenção de doenças ao longo da vida

Brincar é uma atividade fundamental no desenvolvimento humano. Quando criança, contribui para diversos aspectos, como a formação cognitiva, o gerenciamento de emoções e o aprendizado das relações sociais. Mas as pessoas não deixam de se desenvolver após a infância; pelo contrário, este processo acompanha o ser humano durante toda a sua jornada. Logo, brincar também é benéfico quando a vida se torna algo sério: em adultos, pode trazer benefícios inclusive na vida profissional, enquanto em idosos, auxilia na manutenção de funções essenciais para o bem-estar.

A prática de atividades lúdicas na fase adulta estimula a liberação de substâncias importantes para o funcionamento cerebral, como a dopamina, associada ao prazer, aprendizado e motivação. Atividades lúdicas, como aquelas em que é necessário resolver problemas ou improvisar, incentivam a flexibilidade cognitiva, estimulando a ativação e integração de inúmeros circuitos neuronais, o que é essencial no processo criativo.

O desenvolvimento humano não se restringe à infância e adolescência, e continua ocorrendo, mesmo nos idosos, ainda que de maneiras diferentes, de acordo com cada fase da vida. Brincar assume um papel fundamental ao longo de todo esse processo: na infância, contribui para o desenvolvimento cognitivo, sensório-motor e socioemocional; na adolescência, contribui para autonomia, inserção social e identidade. Nos adultos, o jogo estimula o bem-estar, o uso da criatividade, aumenta o repertório para resolução de problemas e reforça vínculos e interação social. Já nos idosos, o jogo pode ajudar a manter ou reabilitar funções executivas, como a memória, o planejamento e a atenção, além de contribuir na socialização e na manutenção da funcionalidade, mesmo com as mudanças inerentes dessa fase da vida.

As atividades lúdicas contribuem para a estruturação das circuitarias cerebrais, estimulando conexões neuronais e ativação de redes cerebrais importantes. Durante jogos e brincadeiras, circuitos associados às funções executivas são estimulados, seja através do controle inibitório, planejamento ou direcionamento da atenção, além de estimular regiões associadas à linguagem e criatividade. Além desse estímulo direto, o brincar também promove a liberação de substâncias essenciais para o funcionamento cerebral, como a dopamina, que está ligada ao prazer, aprendizado e motivação, contribuindo para o bem-estar.

Atividades prazerosas, como as lúdicas, ajudam a reduzir estresse, ansiedade e sintomas de burnout em adultos. Elas contribuem para a liberação de neurotransmissores essenciais no manejo da ansiedade e do burnout, além de atuar na redução de substâncias ligadas ao estresse, como os níveis de cortisol.

No que diz respeito à criatividade e à memória, as atividades lúdicas que exigem resolução de problemas ou improvisação incentivam a flexibilidade cognitiva, ativando e integrando diversos circuitos neuronais, fundamentais para o processo criativo. Quanto à memória, as brincadeiras mobilizam a atenção e o fator motivacional, pilares essenciais no processamento da memória. Elas também auxiliam na consolidação da aprendizagem, pois envolvem vários tipos de estímulos, facilitando a fixação de conteúdos.

Jogos e brincadeiras podem ter efeito preventivo em doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer. Ao estimular a atividade dos circuitos cerebrais, os jogos contribuem para a manutenção da “reserva cognitiva”, um fator de proteção contra processos degenerativos. Estratégias de treinamento cognitivo baseadas em jogos mostram-se ferramentas importantes na melhora da memória e cognição. Além disso, os jogos promovem melhora do humor e bem-estar por meio da liberação de neurotransmissores como dopamina e serotonina, e reduzem estresse e fatores inflamatórios cerebrais, atuando como fatores de proteção cerebral. Os benefícios emocionais e sociais dos jogos também desempenham papel ativo na prevenção da neurodegeneração.

Não há um consenso exato sobre o tempo ideal para atividades lúdicas na vida adulta, mas estudos indicam cerca de duas horas diárias para atividades de lazer. O tempo, a necessidade e o tipo de atividade variam conforme as preferências e necessidades individuais, mas não há dúvidas de que esses momentos são fundamentais para o bem-estar e a qualidade de vida.

Quanto aos tipos de jogos recomendados para cada fase da vida: para crianças, indicam-se jogos que estimulem o desenvolvimento sensório-motor, como massinha de modelar, blocos de empilhar, quebra-cabeças, brincadeiras de faz-de-conta, jogos pedagógicos e atividades físicas que promovam coordenação e interação social. Para adolescentes e adultos, jogos de tabuleiro, cartas, RPG, jogos de lógica, enigmas, improviso e quizzes são interessantes, além de atividades físicas com familiares e amigos. Para idosos, jogos cognitivos como quebra-cabeças, palavras cruzadas, sudoku, jogos de tabuleiro e cartas, peças para montar ou jogos sobre história e curiosidades são bastante úteis para manter a cognição e a socialização.

Brincar não é apenas coisa de criança. É uma atividade essencial para a saúde mental, a criatividade, a prevenção de doenças e o bem-estar em todas as fases da vida. Incorporar momentos lúdicos na rotina é investir em qualidade de vida e longevidade saudável.

L

Por Letícia Amici

médica psiquiatra e professora da Faculdade São Leopoldo Mandic

Artigo de opinião

👁️ 53 visualizações
🐦 Twitter 📘 Facebook 💼 LinkedIn
compartilhamentos

Comece a digitar e pressione o Enter para buscar

Comece a digitar e pressione o Enter para buscar