Quem são as pessoas que sustentam sua rede?
O tema da saúde mental está em alta. O que antes era negligenciado em prol da saúde física, virou a pauta principal de programas, conversas e, surpreendentemente, do nosso investimento de tempo, de energia e dinheiro. Nós costumamos dar muita importância para todas as coisas que podemos fazer para preservar nossa saúde mental – meditação, terapia, exercícios físicos, medicamentos, cristais, óleos essenciais, chás, tempo ao ar livre, e uma infinidade de coisas. Tudo o que foi citado ajuda – e muito! O problema é que muitas pessoas sentem que não podem ter acesso a esses recursos valiosos, porque alguns deles dependem de dinheiro, outros de tempo, outros de uma energia que é difícil de encontrar no meio das demandas do dia a dia.
Então, hoje, nós vamos falar de um segredinho, que nada tem a ver com uma fórmula mágica ou com uma solução rápida e fácil para todos os problemas. Para a promoção da saúde mental, não existe atalho. Mas esse segredinho é, olha só – gratuito, exige pouco tempo, pouca energia, e todos nós já temos em nossas vidas: pessoas! Como assim? Explico… No meu trabalho de psicóloga vivencio diariamente pessoas salvando a vida de outras pessoas por meio da formação de conexões humanas verdadeiras. Isso significa que por mais que todos nós tenhamos outras pessoas em nossas vidas, nem todos nós formamos conexões humanas profundas e verdadeiras – e estas, sim, podem melhorar muito nossa saúde mental e tornam-se fundamentais quando tudo está desmoronando.
Muito se diz sobre a importância de ter amigos, parentes, parceiros de vida, que vão estar lá para te ajudar quando você precisar. Acontece que o objetivo final das nossas relações não é de ter pessoas que possam resolver nossos problemas. Muito pelo contrário. As conversas que mais ajudam são aquelas nas quais você compartilha seu problema e a outra pessoa, ao invés de tentar resolver, simplesmente escuta e acolhe. Duas palavras-chave quando falamos de conexões humanas verdadeiras: escuta e acolhimento. Não é somente sobre ter alguém para contar quando a coisa fica muito difícil. É sobre mandar aquela mensagem no meio da tarde dizendo “Amiga, está frio aí? Aqui está muito frio”. E receber em troca “Nossa, nem me fale! Não aguento mais esse tempo”, e por um instantinho estar passando frio juntas, mesmo que separadas. E estamos muito separados ultimamente, não é mesmo? Mas também estamos muito juntos.
Essa é uma outra questão das conexões humanas verdadeiras. Não é sobre morar junto, ver todos os dias, ou até mesmo trocar mensagens todos os dias. É sobre saber que a outra pessoa está lá. Onde? Pode ser na outra quadra, pode ser no outro bairro, pode ser em outro lugar do mundo. Quando eu digo que vejo conexões humanas salvando vidas todos os dias, é porque imagino todos nós estando no meio de uma rede que é sustentada por outras pessoas. Quando olhamos em volta, conseguimos visualizar todas as pessoas que dão sustentação a essa rede. Se uma delas soltar, ainda terão outras pessoas nos sustentando. Sustentando o peso de ser quem nós somos. Mas então, se é tão simples assim, gratuito, por que nós relutamos em formar conexões verdadeiras?
Acontece que para que essas conexões possam ser formadas é preciso que nós mostremos nossa vulnerabilidade. É preciso estar junto sem exigir e sem oferecer soluções. Suportar a dor do outro mesmo quando toca na nossa dor também. É preciso estar junto sem julgar, sem tentar tornar o outro mais como nós mesmos. É preciso se jogar sem paraquedas, mostrar nosso melhor e nosso pior, e esperar que o outro continue sustentando essa rede. Então o que parece simples, não é nada fácil, porque exige abertura, vulnerabilidade, aceitação. E todas essas coisas são muito difíceis depois que tantas relações já nos machucaram. Talvez o segredo maior não seja o de que conexões humanas salvam vidas, mas sim o de que se entregar para conexões humanas, mesmo com a chance de se machucar, sempre continua valendo a pena.
Marjorie Rodrigues Wanderley, psicóloga, professora da Estácio Curitiba, Mestre em Psicologia Clínica pela Universidade Federal do Paraná