Combate ao Etarismo: Como o Preconceito Contra Idosos Impacta a Saúde Mental

Entenda os efeitos do preconceito etário e descubra caminhos para promover respeito e dignidade na velhice

Envelhecer é um processo natural, mas ainda cercado de medo e preconceito. A velhice costuma chegar de mansinho: um fio de cabelo branco, um passo mais lento, uma memória que falha de leve. Ela não deveria ser temida, mas celebrada como parte do ciclo da vida. Ainda assim, em muitas conversas, manchetes e decisões, ela é tratada como um peso. E é aí que nasce o etarismo — o preconceito contra pessoas por causa da idade.

Mesmo sem saber o nome, você provavelmente já viu esse tipo de discriminação. Está na impaciência diante de alguém que fala devagar. Está no riso fácil quando um idoso se confunde com um celular. Está no atendimento frio no posto de saúde. E, talvez mais triste, está no silêncio em volta da cadeira de quem já viveu tanto, mas agora é pouco ouvido.

Esse preconceito silencioso adoece e deixa marcas profundas. Muitos idosos, ao sentirem que não são mais valorizados, passam a acreditar que não têm mais lugar ou importância. A saúde mental sofre. Surgem a depressão, o isolamento, o medo de ser um incômodo. E, aos poucos, a vida se apaga antes da hora.

Durante a pandemia, essa sensação se agravou. Os mais velhos foram tratados, muitas vezes, como descartáveis. Mas o que ficou invisível nos boletins de saúde foi a dor emocional de quem se sentiu esquecido.

Existem saídas e elas são feitas de afeto e escuta.

Apesar do cenário desafiador, muitas pessoas e instituições vêm desenhando caminhos mais humanos. Caminhos que aproximam, que cuidam, que transformam.

Uma das estratégias mais eficazes tem sido olhar para a formação de quem cuida. Profissionais de saúde, estudantes, cuidadores, todos podem aprender a reconhecer e desconstruir seus próprios preconceitos. E quando isso acontece, o cuidado muda. Fica mais paciente, mais respeitoso, mais atento e muito mais humanizado.

Outra abordagem potente são as experiências sensoriais: vestir roupas que simulam limitações físicas da idade, usar óculos que reduzem a visão, calçar sapatos que dificultam o andar. Jovens que participam dessas simulações dizem sair diferentes — passam a olhar os mais velhos não com pena, mas com admiração e empatia.

A tecnologia também pode ser uma aliada no resgate afetivo: experiências em realidade virtual que colocam a pessoa no corpo de alguém com 80 anos. O impacto é imediato. Quem vive essa imersão volta transformado e mais consciente de como o mundo pode ser hostil com quem envelhece.

Quando gerações se encontram, o preconceito perde força.

Talvez o mais bonito seja ver as pontes que se constroem quando jovens e idosos convivem de verdade. Programas de mentoria reversa, por exemplo, colocam jovens para aprender com os mais velhos, sobre vida, sobre escolhas, sobre o tempo. O que nasce daí são relações sinceras, aprendizado mútuo e o fim de muitos estereótipos.

Mudar a forma como falamos sobre a velhice também faz diferença. Quando mostramos que os idosos podem ser ativos, criativos, divertidos, amorosos e inspiradores, mudamos o imaginário coletivo. E, mais importante: ajudamos quem já chegou lá a se reconhecer com orgulho.

Ainda faltam políticas públicas que combatam o etarismo com firmeza. Mas há algo que todos nós podemos fazer, hoje mesmo: prestar atenção.

Prestar atenção na forma como falamos, na paciência que temos, nas piadas que contamos. Prestar atenção em quem está à nossa volta e que, muitas vezes, só precisa ser ouvido.

O combate ao etarismo começa dentro de nós. Começa quando olhamos para a velhice com respeito e afeto. Quando entendemos que os mais velhos não são “os outros” — são o que, com sorte, um dia todos nós seremos. Envelhecer é continuar vivo. E todos merecem viver com dignidade, em todas as fases da vida. Envelhecer é viver!

B

Por Bruno Leonel Mendes de Abreu

Psicólogo e Neuropsicólogo na INSELF Neuropsicologia Avançada. Especialista em Psicologia Hospitalar e Neuropsicologia pela USP. Mestrando em Ciências do Envelhecimento pela USJT. Membro fundador da At Your Side Consultoria.

Artigo de opinião

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