Setembro Amarelo revela a vulnerabilidade do RH: quem cuida dos cuidadores?
Enquanto lideram campanhas de saúde mental, profissionais de RH enfrentam sobrecarga e falta de suporte, evidenciando a necessidade de atenção interna para garantir o bem-estar organizacional.
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O mês de setembro é reconhecido globalmente como um período simbólico para debater saúde mental. Nas empresas, a pauta é tradicionalmente liderada pelas áreas de Recursos Humanos, responsáveis por criar e incentivar campanhas de conscientização e programas de apoio aos colaboradores. Mas um paradoxo silencioso chama atenção: ainda que se empenhem em garantir o bem-estar dos funcionários, os próprios profissionais de RH muitas vezes não encontram o mesmo suporte para cuidar de si.
Segundo dados do Panorama da Saúde Emocional do RH, da Flash, mais de 80% dos profissionais da área se sentem sobrecarregados. Outros 65% afirmam ter enfrentado alguma questão de saúde mental no último ano. O cenário revela que justamente aqueles que conduzem ações de cuidado físico e mental estão entre os mais afetados por estresse, ansiedade e burnout.
De acordo com Leandro Oliveira, diretor da Humand no Brasil, plataforma global voltada à centralização da cultura organizacional, “o bem-estar do RH é um termômetro da saúde de toda a organização. Uma companhia que enfrenta acúmulo de trabalho, falta de estrutura, processos burocráticos e profissionais com questões de saúde mental não tem como se manter saudável por muito tempo e não é surpresa que o RH é o primeiro departamento que sofre”, aponta.
Para o especialista, além de lidar com processos burocráticos e sobrecarga operacional, o RH enfrenta diariamente situações emocionalmente exaustivas como demissões, assédios e crises pessoais. Apesar disso, muitas vezes não encontra dentro da própria empresa um canal de suporte. “Para se ter uma ideia, em minhas experiências prévias, conheci equipes responsáveis pelo monitoramento de conteúdos sensíveis em redes sociais e era um trabalho muito difícil. Hoje, vejo que o RH gerencia tantas situações desafiadoras e pessoais que são submetidos à mesma pressão e até insalubridade”.
Até por isso, o executivo reforça que o Setembro Amarelo precisa ser encarado como um ponto de virada a fim de gerar um olhar mais amplo, incluindo também quem estrutura e promove esse cuidado. “O momento é ideal para lançar iniciativas internas de escuta, reconhecimento da sobrecarga do setor e implementação de ações práticas, como acesso a terapia, além da revisão de escopo e investimentos, principalmente, de tecnologia”, afirma ele.
Para Oliveira, ferramentas como automação de processos, chatbots, inteligência artificial no recrutamento e plataformas de saúde emocional podem reduzir drasticamente a carga operacional e emocional do RH. “Soluções como análise preditiva e plataformas de bem-estar personalizadas permitem que a área atue de forma mais preventiva, englobando, inclusive, cuidados voltados para sua própria equipe”, pontua.
Novamente, o discurso se baseia em evidência. O Censo do RH, produzido pela Wall Jobs, revela que 32% dos profissionais apontam a sobrecarga de trabalho e a falta de tempo como os principais desafios da área. Outros 22% mencionam a carência de estrutura e dados como fator crítico.
“Um RH exausto não sustenta uma cultura de bem-estar, engajamento ou inovação. Pelo contrário, pode contribuir para um ambiente tóxico e improdutivo ou até ignorar o impacto negativo que causa nesses espaços”, opina o diretor da Humand. “Esse esgotamento gera um efeito dominó: piora o clima, eleva o turnover, aumenta afastamentos e mina a confiança institucional”, finaliza ele.
Por Leandro Oliveira
Diretor da Humand no Brasil, especialista em cultura organizacional e bem-estar corporativo
Artigo de opinião