Setembro Amarelo: A Invisibilidade e as Dores Silenciosas da Mulher na Maturidade

Reflexões sobre solidão, autoconhecimento e reinvenção na fase da menopausa e além

A cada escolha, uma renúncia. A cada renúncia, uma perda e, com ela, a culpa de braços dados com a solidão. Isso se repetirá em inúmeros momentos na vida de uma mulher.

Não se trata de uma solidão por falta de gente ao redor. Por vezes, ela bate quando estamos em meio à torcida do Flamengo achando que nossa vida é perfeita. O tal vazio a que me refiro não é o sentimento de abandono por se estar de fato só, é pelo sentir-se só, solta, diferente e talvez inadequada. É algo sentido, não explicado e racionalizado.

Desde muito cedo, as mulheres estão fadadas a esse enfrentamento inevitável, mesmo que não se deem conta disso. E neste Setembro Amarelo, falar de solidão e saúde mental se torna ainda mais urgente.

No processo de envelhecimento feminino, muitas mudanças vão acontecendo. A forma que uma mulher se enxerga e é enxergada muda, se é que ela é vista. Para os padrões da sociedade, agora ela é velha. Essa invisibilidade aparece em uma fase em que estão bem sensíveis. Aos olhos externos, o que é velho é inútil e, portanto, sem função.

Ela começa a não se encaixar em um modelo de beleza e juventude que descarta o velho, o ultrapassado. E isso dói. Nem todas passarão e sentirão a mesma coisa, é claro, mas em algum momento algum questionamento chegará.

Principalmente quando a mulher se depara com a vertiginosa queda de seus hormônios, a tão temida menopausa. Parece que tudo mudou. E mudou. O seu corpo não é mais o mesmo e ela não se reconhece mais no espelho. Talvez esteja à beira de se aposentar e não saiba o que fazer com o tanto de tempo livre que lhe resta.

Os seus filhos, se os tiver, saíram de casa e ela não sabe se encaixar e ocupar o espaço do seu lar que agora ficou grande. Quem sabe, tamanha a turbulência emocional que essa fase traz, comece a questionar a sua vida e seus relacionamentos afetivos?

Um spot só para falar das que são mães. Quando nasce um filho, nasce também uma mãe. À mulher se acoplam título e atribuições, escolhas que trazem renúncias. A maternidade é amor e realização, mas exige abnegação e entrega.

E quando os filhos saem, quem é essa mãe sem a cria? Onde ficou a mulher que antes se tornou mãe? Do que ela gostava, o que a realizava? Como resgatá-la agora?

Faça o que puder: cave oportunidades, peça ajuda, se descubra melhor. E não desista de você, nunca!

A

Por Ana Paula Couto

Professora de língua inglesa por mais de duas décadas; escritora, autora dos livros “Amor de Manjericão” (2022) e “Amor de Alecrim” (2024)

Artigo de opinião

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