Testosterona: Desvendando 6 Mitos e Verdades Sobre o Hormônio Mais Polêmico

Entenda o papel da testosterona na saúde sexual de homens e mulheres e por que a reposição hormonal exige cuidado e diagnóstico preciso

Quase metade das mulheres relata disfunções sexuais e até 45% dos homens com obesidade têm queda de testosterona. Especialistas alertam: reposição sem critério pode ser perigosa.

De solução milagrosa para a libido feminina a salvação da energia masculina, a testosterona virou sinônimo de “atalho” para problemas de saúde e bem-estar. Mas a ciência mostra que a realidade é bem diferente.

Estudos indicam que cerca de 49% das mulheres relatam algum tipo de disfunção sexual, sendo o desejo hipoativo a queixa mais comum. Nos homens, a obesidade é um fator decisivo: até 45% dos pacientes com obesidade apresentam queda significativa da testosterona, com impacto direto na saúde sexual, metabólica e cardiovascular.

“É comum ouvir no consultório perguntas como ‘minha libido sumiu, será que preciso usar testosterona?’ A questão é que a sexualidade humana é complexa demais para caber em uma prescrição simplificada”, afirma o endocrinologista Ramon Marcelino, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HC-FMUSP).

A seguir, veja os principais mitos e verdades sobre a reposição hormonal em homens e mulheres:

1. Testosterona é o hormônio central do desejo feminino
MITO. Durante a vida reprodutiva, quem rege os ciclos hormonais da mulher são o estrógeno e a progesterona. A testosterona existe em menor quantidade e cai pouco após os 35 anos.
“Curiosamente, muitas mulheres que relatam queda no desejo nessa fase têm vários problemas associados e causadores, sem nenhuma correlação com as dosagens de testosterona”, destaca Marcelino.

2. Se a libido feminina está baixa, a primeira solução é repor testosterona
MITO. Desejo sexual é multifatorial: envolve sono, rotina, saúde mental, autoestima, relacionamento e contexto de vida. Devemos tratar somente após afastarmos as causas mais comuns do transtorno.
“Uma mulher estressada, sobrecarregada ou em um relacionamento tóxico dificilmente sentirá desejo, e não há testosterona que resolva isso”, ressalta o endocrinologista.
Além disso, nem sempre ausência de desejo é um problema. Pesquisas publicadas no Journal of Sex Research mostram que cerca de 1% das mulheres se identificam como assexuadas e não sofrem com isso. Para esse grupo, impor tratamentos hormonais é considerado uma forma de violência médica.

3. Libido feminina pode ser espontânea ou reativa
VERDADE. Há mulheres que não sentem vontade “do nada”, mas respondem ao toque e à intimidade. Isso não é doença.
“É fundamental desmistificar a ideia de que só quem sente desejo espontâneo tem uma sexualidade saudável. A resposta reativa também é normal”, afirma Ramon Marcelino.

4. Obesidade reduz a testosterona nos homens
VERDADE. O excesso de peso pode levar ao chamado MOSH (sigla em inglês para “hipogonadismo secundário associado à obesidade”). Nessa condição, a gordura corporal aumenta a conversão da testosterona em hormônios femininos, prejudicando a produção natural do hormônio.
“Isso impacta a vida sexual, a fertilidade, a massa muscular, a disposição e até a expectativa de vida”, explica o médico.

5. Repor testosterona é sempre a melhor solução para os homens
MITO. Estudos mostram que reduzir 15% do peso corporal pode normalizar a produção hormonal em muitos homens, dispensando reposição.
“Repor testosterona sem tratar a causa não resolve o problema. O hormônio funciona muito mais como marcador da saúde do que como remédio universal”, reforça Marcelino.
Nos Estados Unidos, entre 2001 e 2013, o uso do hormônio cresceu mais de 300%, muitas vezes sem diagnóstico confirmado. O consumo excessivo pode causar infertilidade, arritmias cardíacas e até maior risco de fraturas.

6. O uso de testosterona é seguro quando bem indicado
VERDADE. Quando há diagnóstico clínico e acompanhamento adequado, a reposição pode ser feita de forma responsável. Mas o uso sem critério é arriscado.
“A prescrição ética exige escuta ativa, empatia e investigação cuidadosa. Só depois de descartar outras causas é que a reposição pode ser cogitada, e sempre com cautela”, finaliza o especialista.

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Por Ramon Marcelino

Endocrinologista, atua no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HC-FMUSP) e no Hospital Sírio-Libanês, referência em endocrinologia e medicina do estilo de vida, mais de dez anos de atuação na área

Artigo de opinião

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