Ghostworking: O Impacto das Alterações Cerebrais no Trabalho Remoto
Como o estresse e a sobrecarga cognitiva moldam comportamentos corporativos e desafiam as organizações modernas
O “ghostworking” é um fenômeno emergente no ambiente de trabalho remoto que reflete profundas alterações cerebrais e traz desafios significativos para as empresas. Trata-se de um mecanismo de adaptação cerebral em resposta a estresse crônico e sobrecarga cognitiva, no qual o indivíduo simula produtividade para evitar conflitos ou punições, enquanto seu córtex pré-frontal — responsável pela atenção sustentada e tomada de decisão — opera em déficit.
O uso excessivo de redes sociais e a exposição constante a estímulos digitais têm alterado subregiões cerebrais, reduzindo o foco atencional para cerca de 8 a 12 segundos e prejudicando a memória de trabalho, essencial para a execução de tarefas complexas. Além disso, os elevados níveis de cortisol, hormônio do estresse, amplificados por uma geração ansiosa, contribuem para essa dinâmica. A hiperativação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal leva a uma fadiga mental que compromete a neuromodulação cerebral, resultando em apatia e na busca por atalhos como o “ghostworking”. Nesse contexto, o indivíduo prefere preservar energia a enfrentar demandas que seu sistema cognitivo já não suporta.
Um exemplo hipotético ilustra essa situação: um profissional sobrecarregado por prazos e sem feedback claro recorre a estratégias como manter o computador ativo ou enviar respostas automáticas, enquanto dedica tempo a atividades pessoais. Esse comportamento não é simplesmente preguiça, mas um reflexo de uma neuroplasticidade mal direcionada, onde o cérebro, sob estresse, reconfigura suas prioridades para sobreviver ao ambiente corporativo.
O “ghostworking” também revela falhas nas empresas, especialmente naquelas que não monitoram adequadamente o bem-estar neurocognitivo de seus colaboradores. O conceito de Neurobusiness propõe soluções inovadoras, como estratégias de comunicação alinhadas ao processamento cerebral e técnicas para reengajar o foco, transformando esse desafio em uma oportunidade para melhorar a produtividade e a saúde mental no trabalho remoto.
É fundamental que as organizações reconheçam esses sinais e adotem práticas que respeitem os limites cognitivos dos profissionais, promovendo ambientes que favoreçam o equilíbrio entre demanda e capacidade cerebral. Assim, será possível não apenas mitigar o “ghostworking”, mas também fomentar uma cultura corporativa mais saudável e eficiente.
Por Dr. Fabiano de Abreu Agrela
neurocientista luso-brasileiro, pós-PhD em Neurociências, precursor do conceito de Neurobusiness
Artigo de opinião