O impacto silencioso da má avaliação: como o reconhecimento falho faz as empresas perderem talentos
Entenda como a falta ou o excesso de reconhecimento distorce avaliações, prejudica o clima organizacional e mina a produtividade nas equipes
Um simples erro de avaliação pode custar caro para a empresa. E não estamos falando apenas de decisões equivocadas, mas de um efeito dominó emocional que compromete a produtividade, a motivação e até o senso de justiça dentro das equipes.
A recente pesquisa desenvolvida pelo professor associado de Comportamento Organizacional da Yale SOM (Escola de Negócios da Universidade de Yale), Tristan L. Botelho, revelou que profissionais que se sentem subestimados tendem a reproduzir essa distorção quando estão na posição de avaliadores, tornando-se mais “mesquinhos” ao elogiar ou reconhecer os outros. Já aqueles que recebem elogios imerecidos também replicam o erro, perpetuando avaliações distorcidas.
Vejo esse padrão com frequência em consultorias e workshops. O gerente que não reconhece e o coordenador que não foi reconhecido geram consequências claras: desmotivação, baixa produtividade e, muitas vezes, perda de talentos. O colaborador pode receber um ótimo salário, mas se não sente que é visto e valorizado, algo sempre parece faltar.
A chave para esta mudança está no reconhecimento estruturado e consciente, não como bajulação, mas como retorno objetivo e sincero sobre comportamentos e entregas que surpreenderam positivamente. Dizer “você me surpreendeu em tal situação” é muito mais poderoso do que um simples “parabéns”.
Temos atuado para ajudar líderes a se comunicarem melhor com suas equipes e a tornarem o feedback uma ferramenta estratégica, inclusive com o desenvolvimento de tecnologias que auxiliam nessa tarefa. Em breve, será lançada uma plataforma com inteligência artificial voltada à gestão do momento do feedback, organizando o histórico de evolução do colaborador e oferecendo insights personalizados sobre a melhor forma de comunicação com cada perfil.
Justiça emocional importa. Quando um profissional sente que sua entrega foi invisibilizada, ele começa a se “economizar” nas funções do dia a dia da empresa. É o famoso “por que me esforçar se ninguém nota?”. Isso mina a cultura da meritocracia e afeta diretamente os resultados do time.
Para evitar esses impactos, a recomendação é clara: feedback estruturado com base em competências técnicas e comportamentais, alinhadas às entregas esperadas por cargo. Não pode ser um checklist protocolar. É um momento decisivo para engajamento e performance do colaborador. Seja franco e comunique-se de maneira respeitosa, afinal, o feedback é uma conversa entre adultos com a efetiva vontade de contribuir.
Para as empresas e líderes, o alerta é claro: reconhecimento não é mimo, é uma ferramenta poderosa de gestão. E empresas que não se atentarem a isso correm o risco de ver talentos se apagando, ou, pior, indo embora.
Por Carolina Valle Schrubbe
Especialista em desenvolvimento de pessoas, formação executiva pela Fundação Dom Cabral, coach executiva certificada pelo Marshall Goldsmith Group (MGSCC) e Global Coach Group (GCG), fundadora e diretora da QUARE Desenvolvimento, com mais de 21 anos de atuação no ambiente corporativo, sendo 18 anos em cargos de gestão e liderança e 16 anos dedicados ao desenvolvimento de líderes e suas equipes.
Artigo de opinião