Por que superdotados escolhem interagir menos? Uma análise neurocientífica e comportamental

Entenda como necessidades inatas do cérebro influenciam a preferência por menos socialização entre pessoas com altas habilidades intelectuais

Por que algumas pessoas superdotadas parecem preferir o isolamento social? Essa pergunta, geralmente cercada de interpretações equivocadas, começa a ser respondida por uma nova pesquisa que oferece uma perspectiva neurocientífica e genética sobre o tema.

O estudo “A escolha por menos interação social por superdotados: fatores relacionados às necessidades inatas do cérebro” analisa as razões biológicas e comportamentais por trás do menor interesse social de pessoas com altas habilidades intelectuais.

Não se trata de timidez, arrogância ou exclusão social. A escolha por interagir menos muitas vezes reflete uma organização cerebral diferente, com prioridades cognitivas mais voltadas à profundidade e autonomia do pensamento.

Desde cedo, um padrão que se repete
Segundo o estudo, esse padrão é perceptível desde a infância. Bebês considerados precoces já demonstram menos interesse por estímulos sociais repetitivos e mais inclinação para observações solitárias. Essa tendência, com o tempo, transforma-se em uma forma de lidar com o mundo que prioriza introspecção, análise e profundidade.

O superdotado tende a se frustrar com interações rasas e com a superficialidade de certas dinâmicas sociais. Para ele, o diálogo só se torna realmente interessante quando existe troca intelectual genuína.

Cérebro e genes: O que a ciência revela?
O estudo destaca que essa inclinação é influenciada por fatores neurobiológicos e genéticos. Estruturas como a Default Mode Network (rede cerebral ativada durante momentos de introspecção) apresentam maior atividade em pessoas superdotadas. Além disso, neurotransmissores como dopamina e glutamato, que regulam prazer, foco e aprendizado, atuam de forma distinta nesses indivíduos.

Com base em análises feitas em grupos privados de alto QI, os autores observaram que essa preferência pelo distanciamento cresce com a idade, especialmente à medida que o superdotado percebe as limitações sociais em acompanhar seus raciocínios.

Quando o silêncio vale mais do que a conversa
A pesquisa ainda mostra que, para essas pessoas, estar entre outros nem sempre representa uma experiência de troca — muitas vezes, pode ser percebido como um custo emocional e cognitivo.

A socialização é naturalmente dispendiosa. E, quando ela não entrega estímulos significativos, passa a ser vista como um esforço inútil.

O estudo sugere que essa tendência não deve ser corrigida, mas compreendida e respeitada, inclusive no contexto educacional. Ao entender essas particularidades, é possível criar ambientes mais inclusivos e ajustados às necessidades de pessoas com alta capacidade intelectual.

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Por Adriel Pereira da Silva

Escritor, pesquisador e palestrante, formação em Física pela Unisinos, MBAs em Gestão de Projetos e Pessoas, cursa Psicologia na Uniftec e mestrado em Neuropsicologia pela Universidad Europea del Atlántico, Gestor de Projetos Científicos do CPAH, membro da Mensa Brasil e do CPAH, autor de livros sobre neurodiversidade e desenvolvimento infantil.

Artigo de opinião

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