Como as empresas devem lidar com relacionamentos amorosos no ambiente de trabalho

Orientações claras, ética e empatia são essenciais para manter o clima organizacional saudável quando o amor nasce entre colegas

Quando o romance extrapola a vida pessoal e entra pela porta do escritório, empresas e lideranças se veem diante de um dilema que envolve ética, reputação, clima organizacional e produtividade. A cena da novela das 21h, em que Renato, o chefe, e Leila, sua secretária, iniciam um namoro sem saber como se posicionar perante a equipe, enquanto os colegas já comentam o fato, ilustra um cenário recorrente e atual no ambiente de trabalho.

Às vésperas do Dia dos Namorados, o tema volta ao centro das conversas. E para Carla Martins, vice-presidente do SERAC e especialista em cultura corporativa e gestão de pessoas, ignorar ou reprimir esse tipo de situação não é o melhor caminho. “O que antes era tabu, hoje exige uma abordagem madura e estruturada. As relações acontecem, mas o papel da empresa é criar diretrizes claras, respeitosas e coerentes com a cultura da organização”, afirma.

Existe uma regra universal?
De acordo com Carla, não há uma legislação específica que proíba ou regulamente relacionamentos amorosos no ambiente corporativo, mas a forma como a empresa lida com o tema pode interferir diretamente no clima e nos resultados. “Tudo depende da clareza com que a organização comunica suas diretrizes, do grau de exposição dos envolvidos e do impacto real no dia a dia da equipe”, explica.

Ela destaca que, embora algumas empresas adotem políticas formais como a exigência de declaração do relacionamento ao RH ou transferência de setor em casos de vínculo hierárquico direto, outras preferem adotar condutas mais flexíveis. “Não existe um modelo único, mas é fundamental que haja transparência, tanto nas normas quanto nas relações”, reforça.

O papel das lideranças, segundo Carla, é agir com imparcialidade, evitando qualquer tipo de favorecimento, julgamento moral ou permissividade que possa comprometer a harmonia da equipe. “Quando um casal é formado por pessoas do mesmo nível hierárquico e mantém discrição e profissionalismo, dificilmente haverá impacto negativo. O problema surge quando a relação desequilibra decisões, causa desconforto entre colegas ou vira assunto recorrente nos bastidores, como no caso do chefe e da secretária da novela”.

Para a especialista, o gestor deve conduzir a situação com empatia e profissionalismo, abrindo espaço para conversas individuais e reforçando as expectativas de conduta da empresa. “Não se trata de proibir ou expor, mas de alinhar expectativas, proteger a equidade e preservar o ambiente de respeito mútuo”.

A principal ameaça de um relacionamento mal gerido dentro da empresa é o impacto silencioso no clima organizacional. “Fofocas, especulações e comentários irônicos são corrosivos para a confiança entre colegas. Afetam a produtividade, provocam disputas veladas e alimentam um ambiente tóxico”, alerta Carla.

Ela orienta que o RH, em conjunto com a liderança, adote uma postura ativa para evitar que boatos ganhem força. “Comunicação clara e gestão próxima ajudam a conter rumores e preservar a reputação dos envolvidos. A ausência de posicionamento só aumenta a insegurança da equipe e a margem para distorções.”

Amor e carreira podem conviver?
Para Carla Martins, sim, desde que com maturidade. “É possível equilibrar vida pessoal e profissional no mesmo ambiente, desde que os envolvidos mantenham discrição, responsabilidade e foco no trabalho. As empresas, por sua vez, devem oferecer orientações claras e tratar o tema com profissionalismo, sem preconceito ou permissividade excessiva.”

Ela finaliza lembrando que relações interpessoais, sejam afetivas ou não, fazem parte do universo corporativo. “O segredo está na gestão. Se lideranças e RH souberem conduzir com ética, bom senso e empatia, o amor não será um problema — pode até ser parte de um ambiente mais humano e acolhedor”, conclui.

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Por Carla Martins

Vice-presidente do SERAC, especialista em cultura corporativa e gestão de pessoas, contabilista, formada em Marketing pela ESPM, pós-graduada em Big Data e Marketing

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