Desejo Sexual e Amamentação: Desmistificando o Silêncio no Pós-Parto

Como o corpo e a mente da mulher se transformam após o parto e por que o desejo sexual merece acolhimento e respeito nessa fase

Agosto é o Mês da Amamentação, e muito se fala sobre os benefícios do leite materno, a importância do acolhimento à mãe e os desafios físicos do puerpério. Mas ainda existe uma grande lacuna quando o assunto é desejo sexual durante a amamentação — um tema cercado de silêncios, culpas e expectativas irreais.

Após o parto, o corpo da mulher passa por transformações intensas: hormônios em queda, noites mal dormidas, dores físicas, sobrecarga emocional e um novo ritmo de vida. Tudo isso impacta diretamente o desejo sexual. E, ainda assim, muitas mulheres se cobram por “não estarem com vontade” ou por não conseguirem corresponder às expectativas do parceiro ou parceira.

Existe uma cobrança muito injusta sobre a mulher no pós-parto. A ideia de que ela precisa estar disponível para tudo — inclusive sexualmente — logo após gerar, parir e alimentar um bebê, é uma violência silenciosa.

Amamentar é um ato de entrega intensa. E, por mais bonito que seja, também pode ser exaustivo. O desejo não some, mas ele muda de lugar por um tempo. E tudo bem.

Além das questões hormonais e emocionais, muitas mães relatam sentir culpa ao pensar em prazer durante o puerpério. Há também quem sinta dificuldade de se reconectar com o próprio corpo — agora visto, muitas vezes, como “instrumento de cuidado” e não mais como fonte de prazer ou sensualidade.

A mulher que amamenta continua sendo um ser desejante, com corpo, com vontade e com limites. Só que ela precisa de tempo, acolhimento e, acima de tudo, liberdade para viver esse processo no próprio ritmo.

Do outro lado, muitas parcerias também se sentem confusas, sem saber como agir, como tocar ou como propor uma reaproximação. A chave está na comunicação honesta, no respeito mútuo e em resgatar a intimidade com leveza, sem pressão por performance.

Reconectar a vida sexual no pós-parto é possível, sim. Mas não deve ser uma obrigação. É um processo. Precisa de escuta, de paciência e de ressignificação. Às vezes, tudo começa por um carinho, uma conversa, uma massagem — e não pelo ato sexual em si.

Falar sobre desejo, prazer e amamentação de forma aberta é essencial para que mães se sintam menos sozinhas, menos culpadas e mais donas de si — mesmo em uma fase tão delicada e transformadora como o puerpério.

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Por Natali Gutierrez

sexóloga, CEO da Dona Coelha

Artigo de opinião

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