Maternidade solo no Brasil: como a sobrecarga agrava doenças autoimunes e burnout entre mulheres

Mais de 11 milhões de mães solo enfrentam desafios invisíveis que impactam sua saúde física e mental, revela especialista em saúde feminina

A maternidade solo é uma realidade crescente no Brasil, com mais de 11 milhões de famílias chefiadas por mulheres que criam seus filhos sem o apoio do pai, segundo dados do Censo Demográfico 2022 do IBGE. Essa condição, marcada pela ausência de uma rede de suporte e pela falta de políticas públicas específicas, tem consequências profundas para a saúde dessas mulheres, que vão além do aspecto emocional e psicológico.

A reexibição da novela “Vale Tudo” reacende essa discussão ao retratar a personagem Lucimar, uma mãe solo que enfrenta as dificuldades cotidianas em um país que pouco avançou na garantia de direitos e suporte para essa parcela da população. A desigualdade estrutural é evidente: 86,4% das famílias formadas por um único adulto e seus filhos são lideradas por mulheres, número quase seis vezes maior que o de pais solo.

Ana Lisboa, psicanalista e especialista em saúde mental feminina, destaca que a sobrecarga enfrentada por essas mulheres pode levar ao adoecimento silencioso. “A mulher que segura tudo sozinha adoece. O corpo dela acaba sendo o único lugar onde o abandono aparece”, afirma. Segundo Ana, a ausência paterna é apenas uma parte do problema; a falta de flexibilização no ambiente de trabalho, a inexistência de políticas públicas adequadas e a naturalização social dessa situação agravam o quadro.

Estudos científicos publicados em revistas como o Journal of Autoimmunity e The Lancet Psychiatry já apontam a relação entre estresse crônico e o desenvolvimento de doenças autoimunes. No Brasil, as mulheres representam 75% dos casos diagnosticados dessas doenças, incluindo lúpus, tireoidite de Hashimoto e artrite reumatoide, condições frequentemente associadas à sobrecarga física e emocional.

O burnout materno, segundo Ana Lisboa, não é apenas um desgaste mental, mas um impacto imunológico que se manifesta no corpo. “A mulher que suporta múltiplas jornadas por anos tem o sistema imunológico comprometido, sofre crises inflamatórias e exaustão crônica, muitas vezes confundidas com cansaço comum”, explica.

Além disso, o discurso que exalta a “força da mãe solo” pode mascarar um problema estrutural grave. “Romantizar essa força é uma estratégia social que mantém a sobrecarga exclusivamente no colo da mulher, custando sua saúde física e mental”, alerta a especialista.

Apesar de programas sociais como Bolsa Família e Auxílio Brasil, o Brasil ainda não possui legislação que reconheça os desafios específicos das mães solo, como jornada de trabalho reduzida ou prioridade universal em creches públicas. Essa ausência de suporte institucional limita a autonomia dessas mulheres e perpetua a desigualdade.

“A mulher que segura tudo não precisa de aplauso, mas de suporte real, políticas públicas eficazes, divisão justa das responsabilidades e respeito. Não há saúde possível na solidão forçada”, conclui Ana Lisboa.

Este conteúdo foi elaborado com base em informações fornecidas pela assessoria de imprensa e dados oficiais do IBGE e Ministério da Saúde, reforçando a urgência de políticas que amparem as mães solo no Brasil.

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