Raça é o principal motivo de discriminação no Brasil, aponta estudo inédito
Pesquisa nacional revela que 84% da população preta já sofreu discriminação racial e destaca o impacto desproporcional sobre mulheres negras
Um estudo inédito realizado no Brasil revelou que a raça é o principal fator de discriminação enfrentado pela população no país. A pesquisa, que aplicou pela primeira vez em âmbito nacional a Escala de Discriminação Cotidiana, mostrou que 84% dos respondentes que se identificam como pretos já vivenciaram algum episódio de discriminação racial. Os dados foram divulgados em maio de 2025 e fazem parte da série de pesquisas do programa Mais Dados Mais Saúde, desenvolvido por Vital Strategies e Umane, com apoio da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e do Ministério da Igualdade Racial (MIR).
A Escala de Discriminação Cotidiana é uma ferramenta que mede a percepção da discriminação em situações do dia a dia, como ser tratado com menos gentileza ou respeito, receber atendimento inferior em estabelecimentos comerciais, ser seguido em lojas ou sofrer insultos. O levantamento ouviu 2.458 pessoas entre agosto e setembro de 2024, utilizando questionários online e aplicando pesos amostrais para garantir a representatividade dos dados.
Os resultados indicam que a população preta enfrenta as formas mais frequentes e intensas de discriminação. Aproximadamente metade dos entrevistados pretos relatou receber atendimento pior, ser tratado com menos gentileza e menos respeito. Entre os pardos, a percepção de discriminação também é significativa, embora em menor proporção, enquanto a população branca relatou essas situações com muito menos frequência.
Outro ponto importante do estudo é a interseccionalidade da discriminação. Mulheres pretas, por exemplo, relataram múltiplas razões para os episódios de discriminação, com 72% apontando mais de um motivo, como raça, renda, aparência física e ancestralidade. Essa sobreposição de fatores evidencia como diferentes formas de desigualdade se combinam, agravando a vulnerabilidade de determinados grupos.
Especialistas envolvidos na pesquisa ressaltam que a discriminação é um estressor psicossocial que afeta negativamente a saúde mental e física, além de ser um fator estrutural das desigualdades econômicas e sociais no Brasil. Para Janaína Calu, consultora em equidade racial e saúde da Vital Strategies, a documentação da magnitude da discriminação é fundamental para orientar políticas públicas eficazes no combate ao racismo.
Pedro de Paula, diretor-executivo da Vital Strategies, destaca o papel do Sistema Único de Saúde (SUS) como um importante agente na redução das desigualdades sociais, reforçando a necessidade de incorporar dados sobre discriminação nas estratégias de saúde pública. Já Layla Pedreira Carvalho, do Ministério da Igualdade Racial, enfatiza que o enfrentamento do racismo institucional requer esforços conjuntos entre governo, sociedade civil e instituições privadas.
O estudo Mais Dados Mais Saúde está disponível na íntegra no Observatório da Saúde Pública da Umane, contribuindo para um debate público mais informado e para a construção de políticas que promovam maior equidade no acesso a direitos no Brasil.
Este conteúdo foi elaborado com base em dados fornecidos pela assessoria de imprensa do programa Mais Dados Mais Saúde.