Saúde mental no Brasil: desafios, estigmas e caminhos para o cuidado integral
Entenda os principais obstáculos enfrentados pela população brasileira e a importância de políticas públicas eficazes para promover o bem-estar emocional
A saúde mental no Brasil ainda enfrenta inúmeros desafios, mesmo após avanços significativos proporcionados pela reforma psiquiátrica. Segundo dados da assessoria de imprensa com base em informações do psicólogo Marcos Torati, mestre em Psicologia Clínica pela PUC-SP, a jornada para garantir um atendimento psicológico acessível e de qualidade para todos os brasileiros é marcada por barreiras culturais, estruturais e sociais que precisam ser superadas.
Um dos principais obstáculos é o estigma persistente em torno dos serviços psicológicos. Muitas pessoas ainda associam o cuidado com a saúde mental a fraqueza ou falha moral, o que dificulta a busca por ajuda profissional. Esse preconceito é especialmente forte entre os homens, que, influenciados por padrões de masculinidade tóxica, tendem a reprimir suas vulnerabilidades emocionais, aumentando o risco de sofrimento psíquico e comportamentos agressivos.
Além disso, o Brasil apresenta índices alarmantes de transtornos mentais. A Organização Mundial da Saúde (OMS) apontou que, em 2019, o país tinha a maior prevalência de ansiedade no mundo, com cerca de 18,6 milhões de pessoas afetadas. A depressão e o estresse também são preocupantes, impactando a qualidade de vida e a produtividade da população. A violência urbana agrava ainda mais esse cenário, pois a exposição constante a situações de risco pode desencadear transtornos como o Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT), fobias e ataques de pânico.
O impacto da violência é sentido tanto por mulheres quanto por homens. Dados recentes indicam milhares de casos de feminicídio, homicídios dolosos e estupros, além de um alto número de homicídios masculinos. Esse contexto contribui para um ambiente de insegurança que afeta diretamente a saúde mental coletiva, gerando medo, ansiedade e desconfiança nas relações sociais.
Outro fator que contribui para o adoecimento mental é a instabilidade econômica, com desemprego e inflação elevando a pressão sobre os trabalhadores. Em 2024, o Brasil registrou um aumento de 68% nos afastamentos por transtornos como ansiedade e depressão, evidenciando a necessidade urgente de repensar as condições laborais e o suporte oferecido aos profissionais.
No que diz respeito ao atendimento, o acesso a tratamentos psicológicos e psiquiátricos ainda é insuficiente e desigual. A Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) e os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) possuem cobertura limitada, especialmente em regiões como Norte e Centro-Oeste. A sobrecarga dos profissionais e a proliferação de formações rápidas e pouco qualificadas comprometem a qualidade do cuidado. Além disso, a medicalização excessiva, com consultas breves e foco na prescrição de medicamentos, muitas vezes substitui o acompanhamento psicoterapêutico necessário para tratar as causas profundas do sofrimento.
Superar o preconceito e ampliar o acesso a serviços qualificados são passos essenciais para transformar a saúde mental em uma prioridade nacional. Políticas públicas bem estruturadas podem promover acolhimento psicossocial, fortalecendo a resiliência emocional e permitindo que as pessoas vivenciem suas fragilidades sem medo ou vergonha. O Brasil já avançou, mas ainda há um longo caminho para garantir que o cuidado psicológico seja naturalizado e acessível a todos, contribuindo para uma sociedade mais saudável e equilibrada.