Geração Alpha e o Futuro da Remuneração: Repensando Valor e Conexão no Trabalho

Como os valores e expectativas da Geração Alpha desafiam os modelos tradicionais e inspiram uma remuneração mais flexível, personalizada e significativa

A Geração Alpha já começa a ocupar seus primeiros espaços no mercado de trabalho. Nascidos a partir de 2010, são os primeiros nativos digitais em sua essência, crescendo em um mundo hiperconectado, diverso e em constante transformação. Seus valores, interesses e motivações acendem um alerta importante para nós, profissionais de Recursos Humanos: chegou a hora de repensar a forma como estruturamos o trabalho e, principalmente, como recompensamos as pessoas por ele.

Não dá mais para continuar fazendo como sempre foi feito. Para essa nova geração, a remuneração precisa ir muito além de salário fixo e benefícios padronizados. Eles enxergam a carreira não como uma escada linear, mas como um conjunto de experiências significativas, projetos com propósito e relações de troca que façam sentido. Seus critérios de escolha profissional vão além do cargo ou do valor financeiro. Eles querem flexibilidade real, não apenas a possibilidade de trabalhar de casa. Valorizam propósito, ética e impacto social. Esperam personalização, jornadas adaptáveis e desenvolvimento contínuo. Estão habituados à velocidade da informação e à presença constante da tecnologia, e esperam que isso também se reflita na forma como são avaliados, reconhecidos e recompensados.

O problema é que os sistemas tradicionais de remuneração não conversam com essas expectativas. Grande parte das estruturas atuais ainda está baseada em modelos pensados para outra época, focados em estabilidade, linearidade e tempo de casa. Grades de cargos, planos fechados de carreira, bônus anuais e benefícios pouco flexíveis deixam de dialogar com o que essa geração busca: autenticidade, autonomia e sentido. Além disso, muitos programas falham em reconhecer contribuições reais com a agilidade e o significado que essa geração espera, impactando diretamente o engajamento de jovens que cresceram com feedbacks instantâneos e recompensas em tempo real.

Pensar o futuro da remuneração passa por compreender que o que está em jogo é a experiência completa das pessoas no trabalho. A remuneração deixa de ser uma equação financeira para se tornar uma construção de valor. E valor, para essa geração, é tudo aquilo que fortalece a conexão com quem se é e com aquilo em que se acredita. Isso inclui salário, claro, mas também aprendizado, bem-estar, reconhecimento, liberdade de escolha, pertencimento e impacto.

É nesse contexto que a ideia de Remuneração Total se torna ainda mais relevante. Não como um conjunto fixo de itens, mas como uma proposta viva e flexível, que integra diferentes formas de reconhecer, atrair e reter talentos. Isso significa oferecer benefícios personalizáveis, utilizar a tecnologia para tornar o processo de reconhecimento mais transparente e acessível, valorizar o bem-estar mental e emocional, promover ambientes de aprendizado contínuo e incluir os líderes nesse processo como agentes de escuta, incentivo e conexão.

Reconhecer por valor gerado e não apenas por tempo ou presença também se torna central. Modelos por projeto, mobilidade interna e novas formas de atuação ganham espaço. Um bom exemplo disso é o Job Crafting, conceito que propõe que os próprios colaboradores moldem seus papéis com base em seus interesses, pontos fortes e propósito. Isso pode acontecer quando alguém ajusta suas tarefas, busca novas conexões dentro da empresa ou ressignifica o impacto do seu trabalho. Quando a pessoa sente que pode influenciar o seu jeito de trabalhar, a experiência de valor se fortalece e o RH precisa estar atento para reconhecer e apoiar esses movimentos.

A chegada da Geração Alpha ao mercado de trabalho não é uma questão futura. É um chamado para agora. Essa geração já está em nossos programas de aprendizagem, nos estágios iniciais e nas novas formas de ocupação que estão surgindo. E o RH que deseja continuar relevante precisa escutá-los desde já.

Este artigo não traz uma receita de bolo. Não há verdades absolutas, tampouco modelos prontos para copiar e colar. O que existe é um movimento em curso, cada vez mais presente, que nos convida a repensar o papel da remuneração nas organizações. A remuneração do futuro começa quando deixamos de olhar apenas para números e passamos a olhar para pessoas. Quando entendemos que reconhecer não é apenas pagar, mas valorizar, incluir e conectar. Remuneração, nesse novo tempo, não é apenas cálculo. É conexão. Conexão com valores, com cultura, com pessoas e com os tempos que vivemos. E para isso, quem atua com Remuneração precisa estar disposto a desaprender, experimentar e reconstruir.

A Geração Alpha pode estar apenas começando, mas já está nos dando um importante recado: não é possível construir o novo com ferramentas antigas.

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Por Samara Xavier

especialista em Remuneração Estratégica, Coordenadora de Remuneração e Benefícios na Voke, líder do Grupo de Estudos de Remuneração da ABRH-MG

Artigo de opinião

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