Segurança no Trabalho: Uma Responsabilidade de Toda a Empresa

Por que a gestão da segurança não pode ser delegada apenas ao RH e como a NR-1 redefine esse papel

Quem é, afinal, o responsável pela segurança de um colaborador? A pergunta pode parecer simples, mas expõe um problema recorrente no ambiente corporativo: tratar a Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), que estabelece diretrizes gerais para a gestão de segurança e saúde no trabalho, como um tema restrito a um único setor. Quando isso acontece, a empresa como um todo perde.

Para entender o cenário, é preciso olhar para os números. Segundo dados do Ministério do Trabalho e Emprego, o Brasil registrou 724.228 acidentes de trabalho em 2024. Do total, 74,3% foram acidentes típicos, ou seja, ocorridos durante a execução das atividades profissionais. Outros 24,6% ocorreram no trajeto entre casa e trabalho, enquanto apenas 1% esteve relacionado a doenças ocupacionais. Em termos de gravidade, 61,07% resultaram em afastamentos de até 15 dias, e 11,91% exigiram afastamentos mais longos, acima de duas semanas.

Diante desses dados, torna-se evidente a importância das Normas Regulamentadoras (NRs), que não são sugestões ou boas práticas, mas normas com força de lei, elaboradas para preservar a vida e a integridade física e emocional dos trabalhadores.

A NR-1, em especial, passou por importantes atualizações nos últimos anos. Com a incorporação do Gerenciamento de Riscos Ocupacionais e do Programa de Gerenciamento de Riscos, ela passou a exigir das empresas uma postura mais ativa e estratégica diante dos perigos que rondam o ambiente de trabalho.

Essa responsabilidade vai além da segurança física. Em um contexto de alta nos casos de depressão, ansiedade e burnout, a NR-1 também se conecta à saúde mental dos trabalhadores. A pandemia apenas escancarou um quadro que já vinha se formando, com ambientes tóxicos, metas desumanas, sobrecarga e lideranças despreparadas para lidar com o sofrimento psíquico das equipes. São fatores que muitas vezes não aparecem nos laudos médicos imediatamente, mas se revelam no aumento do turnover e na queda da produtividade.

Por isso, empresas que investem em ações preventivas, como treinamentos, canais de escuta ativa, apoio psicológico estruturado e capacitação de lideranças, saem na frente. Não se trata de modismo, tampouco de assistencialismo, mas de uma gestão com impacto direto na sustentabilidade da operação.

Há ainda recortes que não podem ser ignorados. As mulheres, por exemplo, enfrentam com mais frequência sobrecarga emocional, microagressões e assédio. São também as que mais adoecem mentalmente no ambiente de trabalho, em razão de cobranças silenciosas, muitas vezes invisíveis.

Para essas e outras realidades, a NR-1 oferece um caminho objetivo que determina às empresas o mapeamento de riscos, acompanhar indicadores e ajustar práticas conforme as condições reais do trabalho. O objetivo não é apenas cumprir uma exigência legal, mas construir ambientes mais seguros, humanos e sustentáveis.

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Por Patricia Ansarah

Psicóloga organizacional, precursora do conceito de segurança psicológica no Brasil, com mais de 20 anos atuando em RH e como executiva de grandes empresas, fundadora de instituto relacionado à segurança psicológica.

Artigo de opinião

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