Telemedicina no Brasil: Uma Solução Urgente para a Desigualdade no Acesso à Saúde

Como a tecnologia pode superar barreiras geográficas e transformar o atendimento público no país

O Brasil é um país de dimensões continentais, com uma população de mais de 200 milhões de pessoas espalhadas por regiões com características geográficas, econômicas e sociais muito distintas. Essa diversidade representa um grande desafio para a oferta de serviços públicos de qualidade, especialmente na área da saúde. De acordo com o estudo “Demografia Médica no Brasil 2024”, divulgado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), o número de médicos no país quase dobrou nos últimos 14 anos, passando de 304 mil em 2010 para aproximadamente 576 mil em 2024. Apesar desse crescimento expressivo, a distribuição dos profissionais ainda é muito desigual entre as regiões e estados brasileiros.

Enquanto o Distrito Federal conta com 6,3 médicos por mil habitantes, o Maranhão tem apenas 1,3. As capitais, que abrigam 23% da população, concentram 52% dos médicos, enquanto o interior, com 77% da população, conta com apenas 48% dos profissionais. Em Roraima, por exemplo, 97% dos médicos estão em Boa Vista, que possui 65% da população do estado. Essa desigualdade na distribuição de médicos tem consequências graves para a saúde da população, especialmente nas regiões mais remotas e carentes do país. A falta de acesso a especialistas, a demora no atendimento e a dificuldade de realizar exames e diagnósticos são problemas que afetam milhões de brasileiros e que contribuem para o aumento de doenças graves e a superlotação dos hospitais.

Diante desse cenário, a telemedicina desponta como uma solução eficaz para democratizar o acesso à saúde, oferecendo atendimento qualificado e abrangente a um custo acessível. Por meio de plataformas digitais, ela conecta médicos e pacientes à distância, viabilizando consultas, exames, diagnósticos e tratamentos sem a necessidade de deslocamento físico. Embora não seja uma novidade no Brasil, ela é regulamentada desde o fim de 2022, a telemedicina pode ser adotada como política pública por estados e municípios, conforme suas demandas. A pandemia de Covid-19, no entanto, impulsionou significativamente sua utilização, evidenciando seu potencial de transformar o sistema de saúde no país.

Um exemplo bem-sucedido de telemedicina no SUS é o programa Piauí Saúde Digital, desenvolvido pelo governo do estado. A iniciativa oferece teleconsultas com clínico geral 24 horas por dia, sete dias por semana, acessíveis a toda a população por meio de um aplicativo que também permite o monitoramento de sinais vitais, como pressão arterial, temperatura e níveis de estresse. Além da plataforma digital, o programa contempla a realização de eletrocardiogramas (ECG) em protocolos de triagem e check-up voltados a grupos com maior risco de doenças cardíacas, em mais de 400 unidades de saúde. Os exames são feitos por técnicos de enfermagem e laudados remotamente por cardiologistas, por meio de um sistema seguro e conectado à internet.

A tecnologia utiliza inteligência artificial (IA) e internet das coisas (IoT) para antecipar diagnósticos e reduzir a mortalidade por doenças cardíacas, como infarto agudo do miocárdio (IAM) e acidente vascular cerebral (AVC). Os laudos de ECG são avaliados em até 20 minutos e, quando há alguma alteração grave detectada pela IA, o exame recebe prioridade e é entregue em menos de 5 minutos. Em pouco mais de um ano de implementação, o programa já apresentou resultados impressionantes. Segundo dados do Data SUS, a mortalidade por Infarto Agudo do Miocardio (IAM) caiu 27,33% e as mortes por AVC caíram 28,4% no estado. Além disso, o Piauí alcançou o menor tempo de espera para consultas pelo SUS entre os 27 estados do país, com uma média de 10,8 dias, segundo matéria do Estadão.

A utilização da Telemedicina também permite uma maior gestão de dados de saúde, fornecendo painéis com informações em tempo real para o planejamento de políticas públicas. A integração da plataforma de laudos com 90% dos equipamentos disponíveis no mercado, por meio do IoT, permite que a tecnologia seja implementada em larga escala, sem a necessidade de adquirir novos equipamentos.

A telemedicina não é uma solução mágica para todos os problemas da saúde no Brasil, mas é uma ferramenta que pode ajudar a superar muitos dos desafios que enfrentamos, como a desigualdade na distribuição de médicos, a falta de acesso a especialistas, a demora no atendimento e a dificuldade de realizar exames e diagnósticos.

O Brasil vive uma contradição: tem quase 600 mil médicos formados, mas milhões de pessoas sem acesso regular a atendimento. Enquanto essa desigualdade persistir, qualquer discurso sobre saúde pública universal será apenas retórico. A telemedicina, já regulamentada e funcional, é hoje uma das poucas ferramentas capazes de vencer a geografia, a escassez de especialistas e a morosidade da máquina pública. Portanto, ignorá-la como política de Estado é desperdiçar a oportunidade de transformar radicalmente a forma como o Brasil cuida de sua população.

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Por Rafael Figueroa

Empreendedor serial, especialista em machine learning, CEO da Portal Telemedicina, com impacto em 30 milhões de pacientes por meio de soluções de inteligência artificial em saúde

Artigo de opinião

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