A dor como espaço essencial na ficção contemporânea

Por que a vulnerabilidade e o sofrimento precisam ser representados com dignidade nas narrativas atuais

A dor precisa ter espaço na ficção. Vivemos em uma época que romantiza o escapismo, e tudo bem querer leveza, mas a literatura também precisa ser um lugar onde a dor pode existir com dignidade. Não para ser explorada de forma sensacionalista, mas para ser compreendida. Meus personagens sofrem porque pessoas reais sofrem. Quando um leitor encontra sua própria dor refletida em uma história, talvez ele entenda que não está sozinho. E isso, por si só, já é um tipo de cura. Sempre há esperança.

Tenho escrito histórias cada vez mais emocionais e humanas. Sinto que estou indo em direção a uma escrita mais vulnerável, e isso é assustador. Eu já escrevi com muita armadura. Hoje escrevo mais nu, com menos medo de expor fragilidades, menos preocupado com heróis perfeitos. Essa entrega maior exige um nível de exposição que pode ser doloroso, mas também libertador.

A presença de uma criança na narrativa, como no caso de Finn, transforma profundamente a história. Ele é frágil, mas sustenta todos os adultos ao redor, mesmo sem consciência disso. Para mim, Finn representa aquela parte nossa que sobrevive mesmo depois do caos — o instinto de amar e ser amado, o que resta quando o mundo desaba.

Personagens como Grace, que entram na história sem a intenção de salvar ninguém, acabam salvando a si mesmos. Isso reflete uma verdade universal: muitas vezes tentamos resolver problemas práticos sem perceber que estamos tentando preencher algo mais profundo. O afeto é o que transforma, e esse tipo de reviravolta é o que sempre me seduz na ficção e na vida.

Publicar histórias que abraçam a vulnerabilidade e a dor é uma aposta. Aposto que o leitor está pronto para narrativas mais agridoce, menos previsíveis e mais reais. Acima de tudo, acredito que a vulnerabilidade pode ser o maior ponto de força de uma narrativa.

J

Por Jhonatas Nilson

escritor e psicólogo com mais de 60 obras publicadas, best-seller no Brasil e na Itália

Artigo de opinião

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