Outubro Rosa: Uma Abordagem Integral para a Saúde da Mulher
Por Lorenna Emília Sena Lopes
O Outubro Rosa é uma campanha mundialmente reconhecida por conscientizar a população sobre o câncer de mama, promovendo a detecção precoce e o acesso ao tratamento. Como pesquisadora da Universidade Tiradentes, na área de Saúde Sexual e Reprodutiva, ressalto que essa iniciativa vai além da disseminação de informações sobre câncer de mama. Embora o foco primário seja a detecção precoce e o tratamento do câncer de mama, o movimento busca a sensibilização para o cuidado integral da saúde feminina, e aproveita para orientar sobre o câncer de colo do útero, que é altamente prevenível e também precisa ser abordado com atenção e responsabilidade.
A Importância da Prevenção e Detecção Precoce
Além da realização dos exames de imagem, existem outras formas de prevenção que consistem na combinação de hábitos de vida. Estes hábitos incluem a prática regular de exercícios físicos, a ingestão de alimentos saudáveis, o controle do peso corporal visando evitar o sobrepeso e a obesidade. Assim como limitar o consumo de álcool e evitar o uso prolongado de terapias hormonais, especialmente após a menopausa. A amamentação também pode ser uma aliada da mulher, sendo considerada um fator protetivo comprovado.
Tratando-se de exames, a mamografia é mais eficaz para a detecção precoce do câncer de mama, recomendada pela Sociedade Brasileira de Mastologia, a partir dos 40 anos, em mulheres sem histórico familiar desta patologia. O autoexame, embora não substitua a avaliação realizada por profissionais, também é útil para que a mulher conheça seu corpo e possa identificar alterações. O apoio psicológico, para cuidar da saúde mental, também faz parte de uma abordagem preventiva completa, ajudando a reduzir os impactos do estresse no bem-estar geral.
Em relação ao rastreamento do câncer de colo do útero, a medida mais incentivada é o exame Papanicolau (citopatológico), recomendado para mulheres entre 25 e 64 anos que iniciaram a vida sexual. A prevenção é possível mediante o uso de preservativo, além disso, da vacinação contra o HPV, oferecida pelo SUS para meninos e meninas de 9 a 14 anos. Essas ações preventivas reduzem drasticamente o risco desse tipo de câncer, o qual, quando detectado precocemente, tem altas chances de cura.
Fatores de Risco e Grupos de Maior Risco
É imprescindível reconhecer os fatores de risco para facilitar na conscientização da prevenção. Entre eles, destaca-se a idade, pois o risco aumenta significativamente após os 50 anos, com a maioria dos casos ocorrendo em mulheres entre 50 e 69 anos.
O histórico familiar e genético também possuem relevância. Mulheres com parentes de primeiro grau (mãe, irmã, filha) que tiveram câncer de mama ou câncer de ovário são consideradas de risco elevado para o desenvolvimento do câncer de mama, e deverão iniciar a realização da mamografia 10 anos antes em relação a mulheres sem antecedentes familiares. Alterações genéticas, como mutações nos genes BRCA1 e BRCA2, também aumentam o risco.
A obesidade, especialmente após a menopausa, e a falta de atividade física estão associados ao aumento do risco, em razão dos efeitos do acúmulo de gordura sobre os níveis de estrogênio, que quando elevados, principalmente pelo uso prolongado de terapia hormonal (TRH) durante a menopausa, menarca precoce (início da menstruação antes dos 8 anos) e menopausa tardia (após os 55 anos) também aumentam o risco de câncer de mama.
Outro fator é a ingestão regular de álcool, que, mesmo em menores quantidades, está ligada ao aumento do risco de desenvolver câncer de mama.
Esses fatores, combinados com outros fatores comportamentais e ambientais contribuem para a complexidade dos fatores de risco do câncer de mama.
As mulheres após os 50 anos são as mais atingidas no Brasil, e essa faixa etária é o principal alvo das campanhas de rastreamento. Embora o câncer de mama tenha prevalência mais elevada nas regiões Sudeste e Sul, devido à densidade populacional, os casos vêm aumentando no Nordeste e Centro-Oeste.
Exames preventivos e onde realizá-los
Os principais exames para a detecção precoce incluem:
- Mamografia: O exame mais importante, oferecido pelo SUS para mulheres a partir dos 40 anos anualmente. Muitas cidades intensificam as mamografias durante o Outubro Rosa, com mutirões em regiões mais remotas.
- Ultrassonografia: Indicado para mulheres jovens ou com mamas densas, complementa a mamografia.
- Autoexame: Embora não substitua exames clínicos, o autoexame pode ajudar a identificar alterações nas mamas.
Esses exames estão disponíveis em hospitais públicos e redes privadas em todo o Brasil, com serviços especiais durante o Outubro Rosa.
Prevenção na Universidade
Na Universidade Tiradentes (Unit), Aracaju, Sergipe, existe uma iniciativa para rastreamento de câncer de mama e de colo de útero durante todo o ano, é o Consultório de Atendimento Integral à Saúde da Mulher (CAISM). O CAISM é vinculado ao curso de enfermagem e oferece consultas ginecológicas gratuitas à comunidade acadêmica (discentes e funcionários), que incluem exames citopatológicos e exames clínicos das mamas. Além disso, também realiza testagem rápida para infecções sexualmente transmissíveis, oferta de preservativos, e promove ações internas e externas de educação em saúde voltada ao cuidado geral à população feminina.
Em 2024, já foram realizadas aproximadamente 400 consultas ginecológicas, superando o ano de 2023, quando 325 mulheres foram atendidas. A expectativa é realizar mais de 500 atendimentos este ano, visto que no mês de outubro a procura é intensa. Além da oferta dos serviços, a proposta é proporcionar um ambiente acolhedor e educativo, em que as profissionais de saúde juntamente com os docentes sensibilizam e realizam educação em saúde para que as informações possam também alcançar outras mulheres.
Prognóstico e tratamento do Câncer de Mama
O prognóstico do câncer de mama depende de diversos fatores, como o estágio da doença no momento do diagnóstico, o tipo de câncer, e a resposta ao tratamento. Quando detectado precocemente, o câncer de mama tem um prognóstico favorável, com taxas de sobrevida superiores a 90% nos casos em que o tumor ainda está localizado na mama e não se espalhou para os linfonodos ou outros órgãos.
Os estágios mais avançados, nos quais o câncer já se disseminou (metástase), têm um prognóstico menos otimista, com taxas de sobrevida variando de acordo com a extensão da disseminação e o tipo específico de tumor. Tipos de câncer de mama, como o receptor hormonal positivo (HER2 positivo ou triplo negativo), também influenciam a resposta ao tratamento e o prognóstico.
Tratamentos modernos, incluindo quimioterapia, radioterapia, cirurgia, terapias hormonais e imunoterapias, têm contribuído significativamente para melhorar a sobrevida e a qualidade de vida das pacientes. Além disso, reforça-se que o acesso ao diagnóstico precoce é fundamental para melhorar o prognóstico geral.
Fatores como idade, estado de saúde geral, e histórico familiar também desempenham um papel importante no desfecho da doença. Os tratamentos variam conforme o estágio da doença e incluem:
- Cirurgia: Mastectomia (parcial ou total) dependendo da extensão do tumor.
- Quimioterapia e radioterapia: Usadas para destruir células cancerígenas após a cirurgia ou em casos mais avançados.
- Terapias hormonais e imunoterapias: Tratamentos específicos para tumores que respondem a hormônios ou têm características moleculares.
Lorenna Emília Sena Lopes – Doutora e Mestre em Saúde e ambiente – Universidade Tiradentes Pós-graduada em Obstetrícia e Neonatologia