Caos digital: as redes sociais estão, de fato, devorando a sanidade dos jovens?
Por Lilian Carvalho
Ah, a era digital. Seria ela um grande abismo onde a juventude mergulha de cabeça, guiada pela promessa de conexão infinita, apenas para se encontrar afogada em um oceano de ansiedade e depressão? Jonathan Haidt, em seu último grito de guerra disfarçado de livro, “The Anxious Generation”, pinta um quadro digno do apocalipse digital. Segundo ele, as redes sociais são grandes vilãs, responsáveis por catapultar os casos de ansiedade e depressão entre adolescentes americanos para números estratosféricos. Imaginem só, um mundo onde os jovens estão tão enredados em suas inseguranças virtuais que esquecem como é a luz do sol ou o riso de um amigo ao vivo e em cores.
Parece o roteiro de um filme de ficção científica ruim, não é? Uma mistura bizarra de “Matrix” com “O Senhor das Moscas”, onde os adolescentes são abandonados em uma ilha digital sem supervisão, lutando por likes e seguidores como se fossem água no deserto. Mas vamos lá, será que Haidt está realmente nos vendendo a verdade, ou apenas mais um capítulo de paranoia coletiva?
Vamos aos fatos: Haidt não nos oferece um experimento controlado, nada mais do que conjecturas temperadas com uma pitada de pânico moral. Em 2023, pesquisadores europeus¹, do Reino Unido e da Holanda, decidiram realmente investigar essa suposta ligação direta entre o uso das redes sociais e o declínio da saúde mental. E adivinhem? A grande revelação foi que não há evidências concretas que sustentem essa teoria do caos digital.
Mas por que deixar que fatos estraguem uma boa história de terror tecnológico? Afinal, conflitos entre gerações são tão antigos quanto a própria humanidade. Meus queridos da Geração X, lembram-se dos velhos tempos quando a televisão era o monstro devorador de almas? Ou para os millennials, o que dizer dos videogames violentos que supostamente transformariam todos em assassinos em potencial? Sim, o massacre de Columbine, em 1999, foi tragicamente associado aos videogames, mas, olhando para trás, percebemos o quão simplista era esse argumento.
Portanto, antes de declararmos as redes sociais como a fonte de todos os males da saúde mental juvenil, talvez devêssemos dar um passo atrás e olhar o quadro maior. Problemas de saúde mental são complexos e multifacetados, e seria ingênuo apontar um único culpado.
O desafio real não é demonizar as redes sociais, mas sim entender como podemos navegar neste mundo digital de forma saudável. Precisamos de um diálogo intergeracional que vá além do pânico e da desconfiança. Afinal, se sobrevivemos à TV e aos videogames, talvez – só talvez – também possamos encontrar um caminho para coexistir pacificamente com as redes sociais.
Ou será que estamos apenas em negação, esperando a próxima grande crise digital nos engolir vivos? Só o tempo dirá.
(*) Lilian Carvalho é PhD em Marketing e coordenadora do Centro de Estudos em Marketing Digital da FGV/EAESP