Perda auditiva na terceira idade é fator de risco para desenvolvimento de demência
No Brasil, cerca de 1,5 milhão de pessoas vivem com alguma forma de demência e 100 mil novos casos são diagnosticados por ano, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em todo o mundo, o número chega a mais de 55 milhões conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS). Condição multifatorial, a deterioração neurocognitiva tem fatores de risco evitáveis e, entre eles, está a perda auditiva. Isso ocorre porque a diminuição das ondas sonoras no cérebro interfere nas atividades cerebrais e, consequentemente, na capacidade cognitiva. O alerta sobre o tema ocorre no Dia Nacional de Prevenção e Combate à Surdez, lembrado hoje (10 de novembro).
De acordo com a neurologista Dra. Roberta Kauark, o preconceito em torno da surdez faz com que muitas pessoas adiem ou até descartem o uso de aparelhos auditivos, mesmo diante das evidências que ligam a perda da audição ao declínio cognitivo. Segundo ela, o uso do aparelho faz com que as conexões neurais não se alterem e evita que o processamento de informações seja afetado.
“Como sabemos, o nosso cérebro é composto por conexões e, num quadro de surdez, algumas áreas começam a se conectar menos. E com o passar do tempo, a pessoa passa a ter dificuldades de compreensão e fala. Pensemos em alguém cujo processo de surdez se iniciou aos 50 anos e só vai buscar ajuda aos 80. Estamos falando de 30 anos em privação auditiva, quadro que afeta o cenário das conexões neurais. É como se fossem formadas lacunas que prejudicam a compreensão e afetam a plasticidade do cérebro, que fica menos ‘afiado'”.
Atualmente diversos estudos mostram que a perda auditiva é um fator de risco para o desenvolvimento de demências. “Então, quanto antes essa perda auditiva for compensada, estaremos agindo para diminuir o risco dessa pessoa vir a ter comprometimento da cognição”, explica.
Demência é o declínio da capacidade cognitiva e acontece por diversos motivos, como infecções, falta de vitaminas. Os idosos apresentam maior suscetibilidade de desenvolverem a demência, uma vez que o cérebro já suportou processos degenerativos que prejudicaram a cognição.
Dra. Roberta aponta que o uso dos aparelhos auditivos contribuem na redução dos riscos de desenvolver demência ocasionada pela perda auditiva, uma vez que eles permitem ao paciente ouvir os sons com maior nitidez, e assim, possibilita que o cérebro se mantenha ativo. “Se nós conseguimos minimizar essa perda auditiva, nós diminuímos o risco das demências em idosos. É um fator controlável”, afirma.