Mulheres utilizam escrita terapêutica para reavaliarem passado e inspirarem outras pessoas
Diferentes relatos de pessoas que superaram luto, transformações de vida e até cura de doenças graves tem se tornado livros
Superar alguns acontecimentos na vida exige uma boa organização interna e emocional. Nem sempre lidamos bem com um acontecimento ruim, como a morte, o diagnóstico de uma doença ou até mesmo uma transição de carreira. Uma ferramenta importante que pode ser utilizada em fases desafiadoras da vida é a escrita terapêutica, que ajuda a pessoa a colocar no papel o que está sentindo. A psicologia já utiliza essa ferramenta há muitas décadas.
Ana Suarez, por exemplo, escrevia artigos científicos e livros na área da saúde, mas a escrita tornou-se uma ferramenta terapêutica quando ela decidiu rever parte da sua própria história em forma de uma autobiografia, o que de alguma forma a fez reviver suas experiências e também avaliar por outra perspectiva a visão que ela tinha sobre sua própria trajetória. “Eu sempre coloquei literalmente no papel tudo o que vivia, em agendas e papéis avulsos, que guardei ao longo da minha vida, fatos envolvendo experiências durante meu estudo de medicina veterinária, meu trabalho como cientista, um câncer e sua cura, depressão e o burnout. Sim, eu fui organizando os acontecimentos com a ajuda da escrita e no final isto virou uma trilogia!”, explica ela.
Depois de escrever seus primeiros 4 livros (2 Infantis) Ana desenvolveu uma mentoria, Um livro Pra Chamar de Seu, e desde então, ela ajuda outras pessoas a escreverem sobre os seus desafios e torná-los livros. Em 2021, depois de concluir várias dessas mentorias, Ana Suarez fundou a Editora Flow, a primeira editora brasileira focada em histórias de superação.
Entre as diversas mulheres que Ana ajudou no processo da escrita estão a arquiteta Valeria Paglioni, a empresária Renata Carvalho e a terapeuta Evelin Lima, hoje autoras. As três enfrentaram perdas, em circunstâncias trágicas, de pessoas queridas.
Valeria Paglioni tinha 7 anos quando perdeu os pais, depois disso ela e suas duas irmãs pequenas foram morar com a tia viúva no interior de São Paulo, em Echaporã, ganhando naquele momento mais 5 irmãs adotivas. O livro sobre as aventuras e desafios vividos naquela casa onde viviam muitas mulheres ganhou o nome de “A casa das 9 mulheres”. A autora acredita que as dores e perdas da vida podem ser experimentadas de forma leve e suave se acompanhados de otimismo, determinação e guiados por um propósito de vida.
De Guaratinguetá, no interior de São Paulo, Renata lidou com a separação do primeiro marido e a morte precoce e trágica do segundo, agora está se casando novamente. Para ela, a vida é uma experiência única e reviver os momentos por meio da escrita foi ato de coragem, mas também de esperança diante de tantas coisas boas que aconteceram e acontecerão. “No exercício da escrita esse é um dos momentos mais marcantes. Depois da morte do meu marido, eu tive que recomeçar praticamente do zero, o que foi desafiador, mas também passei por vivências boas, importantes. O maior propósito da obra, que começa na escrita, é reforçar que nascemos para sermos felizes, que não somos o que aconteceu conosco e que através da escolha pelo amor podemos vencer todos os desafios”, explica ela. A trajetória de Renata está no livro autobiográfico O maior de todos os amores, publicado pela Flow.
Outra mulher que viveu momentos difíceis foi Evelin Lima, nascida em Bauru-SP, atualmente mora em Uberlândia. Ela encarou a depressão depois de perder o pai e o marido. Depois de 4 meses de mentoria com a Ana, Evelin acaba de lançar o livro Você consegue sair dessa, também publicado pela Flow. Para ela, “foi desafiador ter que reviver todos os momentos na hora de escrever. Ao mesmo tempo, foi importante organizar essas ideias, lidar com isso colocando literalmente no papel”, comenta ela. Hoje, Evelin entende que sua obra pode ajudar outras pessoas!
A editora possui outras obras publicadas na mesma linha. Segundo Ana, tem se tornado cada vez mais necessário falarmos dessas histórias que envolvem transtornos como ansiedade, depressão e burnout, por exemplo, que atualmente atingem milhares de pessoas pelo mundo inteiro, bem como fatalidades e doenças. “Cada história, contada através de um livro, busca alertar, mas acima de tudo inspirar e acolher pessoas que muitas vezes estão passando por problemas semelhantes e acham que aquela situação é o fim de suas vidas. Histórias como essas mostram como somos seres humanos vulneráveis e que juntos podemos nos ajudar, inclusive por meio da leitura e da escrita terapêutica”, conclui ela.