Ednaldo Freire oferece ao público o biscoito fino de Martins Pena em O DILETANTE

Mostrar o biscoito fino escondido atrás da obra de Martins Pena – comediógrafo que influenciou toda uma geração de dramaturgos e conferiu um sentido nacional para o teatro brasileiro, na época colonizado, com os intérpretes atuando com sotaque português porque era chique – é o desejo de Ednaldo Freire. O diretor artístico garante que O DILETANTE  – espetáculo que estreia dia 4 de maio no Teatro Giostri – é uma grande comédia, com comicidade, música, que trilha o tom do teatro de costumes e tem a proposta de de divertir e mostrar os tipos humanos, com seus os problemas familiares e sociais.

 “A ideia é apresentar um grande autor, que, com sua crítica de costumes da época, é bastante atual. O fenômeno da comédia é isso. Na verdade, uma comédia não morre enquanto o homem não se corrigir. Como dizia Molière, ‘é rindo que se corrigem os costumes’.”  Freire está certo de que a peça traz um ponto de reflexão através do riso. Para ele, uma boa comédia, além de divertir, tem a função de advertir. “No teatro de Martins Pena estão não só as raízes do moderno teatro brasileiro no gênero cômico como também da literatura dramática brasileira. Daí a necessidade de estudá-lo para que se tenha uma ampla visã o sob re os fenômenos literários e teatrais do passado e do presente. Até do ponto de vista linguístico, literário ou dramático.” A montagem conta com direção de movimento de Ciro Barcellos, direção musical e composição de Tato Fischer, cenário e figurino de Kleber Montanheiro. Elenco formado por Alexia TwisterNayara RochaMillena TomazFelipe CalixtoMarcos ThadeusHenrique Vasques e Tato Fischer, que também estará ao piano junto do músico percussionista China Cunha.

 Um maestro na encenação

Ednaldo propõe “realçar os aspectos cômicos da obra através da orientação de uma interpretação farsesca, hiperbólica, pré-estanilslaviquiana, que é uma herança dos intérpretes circenses com sua técnica de comunicação popular, onde se destacam as triangulações, as pontes, buscando uma comunicação direta, uma cumplicidade com o público”. Na montagem, o diretor acrescentou a figura do maestro, que, além de contextualizar a importância do autor, costura as cenas com comentários rítmicos onde se realçam as ações dos personagens. “Ele assume a função de um compadre de revista – figura criada depois por Artur Azevedo, uma espé cie de mestre de cerimônia, que vai apresentando e contextualizando o espetáculo.”

 A peça

O Diletante é uma peça teatral em um ato, do gênero comédia de costumes, escrita por Martins Pena, em 1844. O autor faz uma sátira do gosto pela ópera, que havia se tornado uma moda no Rio de Janeiro naquele ano. Como em outras obras, faz um contraponto entre o gosto popular e o erudito. José Antonio pretende casar sua filha com um tenor para satisfazer sua predileção musical. A palavra diletante tem origem no idioma italiano: “dilettante”, cuja tradução está ligada a encantar. O conceito geralmente se refere a alguém que ama a algum ramo da ciência ou da arte ou que tem um grande conhecimento sobre isso.

O Diletante traz, além do povo brasileiro em cena, como protagonista, também uma modernização, com os atores falando no vernáculo da época, o português do Brasil, além do sopro nacional nas temáticas e uma crítica social. Em O Diletante, Ednaldo Freire aponta: “encontra-se a figura do colonizado, do burguês que acha que o que vem de fora, da Itália e da França, era mais civilizado, negando totalmente a cultura popular brasileira. Daí o contraponto de dois personagens – o diletante/ amante da ópera que só enxerga esta como única arte musical possível e o paulista que entra em cena como se fosse o representante do iletrado, ma s que tem uma bagagem de música popular”.

 Cenografia com toques de modernidade

Na cenografia de Kleber Montanheiro trabalhou com poucos elementos, comportando um painel de fundo estampado com imagem de uma família aristocrata, do meio do século 19, que joga migalhas para os escravos. Ednaldo Freire pediu uma reprodução de quadro de Debret: ““o contexto realista social está sendo colocado para que o público capte a época. O espetáculo segue sem a pretensão realista e sim com a pretensão farsesca e hiperbólica para realçar o riso e, consequentemente, o ridículo”, afirma. Montanheiro detalha a cenografia: “O conceito de mesclar o antigo com toques de modernidade está no piso imitando madeira, na coloração do cenário e nas laterais vazadas. A cortina de veludo vermelho na frente, sobe e d esce, para realçar a teatralidade de Martins Pena e o Teatro de Costumes. Luminárias se apoiam nestas laterais e o sofá duplo tem design um pouco mais contemporâneo”.

Paleta multicor no figurino

Também criação de Kleber Montanheiro, o figuro trabalha com paleta multicor em tons pasteis ou queimados, dependendo da personagem, para brincar com a comicidade do texto. Tem personagens em tons de azul, outro em ferrugem e rosa velho. A filha usa tons de lilás e azulado. O desenho tem inspiração na época, com anáguas, estruturas armadas, rendas, sapato de verniz e colete de veludo Multiartista com 30 anos de carreira, indicada a mais de 25 prêmios no teatro, Kleber dirigiu, entre outros, Ópera do Malandro, de Chico Buarque de Holanda; Carmen, a Grande Pequena Notável, de Heloísa Seixas e Júlia Romeu; Nossos Ossos, do livro homônimo de Marcelino Freire, e Tatuagem, um musical adaptado do filme de Hilton Lacerda, da qual recebe u indicações ao prêmio Bibi Ferreira e venceu o prêmio APCA como melhor diretor. Por Carmen, a Grande Pequena Notável, recebeu o Prêmio São Paulo de melhor figurino. Foi indicado ao prêmio DID – Destaque imprensa Digital como melhor diretor pelo espetáculo musical Tatuagem.

Direção de movimento

 O coreógrafo, ator,  bailarino e diretor cênico Ciro Barcellos, um dos  coreografou os números musicais, marcando os passos de dança mais propriamente. “Trata-se de uma linguagem coreográfica que remete ao teatro de revista brasileiro, o que me deu liberdade de passear por várias tendências de dança como era de costume no estilo teatral da época”, comenta. Ciro é um dos remanescentes do Dzi Croquettes, grupo que sacudiu o showbusiness brasileiro e que alcançou sucesso internacional nos anos 70 com sua mistura de humor e androginia. Ciro integrou a montagem do musical “Hair”, em 1970. Realizou cor eografias para shows e musicais da TV Globo e artistas como Ney Matogrosso e Gal Costa.

 Direção musical

 Tato Fischer assina composição s direção musical, além de estar me cena. Cantor e compositor, um dos fundadores do  lendário Grupo Mambembe de Teatro, com Carlos Alberto Soffredini, está no teatro desde 1972. Primeiro pianista dos Secos & Molhados, integrou as companhias de Maurice Bejárt e de Pina Bausch. Coreografou para as casas de espetáculo Moulin Rouge e Crazy Horses.

 Sobre o autor

 Luís Carlos Martins Pena (1815 – 1848). Dramaturgo, diplomata e introdutor da comédia de costumes no Brasil, considerado o Molière brasileiro. Sua obra caracteriza-se  pelo uso da ironia e humor com que retrata a sociedade brasileira. É patrono da cadeira 29 da Academia Brasileira de Letras.

Ednaldo Freire – diretor artístico

Ator, diretor, cenógrafo e professor de teatro. Ao longo de sua carreira participou de mais de uma centena de montagens teatrais, nas mais variadas categorias. Como  diretor,  encenou  mais  de  noventa  espetáculos.  Foi  aluno  de  Eugênio Kusnet, Antônio Abujamra e Roberto Vignati, entre outros. É formado em educação artística com especialização em artes cênicas, pós graduado em direção teatral. Estudou cursos livres de teatro na Fundação das Artes de São Caetano do Sul, participou como convidado, do workshop para diretores profissionais à convite da Cultura Inglesa, ministrado por Roger Croucher, diretor da Escola de Artes Dramáticas da Real Academia de Londres, participou do projeto Dano- Brasileiro (Brasil/Dinamarca), coordenado pelo diretor dinamarquês, Wolker Quant.

 Lecionou, à convite de Myrian Muniz e Silvio Zilber, por seis anos, na Escola Macunaima de Teatro. Com o dramaturgo Carlos Alberto Soffredini e vários artistas paulistanos, fundam um dos mais importantes grupos da década de 1970: o Grupo Mambembe. Trabalhou na implantação do Projeto Ademar Guerra, no qual orientou por quatro anos consecutivos, grupos da capital e interior paulista. Ministrou palestras, integrou comissões em vários festivais de teatro, inclusive o Mapa Cultural Paulista. Em 2009 Integrou a Comissão Estadual de Cultura Popular da Secretaria do Estado da Cultura do Estado de São Paulo. Muitas vezes premiado, em 1973, 1976 e 1977, recebeu o prêmio governador do Estado de São Paulo nas categorias de cenógrafo, figurinista e direç&ã ;o, respectivamente. Em 1981 é escolhido como diretor revelação pela APCA-Associação Paulista dos Críticos de Arte, pela encenação de “Cala a Boca já Morreu”. Em 1996, juntamente com o dramaturgo, Luis Alberto de Abreu, é agraciado com o prêmio especial do juri pela APCA, pelo projeto “Comédia Popular Brasileira”, criado por ambos na Fraternal Companhia de Arte e Malas Artes. Foi ainda indicado várias vezes para os prêmios : Shell, Mambembe e Apetesp. Em 2002 vence o Prêmio Panamco no Teatro como Melhor diretor e Melhor Espetáculo pelo “Auto da Paixão e da Alegria”. Atualmente é diretor da Fraternal Companhia de Arte e Malas Artes do qual é um dos fundadores desde a década 90.

Ficha técnica

Autor: Martins Pena. Adaptação dramatúrgica: Calixto de Inhamuns. Direção: Ednaldo Freire. Direção e Composição Musical: Tato Fischer.  Direção de Movimento: Ciro Barcellos. Elenco – Alexia Twister, Nayara Rocha, Millena Tomaz, Felipe Calixto, Marcos Thadeus, Henrique Vasques e Tato Fischer , que também estará ao piano junto do músico percussionista: China Cunha. Direção de Produção: Marcos Thadeus. Cenografia e Figurinos: Kleber Montanheiro. Iluminação: André Grywalsky. Visagismo: Atílio Beline Vaz. Arte Visual: Toni Dagostin ho. Designer Gráfico: Formato. Produção Executiva: Bruno Parisoto. Assistente direção: Bruna Marconato. Assessoria de Imprensa: M. Fernanda Teixeira e Macida Joachim /Arteplural. Realização: LP – Limonge Produções

Serviço

O DILETANTE – Estreia dia 4 de maio, quinta, às 20h30Teatro Giostri – Rua Rui Barbosa, 201. Bela Vista – São Paulo. Temporada – de 5 de maio a 4 de junho de 2023. Sextas e sábados às 20h30. Domingos às 19h. No dia 13 haverá sessão às 18h30 (com audiodescrição e libras) e às 20h30. Ingressos – R$ 30,00 (inteira) e R$ 15,00 (meia). Duração: 1h15. Classificação Indicativa: Livre. Não haverá espetáculo dia 14 de maio
Vemda de ingressos – 
https://bileto.sympla.com.br/event/82428/d/192295/s/1295912.

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