Cerca de 50% dos pais desconhecem recomendações sobre sono seguro dos bebês
A médica pós-graduada em Pediatria e Sono Infantil, Dra. Ana Jannuzzi, explica quais são as recomendações para prevenir a síndrome da morte súbita infantil
Uma pesquisa recente da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC – RS) revelou o nível de conhecimento dos cuidadores sobre as diretrizes em relação à prevenção da síndrome da morte súbita infantil. Um dos principais dados mostrou que cerca de 50% dos pais desconhece recomendações sobre sono seguro dos bebês. A médica pós-graduada em Pediatria e Sono Infantil, Dra. Ana Jannuzzi, ressalta que as orientações da Sociedade Brasileira de Pediatria estão alinhadas com as da Academia Americana de Pediatria. Diretrizes essas que tiveram uma atualização no ano, com novas sugestões para o primeiro ano de vida do bebê.
“Ainda corre no imaginário popular que a criança deve dormir de lado e ser enrolada em muitas mantas e cobertores na hora do sono. Essas práticas são sabidamente arriscadas para o sono seguro do bebê. A posição de lado é bastante instável e aumenta o risco da criança cair para a posição de bruços, obstruindo nariz e boca – o que pode causar sufocamento. Estar enrolado em mantas pode sobreaquecer o bebê e também sufoca-lo, já que a manta pode se soltar e cobrir o rosto da criança, que ainda não tem capacidade de liberar as vias aéreas.
Além disso, outra crença popular é que é seguro dormir com a criança no colo na poltrona de amamentação, por exemplo. Esta prática não é recomendada, pois há alto risco da criança cair do colo do adulto e sofrer um traumatismo, além do risco de escorregar do colo e cair entre o corpo do adulto e a poltrona, com risco de sufocamento. Nestes casos é mais seguro ser colocado numa superfície reta, como um colchão, ao lado do adulto”.
Estudo foi realizado com cuidadores de crianças com até um ano de idade:
O estudo da PUC-RS aplicou 642 questionários em todas as regiões do país. Entre os dados do resultado da pesquisa destacam-se: quase 60% dos cuidadores dos bebês receberam orientações do pediatra sobre a melhor postura para dormir (de barriga para cima); 50,6% dos pais acham que essa é a posição mais segura; pouco mais de 44% dos pais ainda deitavam os bebês de lado ao adormecer (não recomendado) e 54,2% fazem uso de berço acoplado ao lado da cama dos pais.
“O melhor lugar para o bebê dormir, entre os primeiros quatro meses até seis meses, é no quarto da família. Essa é uma medida de segurança para diminuir os riscos por síndrome de morte súbita dos lactantes. Alguns pais estendem esse tempo até um ano de idade ou mais – quem decide até quando a criança dormirá no quarto dos pais é a família. A recomendação é que durmam no quarto dos pais em uma superfície separada. Caso a família deseje fazer cama compartilhada, deve estar ciente de recomendações que reduzem o risco da prática (como sempre deitar o bebê de barriga para cima, não usar duas ou mais doses de álcool antes de dormir ao lado do bebê e também não usar qualquer medicamento que aumente a sonolência. Bebês com restrição de crescimento ou que nasceram prematuros não devem compartilhar a cama, pelo maior risco da síndrome da morte súbita do lactente. É importante também, nos demais casos, não compartilhar a cama com os irmãos, a não ser que um cuidador primário durma entre uma criança ou outra, para reduzir o risco de possível sufocamento do bebê”, ressalta a Dra. Ana Jannuzzi.
A amostra do estudo foi composta majoritariamente por mães e pais com alto nível educacional, de classe média e que frequentam clínicas privadas. No entanto, segundo os pesquisadores, os dados mostram que ainda falta informação sobre prevenção da morte súbita infantil.
Dados sobre morte súbita de bebês no Brasil estão desatualizados:
No Brasil, ainda não há dados atualizados sobre a prevalência da síndrome da morte súbita do lactente (SMSL). Na Austrália, a síndrome da morte súbita durante o sono, causa a morte de cerca de 100 bebês por ano. Nos Estados Unidos, a SMSL é a principal causa de morte de bebês com um mês a um ano de idade: 1.389 morreram de SMSL no país em 2020.
Estudo indica possível causa para síndrome da morte súbita do lactente:
Em 2022, um estudo publicado na revista do Lancet, que indicou a possível causa associada à síndrome da morte súbita do lactente: a redução dos níveis da enzima butirilcolinesterase (BChE). A pesquisa realizada no Hospital Infantil de Westmed, na Austrália, comparou os níveis de BChE em 26 bebês que morreram por SMSL, 41 que foram a óbito por outras causas e 655 sobreviventes. O estudo concluiu que os níveis de BChE estavam significativamente mais baixos nas crianças que sofreram morte súbita. A enzima butirilcolinesterase, segundo os pesquisadores, tem um papel importante no sistema nervoso autônomo, que controla funções involuntárias e inconscientes do corpo.
Leia o estudo na íntegra: https://www.thelancet.com/journals/ebiom/article/PIIS2352-3964(22)00222-5/fulltext.
Principais diretrizes para um sono seguro, de acordo com a Academia Americana de Pediatria/ Sociedade Brasileira de Pediatria (2022):
- Sempre colocar a criança para dormir de barriga para cima (também na hora das sonecas);
- O bebê deve dormir no berço, em uma superfície firme e não inclinada. Nada de almofadas, colchões fofos, sofás, entre outros;
- Não devem ser colocados no berço: travesseiros, brinquedos, pelúcias, almofadas, edredons, colchas e lençóis soltos;
- Alimentar o bebê com leite materno (exclusivamente até os 6 meses, e recomendado até os 2 anos);
- Até os seis primeiros meses, o ideal é o bebê dormir no mesmo quarto dos pais (não na mesma cama);
- Evitar sobreaquecer ou cobrir a cabeça da criança durante o sono;
- Evitar fumar, beber e consumir outras drogas durante gravidez e puerpério;
- Colocar o bebê de barriga para baixo em alguns períodos do dia (tummy time). Sempre quando ele estiver acordado, e sempre sob supervisão. Isso deve ser feito desde o nascimento, com aumento do tempo de forma gradual até chegar a um total de 15 a 30 minutos diários;