Na dieta dos homens no Brasil, o alto consumo de gordura contribui para aumentar o risco de câncer de próstata
O percentual de homens adultos no Brasil que consome carnes com excesso de gordura, dependendo da faixa etária, fica entre 50% e 30%. Além disso, também estão presentes na dieta, alimentos ultraprocessados e ingestão diária de refrigerantes. Esse quadro aliado ao baixo consumo de frutas e hortaliças pode aumentar o risco para câncer de próstata
Uma alimentação saudável contribui para prevenção do câncer em geral e isso também vale para o câncer de próstata. Na literatura médica, há pesquisas que apontam a relação entre o consumo excessivo de gordura e o desenvolvimento de câncer de próstata. “Um exemplo recente é o estudo publicado em maio deste ano na revista BMC Medicine*, realizada por pesquisadores da Universidade de Oxford, no Reino Unido, que trouxe mais um sinal de alerta ao relacionar a obesidade a um tipo de tumor de próstata letal”, informa o cirurgião oncológico Gustavo Guimarães, diretor do Instituto de Urologia, Oncologia e Cirurgia Robótica (IUCR) e coordenador geral dos Departamentos Cirúrgicos Oncológicos do grupo BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo. Portanto, é importante abordar a alimentação como fator de prevenção do câncer de próstata durante o Novembro Azul, campanha mundial de conscientização sobre esse tipo de câncer, ressalta o especialista. Para alertar sobre esses e outros cuidados com a saúde é que o engajamento do IUCR na campanha Novembro Azul neste ano acontece por meio de ações nas redes sociais que trazem como mote “Homens que inspiram também cuidam da saúde”.
De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), só neste ano, o Brasil deve ter cerca de 65.840 novos casos de câncer de próstata. Afinal, excluindo os tumores malignos de pele não melanoma, 29,2% dos casos de câncer em homens começam na próstata. Sobre alimentação, um dos fatores preocupantes em relação a esse público é o consumo excessivo de gordura. De acordo com o estudo anual da Vigilância de Fatores de Risco para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), do Ministério da Saúde, que pesquisa as capitais dos estados brasileiros e o Distrito Federal, revelam que o percentual de homens adultos que costumam consumir carnes com excesso de gordura é de 51,52%, na faixa etária entre 18 e 24 anos. Conforme a idade avança, o consumo diminui um pouco, mas ainda é alto: 46,64% (25 a 34 anos); 43,73% (35 a 44 anos); 39,99% (45 a 54 anos); 34,15% (55 a 64 anos); e 31,72% (mais de 65 anos). O consumo de carnes com excesso de gordura entre os homens é, em média, 20% maior do que entre as mulheres. Mas, dependendo da faixa etária, chega a ser o dobro.
O consumo de frutas e hortaliças, comparado ao de carnes com excesso de gorduras, é bem menor, de acordo com a Vigitel. O percentual de homens adultos que consomem esses alimentos em cinco ou mais dias por semana fica entre 22% e 36%, nas diferentes faixas etárias pesquisadas. O consumo maior está entre homens com mais de 65 anos (36,19%) e o menor na faixa entre 35 e 44 anos (22,14%). A ingestão diária de refrigerantes é outro hábito prejudicial à saúde. O percentual de homens adultos que afirmaram tomar refrigerantes em cinco ou mais dias por semana foi de 21,04%, na faixa etária entre 18 e 24 anos, e 24,89%, entre 25 e 34 anos. Esse percentual é menor entre os homens mais velhos: 15,39% (35 a 44 anos); 13,46% (45 a 54 anos); 10,56% (55 a 64 anos); 11,16% (mais de 65 anos).
Outro alimento que aumenta o risco para câncer, os ultraprocessados, também ocupa espaço considerável na alimentação dos homens. Aos pesquisados, o inquérito do Vigitel perguntou se haviam consumido cinco ou mais grupos desse tipo de alimento no dia anterior e a entrevista. Responderam afirmativamente: 27,15% (na faixa entre 18 e 24 anos); 29,18% (25 a 34 anos); 25,33% (35 a 44 anos); 16,66% (45 a 54 anos); 11.21% (55 a 64 anos); e 10,9% (mais de 65 anos).
Além de manter hábitos de vida saudáveis, o combate ao câncer de próstata também se faz com a consulta anual ao urologista, atitude essencial para diagnosticar um eventual câncer ainda em fase inicial quando as chances de cura são maiores. Para o diagnóstico de câncer de próstata são importantes o exame de sangue que avalia a proteína produzida pelo tecido prostático (PSA) e o exame de toque retal, que propicia descobrir a doença em fase mais inicial. A confirmação diagnóstica se dá por biópsia. A Sociedade Brasileira de Urologia recomenda que os homens a partir de 50 anos procurem um profissional especializado, para avaliação individualizada. Homens negros ou com parentes de primeiro grau com câncer de próstata devem começar com essa consulta médica aos 45 anos.
Câncer de próstata: uma doença silenciosa no início
O câncer de próstata tem evolução silenciosa e não costuma apresentar sintomas ou, quando apresenta, pode ser confundido com crescimento benigno da próstata, pois é uma doença que tem sintomas semelhantes. Portanto, vale ficar atento e procurar um médico para avaliação, caso tenha alguns dos sintomas a seguir com persistência superior a duas semanas:
- Dor ou ardência ao urinar
- Dificuldade para urinar ou para conter a urina
- Fluxo de urina fraco ou interrompido
- Necessidade frequente ou urgente de urinar
- Dificuldade de esvaziar completamente a bexiga
- Sangue na urina ou no sêmen
- Dor contínua na região lombar, pelve, quadris ou coxas
- Dificuldade em ter ereção
O tratamento do câncer de próstata é individual, ou seja, leva em conta variáveis como idade, tipo do câncer, estágio, estadiamento, estado clínico e emocional do paciente e possíveis efeitos colaterais associados ao tratamento. “Munidos dessas informações, podemos oferecer uma abordagem personalizada, baseada em evidências científicas, beneficiando cada paciente de forma assertiva”, explica Guimarães. As abordagens podem ser cirúrgicas, com destaque para a robótica; assim como por ultrassom de alta frequência, hormonioterapia, radioterapia, crioterapia, protonterapia e quimioterapia. “Há casos também em que a doença é indolente a tal ponto de optarmos por não tratar, mantendo uma vigilância ativa.
*Referência