Quando a ira nos domina
Domingos Sávio Zainaghi (*)
A ira é um dos sete pecados capitais, aqueles pecados que não estão listados na bíblia, mas que servem para reforçar os dez mandamentos, estes sim constantes do Livro Sagrado.
Os sete pecados capitais não têm origem no cristianismo, mas foram adotados pela Igreja Católica como forma de divulgar e fortalecer seus dogmas e ensinamentos.
A lista dos sete pecados capitais mudou bastante durante sua evolução desde as primeiras previsões, e hoje eles são: preguiça, inveja, avareza, luxúria, soberba, gula e a ira, sendo esta última o objeto de análise deste artigo.
A ira, leva ao ódio ou à raiva, ou seja, ao desejo de fazer o mal para outra pessoa que nos agrediu ou ofendeu. Não tenho dúvidas em afirmar que é a ira o principal sentimento que leva desgraça à humanidade desde os primórdios.
A ira é responsável não só por conflitos entre pessoas de maneira singular, mas guerras e revoluções se por conta da ira.
O ladrão quando assalta, ele geralmente está tomado pela inveja, e esta é acompanhada pela ira. Não basta tirar do outro algo que não lhe pertence, mas ameaça verbal e fisicamente a vítima. Certa feita fui assaltado no trânsito e o ladrão apontando-me uma arma pediu meu relógio e celulares, chamando-me de filho da p… Veja, ele poderia apenas roubar, mas sua ira para comigo o fez me xingar. E tive medo de que a ira o levasse a me matar.
Todos nós já tivemos esse sentimento em alguma ou várias vezes durante nossas vidas. Quando nos ofendem, nos traem, nos enganam ou nos agridem fisicamente.
O recente episódio ocorrido na última cerimônia da entrega do Óscar, onde um ator agride com um violento tapa no rosto do apresentador da cerimônia após este ter feito uma infeliz piada com a esposa do agressor, em razão de uma enfermidade desta que a fez ficar completamente sem cabelos, me fez refletir sobre a ira.
Evidentemente que Will Smith, o agressor, foi tomado pela ira, pois não gostou da inoportuna piada envolvendo sua esposa.
Li nas redes sociais declarações de apoio à atitude do agressor, e isto me deixou muito preocupado. Em que sociedade estamos vivendo, na qual se aplaude quem se deixa levar pela ira?
No passado, uma ofensa como a ocorrida, tinha como consequência um duelo entre agressor e ofendido, mas neste atual estágio da civilização, não se pode concordar com agressões como resposta a uma ofensa.
Ademais, sinceramente, não entendo como algo tão ofensivo o que o ator Chris Rock disse. Foi de mau gosto, mas humoristas fazem graça de tudo e às vezes exageram, como foi nesse caso.
No Brasil a atitude do ator Will Smith está prevista no Código Penal:
“Art. 345 – Fazer justiça pelas próprias mãos, para satisfazer pretensão, embora legítima, salvo quando a lei o permite: Pena – detenção, de quinze dias a um mês, ou multa, além da pena correspondente à violência.
Não quero abordar do ponto de vista jurídico, mas sim do humano. A ira, como afirmado acima, é um pecado, e como tal devemos não o praticar, pois existe uma punição além da do Código Penal, ou seja, a punição Divina.
Os pecados desagradam a Deus, e mesmo para quem não é religioso, a ira pode trazer muitas consequencias ruins. Podemos, em um momento de ira, matar um semelhante, espancar o cônjuge ou filhos, causando rupturas afetivas e até anos em uma prisão, sem contar a dor do arrependimento e do remorso.
Não podemos nos deixar dominar pela ira, já que como visto, ela nos trará consequencias desagradáveis e que podem durar até o fim de nossas vidas.
Não temos como impedir que nos agridam ou ofendam, mas temos como controlar o que esses sentimentos fazem em nós.
Augusto Cury tem uma frase que gosto muito: “não devemos dar o controle remoto de nossas emoções para os outros”, e é isso que estou querendo expor aqui.
Tem uma frase muito repetida que afirma que “não podemos impedir que os pássaros voem sobre nós, mas podemos impedir que eles façam ninhos em nossa cabeça”.
Ou seja, não temos como impedir as agressões, mas os efeitos delas em nós só dependem de nosso autocontrole.
(*) Domingos Sávio Zainaghi – Pós-doutorado em Direito do Trabalho. Pós-graduado em Comunicação Jornalística e em Sociologia, História e Filosofia. Advogado, palestrante e escritor. Autor do livro “Vale a pena ser gentil?”, pela Literare Books International.