O que há de melhor além dos antidepressivos?
A depressão é um transtorno de humor que afeta aproximadamente 322 milhões de pessoas no mundo todo (Dados da Organização Mundial de Saúde até o ano de 2015). No Brasil, mais de 11,5 milhões de pessoas convivem com a doença, o que representa 5,8% da população. Ainda, mais de 18,6 milhões de pessoas (9,3% da população brasileira) têm distúrbios relacionados à ansiedade. Essas doenças afetam a vida pessoal e econômica dos indivíduos acometidos, além de acarretar custos à sociedade.
Os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS), como a fluoxetina, sertralina, escitalopram, são os medicamentos de primeira linha para o tratamento da depressão. No entanto, o início do tratamento com esses medicamentos demanda resiliência e persistência dos pacientes, pois estas substâncias levam entre 15-21 dias para início do efeitos benéficos, e em muitos casos, os pacientes podem ser refratários aos tratamentos disponíveis.
Robin Carhart-Harris e colaboradores (2021), realizaram um ensaio clínico de fase 2, duplo-cego, randomizado, comparando os efeitos antidepressivos do escitalopram, um ISRS com excelente perfil de segurança e eficácia, com a psilocibina, um composto psicodélico. A psilocibina é um composto psicoativo natural, extraído de cogumelos.
Como a grande maioria das substâncias psicodélicas, os efeitos da psilocibina acontecem pela sua atividade agonista sobre os receptores 5-HT2A da serotonina. Esse receptor está também relacionado com a depressão. Nesse sentido, na metade do século XX, pesquisadores já começaram a vislumbrar o uso dela como adjuvante na farmacoterapia nos transtornos de humor e no tratamento da dependência química.
Alguns estudos já foram realizados para avaliar o papel da psilocibina no tratamento da depressão e ansiedade. Os resultados demonstraram que após a administração de 2 ou 3 doses dessa substância os sintomas depressivos dos pacientes reduziram. Nesse estudo de Carhart-Harris, eles avaliaram pacientes, homens e mulheres entre 18-80 anos, com histórico de longos anos convivendo com a depressão na sua forma moderada ou grave, tratados com escitalopram ou psilocibina durante 6 semanas.
Os pesquisadores utilizaram o QIDS-SR16 (Inventário Rápido de Sintomatologia Depressiva), um questionário para avaliar os sintomas dos pacientes com transtorno depressivo numa escala de 1-27, podendo ser, simplistamente, interpretado da seguinte forma:
- 1-5: sem sintomas depressivos
- 6-10: depressão leve
- 11-15: depressão moderada
- 16-20: depressão grave
- 21-27: depressão muito grave, com ideação suicida
No início do estudo, os pacientes responderam a esse questionário, sendo o score do grupo psilocibina de 14,5 e do grupo escitalopram 16,4. No final das 6 semanas, os pesquisadores observaram uma redução de 8 pontos no score dos pacientes que receberam a psilocina, e de 6 pontos nos pacientes tratados com escitalopram. Através do QIDS-SR16, foi possível observar remissão dos sintomas em 57% dos pacientes do grupo tratado com psilocibina, e em 28% dos pacientes tratados com escitalopram. Um ponto importante a destacar é que, a incidência de efeitos adversos foi parecida entre os dois grupos.
Baseado nesses dados e na interpretação do QIDS-SR16 após 6 semanas, as informações não são suficientes para mostrar um efeito antidepressivo superior da psilocibina em relação ao escitalopram. Por isso, estudos mais longos e maiores, que avaliem um número maior de pacientes são necessários para comparar os efeitos antidepressivos da psilocibina com o dos demais ISRS.
Respondendo a pergunta do título, ainda nada!
Esse artigo foi escrito pela Dra. Marissa Schamne, Doutora em Psicofarmacologia e co-fundadora da Escola Rigor Científico. Acesse www.rigorcientifico.com.br para conhecer outros artigos sobre ciência e saúde.