O que é o wellness building e por que esse conceito será tendência em 2022?
por Andressa Gulin
A preocupação com a saúde e a qualidade de vida tem se mostrado crescente em todo o mundo e não deve ser uma moda passageira, principalmente no Brasil. Para se ter uma ideia, entre 2010 e 2017, as famílias brasileiras gastaram mais do que o dobro com produtos e serviços relacionados à saúde e bem-estar na comparação com países da Europa e Estados Unidos, segundo o relatório Conta-Satélite de Saúde 2017, do IBGE.
A busca pelo equilíbrio entre saúde, mente e espírito já está no dia-a-dia de milhares de pessoas, a partir de micro-decisões: frequentar espaços de bem-estar, relaxamento, ambientes pensados para socialização, estar em lugares que proporcionam conforto (iluminação, climatização, natureza) etc. No entanto, o público já está entendendo a arquitetura como cura e que momentos de desvinculação com a rotina são necessários e fazem a diferença também em outros âmbitos. Trazer tudo isso para dentro do lar passou a ser o próximo passo, sobretudo com a pandemia, que amplificou a importância de viver em um lugar que reflete nossa saúde e bem-estar.
Nesse contexto, ganha força dentro do mercado imobiliário o conceito de Wellness Building, que nada mais é que a junção dos pilares dos conceitos green building, associados aos princípios de Healthy building, que desenha as experiências de cada espaço, planta ou área abordando de forma holística os 7 pilares de wellness que levam ao estado de bem estar. Ou seja, juntos esses dois conceitos focam em estabelecer uma balança equilibrada entre lazer, bem-estar e qualidade de vida. Tal definição prioriza por proporcionar estímulos positivos através de pilares importantes como localização, exclusividade, design, sustentabilidade, serviços e principalmente saúde.
Para este último, as áreas são pensadas para reduzir a exposição a doenças, até por meio de ambientes que estimulam hábitos saudáveis, tornando a moradia um verdadeiro aliado imunológico. Dentro desse conceito, a arquitetura da cura é aquela que a transforma em um verdadeiro santuário e enobrece a casa como local onde as coisas acontecem mais dentro do que fora. O hall de entrada sinaliza a passagem para um local sagrado, onde você deixa o mundo exterior pendurado. A arte de receber em casa será o novo requinte, onde salas viram cenários de pequenos grandes concertos, as cozinhas locais de conexão e as bibliotecas garantem a concentração.
Totalmente integrada ao conceito de wellness building, a consciência sobre a influência do ambiente como um instrumento de cura e prevenção traz reflexões importantes, em que novas escolas buscam entender quais os impactos a arquitetura pode causar na fisiologia do corpo humano. A chamada neuroarquitetura procura demonstrar, a nível fisiológico, como a exposição a ambientes cercados de natureza reduzem a liberação de hormônios de estresse como cortisol e adrenalina, por exemplo. A biofilia passa a ser utilizada como terapia e a ciência passa a explicar com neurotransmissores o que nós sentimos como bem estar.
Procura crescente
O conceito de saúde e bem-estar dentro de casa já é uma realidade e com a pandemia, a necessidade de morar em um lugar que realmente ofereça algo além do “espaço” ficou latente e imediata, passando a ser um ponto fundamental na escolha do imóvel. Apenas morar já não é mais o suficiente. É preciso viver, sentir, ter a experiência e sensação de que estando em casa você tem segurança, saúde, bem estar, aconchego ou seja, tudo o que precisa em um único lugar.
Além disso, a pandemia fez com que uma nova consciência social sobre os espaços urbanos e o consumo regional passasse a ser potencializada e valorizada. Planejamento urbano será chave fundamental para garantir a qualidade de vida de uma população. As pessoas terão a necessidade e o desejo de viver em bairros fáceis, arborizados, onde não é preciso se deslocar tanto para ter acesso aos serviços que facilitam o seu dia a dia.
Na verdade, a necessidade pelo bem-estar é uma premissa que já vem de muito tempo. Civilizações gregas, romanas e asiáticas influenciaram o conceito de wellness que existe atualmente e cada vez mais pessoas buscam o equilíbrio para uma vida mais saudável. Amplitude e materiais diferenciados ajudam a criar esse ambiente de refúgio, que também pode estimular a produtividade. Espaços atrativos e convidativos estimulam a estadia dos moradores, a realização de atividades saudáveis e até mesmo as interações sociais.
Essa nova tendência do setor reflete o esforço incessante do equilíbrio físico, mental e espiritual pelos residentes, que não apenas buscam por uma vida mais saudável, mas também querem desfrutar de pequenos prazeres do cotidiano que são esquecidos na rotina e que estes novos edifícios podem trazer com micro rituais que a própria arquitetura influencia os moradores a criar.
Esses aspectos acabaram se acentuando ainda mais com a necessidade de isolamento social. E os reflexos já podem ser medidos em números. Ao longo dos dois últimos anos, a procura por edifícios focados em wellness cresceu 22%, principalmente em projetos residenciais, segundo estudo realizado pelo GWI — Global Wellness Institute. Em 2020, este era um mercado de aproximadamente US$ 275 bilhões, e a expectativa é que no fim deste 2022 chegue a US$ 919 bilhões.
*Andressa Gulin – Head de Inovação e Estratégia, médica especializada em inovação e tecnologias exponenciais pela Singularity University – NASA. atuou como consultora de inovação em diversas empresas de saúde. No final de 2018, assumiu a diretoria de Estratégia e Inovação da AG7, ajudando a incorporadora a implementar no Brasil projetos de wellness real estate, criando empreendimentos imobiliários que unem saúde e bem-estar aos espaços construídos. Já participou do TEDx Talker, foi primeira médica da América Latina certificada pela FitWell, co-responsável por projetos premiados internacionalmente como IF Design Award, Top 15 Global de Buildings Health entre outros.