Jejum de dopamina: neurocientista alerta que prática é maléfica e fraudulenta
"É só mais uma invenção de marketing incoerente", afirma o PhD em neurociência Fabiano de Abreu
Um dos mais novos métodos para aumentar a produtividade e bem-estar adotado por empreendedores do polo tecnológico do Vale do Silício (EUA) é o “jejum de dopamina”. Sem nenhuma comprovação científica dos benefícios, os defensores do método passam dias evitando atividades prazerosas e agradáveis com o objetivo de melhorar o funcionamento do cérebro. Alguns adeptos até mesmo suspendem a alimentação.
Segundo o neurocientista Doutor Fabiano de Abreu, a prática vai na contramão do que promete: não eleva a produtividade e aumenta os riscos de depressão. “O erro começa pela palavra, já que o significado de jejum é referente à comida e a dopamina é um neurotransmissor sintetizado a partir do aminoácido tirosina na glândula suprarrenal e em quatro regiões do cérebro”, adverte Fabiano de Abreu.
Os adeptos do jejum de dopamina acreditam que o ser humano passa muito tempo com atividades improdutivas devido ao fato de buscar cada vez mais dopamina, um neurotransmissor que promove sentimentos de prazer, motivação e recompensa.
“Um “jejum” desta substância promove sensações opostas e prejudica o organismo como um todo. Uma das possíveis consequências é desencadear precursores que afetam as condições de ordem psicológica e que comprometem o bem-estar a longo prazo” afirma Fabiano de Abreu, que é Mestre em Psicanálise e Doutor em Ciências da Saúde.
Uma entrevista da BBC com um adepto do jejum de dopamina narra as práticas: ele suspende a alimentação, ingere apenas água, evita interagir com outras pessoas e abdica o uso do smartphone. De todas as práticas, Fabiano de Abreu salienta que apenas a suspensão de celular é vantajosa: “devemos usar o aparelho com sabedoria, períodos sem celular podem ser benéficos. Já suspender a ingestão de nutrientes essenciais para o corpo… isso é prejudicial para o organismo”, afirma.
“Nosso cérebro é plástico, molda-se mediante às circunstâncias duradouras. Pessoas com depressão, por exemplo, têm a anatomia do cérebro modificada, apresentando uma redução de tamanho no hipocampo, a amígdala e o córtex pré-frontal. Quando nos colocamos em uma atmosfera negativa, desmotivada, sem prazer, com o passar do tempo o cérebro é moldado da mesma maneira”, informa o Doutor Fabiano de Abreu.
Quando a prática de jejum de dopamina é recorrente, pode afetar a personalidade da pessoa e gerar comportamentos maléficos recorrentes e também depressão. Mas existe “vício de dopamina?” Sim. O vício de dopamina acontece em determinadas situações, principalmente as da contemporaneidade, como o uso abusivo do celular.
“O vício está também na facilidade, onde para a recompensa não é necessário gastar muita energia. Mas a solução para isso não é um jejum de dopamina, é parar de fazer aquilo que se sabe das consequências ruins e adotar mudanças no modo de vida para ter uma saúde mental e produtividade melhor. Tenha cuidado antes de adotar métodos sem respaldos científicos: jejum de dopamina é só mais uma invenção de marketing incoerente” orienta o Doutor Fabiano de Abreu.
Jejum de dopamina é só mais uma invenção de marketing incoerente
Para começar que jejum é sobre comida – e dopamina é um neurotransmissor liberado pelo cérebro
O polo tecnológico do Vale do Silício é centro de diversas invenções – mas nem tudo que sai dali promove benefícios para a sociedade. Uma das mais novas práticas advindas do Vale do Silício é o jejum de dopamina, que consiste em abdicar-se de atividades prazerosas (e até mesmo de alimentação), adotado por empreendedores e estudantes da região que buscam melhorar o bem estar e a produtividade.
A prática vai na contramão do que promete. O erro já começa pelo nome, já que jejum é referente à comida e a dopamina é um neurotransmissor sintetizado a partir do aminoácido tirosina na glândula suprarrenal e em quatro regiões do cérebro: nigroestriatal, mesolímbica, mesocortical e túbero infundibular.
Este neurotransmissor promove sentimentos de prazer, motivação e recompensa. Logo, um “jejum” desta substância iria trazer sensações opostas, podendo desencadear precursores que afetam as condições de ordem psicológica que geram comprometimento na vida normal de uma pessoa, podendo levar à depressão.
Os adeptos do jejum de dopamina acreditam que o ser humano passa muito tempo com atividades improdutivas devido ao fato de buscar cada vez mais dopamina. O vício de dopamina existe e está também na facilidade, onde para a recompensa não é necessário gastar muita energia. Mas a solução para isso não é um jejum de dopamina: é interromper atividades que já se sabe das consequências ruins e adotar mudanças no modo de vida para ter uma saúde mental e produtividade melhor.
Há indivíduos que praticam o jejum de dopamina e suspendem a alimentação, ingerindo apenas apenas água – aí já está outro erro, porque trata-se de deixar de ingerir nutrientes essenciais para o funcionamento do organismo. Outra prática é evitar interagir com outras pessoas e abdicar do uso do smartphone.
De todas as práticas, somente suspender o uso do celular é vantajoso. Já se sabe que é maléfico o uso abusivo do celular, portanto, devemos usar o aparelho com sabedoria e podemos obter benefícios de períodos sem smartphone. Enquanto suspender a ingestão de nutrientes essenciais para o corpo… isso é cientificamente prejudicial para o organismo.
Nosso cérebro é plástico, molda-se mediante às circunstâncias duradouras. Pessoas com depressão, por exemplo, têm a anatomia do cérebro modificada, apresentando uma redução de tamanho no hipocampo, a amígdala e o córtex pré-frontal. Quando nos colocamos em uma atmosfera negativa, desmotivada, sem prazer, com o passar do tempo o cérebro é moldado da mesma maneira.
Quando a prática de jejum de dopamina é recorrente, uma das possíveis consequências é alterar a personalidade da pessoa, gerar comportamentos maléficos recorrentes e também depressão. As coisas não podem ser analisadas de forma superficial: é preciso ter muita cautela antes de adotar métodos da “moda” sem qualquer tipo de respaldo científico. Caso contrário, o resultado pode ser justamente o contrário do que se espera – como é o caso do jejum de dopamina.