Patrícia Hagobian aposta em ventilação livre e fora do óbvio na Casacor SP
Projeto é inspirado no deus Zéfiro da mitologia grega e traz elementos conceituais sobre liberdade e acolhimento
Em tempos de ressignificação do viver e do morar, após um longo tempo de pandemia e confinamento, surge outro olhar para os lares e, também, para o sentido das palavras liberdade e proteção. Inspirada nessa transformação social e humana, a arquiteta Patrícia Hagobian apresenta o Lóft Zéfiro Dunelli, em um espaço de 140 m², marcado pela ventilação livre e fora do óbvio, na CASACOR São Paulo 2021. O local pode ser visitado até 15 de novembro, no Parque Mirante, anexo ao Allianz Parque.
Quem em sã consciência não gostaria de estar protegido, e ao mesmo tempo ter a sensação de liberdade? Inspirada no Deus Zéfiro – do vento oeste, a arquiteta traz a história do indomável e violento, que destruía tudo que via pela frente, e precisou se reinventar e domar sua força, tornando-se um vento mais suave e brando para conquistar o coração e não destruir as flores de sua amada Clóris, Deusa da primavera.
Já dizia Fernando Pessoa, “Só de sentir o vento passar, já valeu a pena viver”, e foi com essa narrativa, em busca da simplicidade perdida, que o partido do projeto se apropria de uma maneira delicada na questão de que a casa, assim como nós, também precisa respirar, e acima de tudo ressignificar, transformando o espaço em um verdadeiro lar, um refúgio, um lugar seguro.
A concepção é de um espaço híbrido e multifuncional, marcados por “blocos” independentes. A permeabilidade do vento revela em momentos estratégicos, a linha do horizonte, exibindo pontos de calmaria para o olhar.
A conexão com a natureza e a liberdade vivenciada pelos velejadores é mais uma vertente do loft. No convite para sermos mais amigáveis com o planeta, que tal escancarar a janela, deixar a porta aberta e permitir a brisa entrar? E ainda que o mundo nos queira em caixinhas apertadas, a existência em algum momento se expande naturalmente – a casa conecta e conta histórias. E essa expõe a saga de um velejador apaixonado pela brisa, que conduz o vento para dentro de sua casa e da sua alma.
Olhar diferenciado para a ventilação cruzada
A necessidade de ambientes arejados em uma situação de pandemia é uma das principais características trazidas pelos profissionais da CASACOR. Mas além da ventilação cruzada, um pré-requisito da própria mostra, o projeto Loft Zéfiro Dunelli traz um elemento inovador: vãos de entrada de ar, que integram todos os ambientes no alto das paredes.
A releitura para criação das lacunas sai do óbvio e atravessa todas as paredes em aberturas contínuas de 50 cm acima das janelas, dando entrada para o vento e para o céu.
Os curiosos vãos trazem a tendência de novos tempos de forma prática, arejando e trazendo segurança sanitária para o ambiente, mas também abraçam a tendência do subjetivo, dualidade entre o sólido e o fluído, traz conforto, respiro e acolhimento.
Casa completa
No amplo ambiente, patrocinado pela Dunelli, logo na entrada, uma porta generosa e pivotante se destaca. Ao adentrar, revela um espaço onde a premissa é leveza. Ao passar pelo Hall de distribuição, a janela se abre, e um volume se forma, demarcando a área da Cozinha e Sala de Almoço. Com o pé direito mais alto e volumes pronunciados, o Living é emoldurado pela vista. É no espaço mais generoso da casa, que a paisagem de tirar o fôlego se anuncia: o Home Office passa a coexistir e permite um momento de absoluto respiro. Em total interação, o closet completamente aberto, confere fluidez.
Um novo pórtico se abre e abraça a sala de banho. Não menos importante, o quarto é o espaço mais intimista. Grandes portas de correr permitem a integração. A cama possui linhas verticais trabalhadas individualmente, e ao mesmo tempo sugerem uma curva, unindo tecnologia construtiva e design artesanal. No lounge de saída, estantes assinadas pela arquiteta e fornecidas pela Dunelli recebem uma coleção de ampulhetas, fazendo alusão que apenas o tempo pode curar tudo.
Destaque para as obras de arte e peças assinadas que finalizam a atmosfera do projeto e trazem exclusividade. Nos mobiliários da cozinha, chama atenção a mesa de jantar assinada pelo Studio Luazzu com acabamento acetinado, e cadeiras com estrutura em madeira maciça tauari, e assento em fibra de vidro revestida, desenhadas por Lattoog, ambos da Dunelli. Iluminação e pendente desenhado por Albert Murta e Ari Coelho da Natilux. A obra de arte concebida em tule sobre canvas é assinada por Will Sampaio.
Na sala, o sofá e poltronas idealizadas por Mauricio Bomfim, em composição com a mesa de centro com tampo em mármore exótico prada nuovo, faz o casamento perfeito com os materiais naturais explorados pelo conceito do projeto – mobiliário exclusivo da Dunelli. A poltrona aramada foi fruto de garimpo, e é uma antiga peça francesa, utilizada em jardins, e seu autor é desconhecido. A obra de arte intitulada de Super Nova 1 e Super Nova 2, é assinada por Marcelo Macedo, e é composta por madeira descartada com pintura acrílica. O artista transita entre criar e recriar, ressignificando objetos e/ou partes deles que foram jogados fora, gerando combinações e possibilidades. São fornecidas pela Galeria de arte contemporânea Luciana Caravello. Iluminação em trilhos Trinity assinadas por Waldir Junior, da Natilux. Produção e styling por Luiz Whitehead.