Cirurgia a laser pode substituir colírios para controle do glaucoma, aponta estudo
Glaucoma é o termo geral para uma série de condições que podem causar danos no nervo óptico. A consequência é a cegueira definitiva. Dados da Organização Mundial da Saúde apontam que o glaucoma é a primeira causa de cegueira irreversível do mundo. Afeta de 2 a 3% da população em geral e essa prevalência aumenta com a idade.
As lesões no nervo óptico são causadas pelo aumento da pressão intraocular (PIO). Logo, o principal objetivo do tratamento é mantê-la sob controle. Entretanto, para a maioria dos tipos de glaucoma, são usados colírios para esse fim. Em muitos casos, o paciente precisa aplicar mais de um colírio, várias vezes por dia.
O custo e a dificuldade na administração dos medicamentos são entraves significativos para o tratamento do glaucoma. Como resultado, muitos pacientes evoluem para a cegueira. O impacto social do glaucoma é imenso.
A boa notícia é que um estudo, publicado no The Lancet, mostrou que um procedimento, chamado Trabeculoplastia Seletiva a Laser (SLT), pode ser uma alternativa importante e deve ser oferecida como primeiro tratamento para o glaucoma primário de ângulo aberto, o mais comum entre todos os tipos da patologia.
Após 36 meses, 74% dos pacientes do grupo que foi submetido à SLT não precisou de nenhum medicamento para controle da pressão intraocular. A efetividade no controle da pressão intraocular atingiu 93% dos pacientes nas consultas médicas após o tratamento.
Por que essa descoberta é importante?
Segundo a oftalmologista, Dra. Maria Beatriz Guerios, especialista em glaucoma, embora o uso dos colírios seja uma ferramenta fundamental, há aspectos que podem prejudicar a adesão, como a administração nas doses e horários corretos e os custos. Além disso, a longo prazo, podem causar efeitos adversos importantes na saúde.
Muitos estudos apontam que a adesão ao tratamento do glaucoma é baixa. Cerca de 20 a 66% dos pacientes não usam os colírios de acordo com a prescrição do oftalmologista. Além disso, muitos abandonam o tratamento.
Como funciona
O nome do procedimento, trabeculoplastia, se refere à malha trabecular. “De uma forma leiga, é uma rede porosa que possui uma série de canais interconectados por onde ocorre o escoamento do humor aquoso. A pressão intraocular depende do perfeito funcionamento dessa estrutura”, explica Dra. Maria Beatriz.
Para realizar o procedimento, o oftalmologista usa uma lente especial para visualizar as áreas da malha trabecular que precisam ser tratadas. O médico realiza cerca de 100 disparos do laser, em torno de 15 minutos. Como resultado, a drenagem do humor aquoso melhora com consequente controle da pressão intraocular.
“A trabeculoplastia seletiva a laser é um procedimento indolor, rápido, sem necessidade de internação e de recuperação, com bom perfil de segurança. O efeito é comparável ao uso dos colírios”, aponta Dra. Maria Beatriz.
“Outra vantagem é que previne a necessidade do uso desses medicamentos e não está associado a efeitos colaterais. Entretanto, é importante dizer que não tem um efeito permanente, ou seja, pode ser necessário um novo procedimento depois de alguns anos”, diz a oftalmologista.
O mais importante, segundo a especialista, é que a SLT reduz o risco de a pessoa evoluir para a cegueira, com todos os impactos negativos da deficiência visual, como perda da capacidade produtiva, renda e qualidade de vida em geral.
“Vale ressaltar que a Trabeculoplastia seletiva a Laser tem mais efetividade quando indicada na fase inicial da doença, quando há menos danos da região da malha trabecular”, finaliza.