O peso da procrastinação
Olha a estante, abre o livro, lê, fecha o livro. Abre o notebook, escreve uma linha, olha o celular, responde mensagem; entra na rede social, rola o feed. Olha para a tela do computador e lê a frase que escreveu. Fecha o notebook. Levanta da cadeira e vai fazer outra coisa qualquer… sente a culpa.
Ahh, como é doce e ácido o procrastinar. Estamos ali frente a uma tarefa que precisa ser realizada, mas vamos nos enrolando, criando outros afazeres, na maioria banais, mas que preenchem o tempo. Como é difícil terminar algo que tem prazo de entrega, né? Parece que qualquer outra atividade é mais interessante, mais prazerosa do que aquela que realmente tem que ser feita.
No início do procrastinar vem o prazer, o alívio mental de não precisar pensar na obrigação, na fuga deliciosa ao se refugiar no feed da rede social ou de puxar uma conversa com amigos que não fala faz um tempo. Mas, aí as horas passam, o dia vai se encerrando, e da mesma maneira que percebe o cair da tarde, você se dá conta que não começou a tarefa designada. O estômago chega a doer de preocupação.
Começa um novo dia e lá vamos nós de novo, tentar pelo menos começar o trabalho. Muitas vezes não sabemos por que procrastinamos. É a ansiedade de saber que será um trabalho pesado do início ao fim? É o medo do tempo perdido e da vida passando em meio a tantas possibilidades? A angústia de não dar conta? É tudo isso junto? Talvez…
Deixar para a última hora pode fazer com que os medos se confirmem e que o trabalho não fique tão bom. As horas de sono também podem ser prejudicadas fazendo os dias serem mais cansativos. No fim ficamos com a sensação de que não damos conta porque enrolamos. O que podemos constatar, é que geralmente o peso da procrastinação recai sobre nossos ombros.
Se temos consciência que procrastinar nos faz mal, podemos tentar mudar aos poucos este hábito. Criar uma lista de tarefas pode ser um bom início. Ao colocar no papel as etapas do que precisa ser feito criamos a possibilidade de lidar com o real. Dar um “check” em cada pequena coisa que fazemos traz a sensação de alívio e de tarefa cumprida.
Fazer pequenas pausas durante o trabalho. A nossa atenção e foco não são feitos para durar longos períodos, por isso que intercalar os tempos entre uma tarefa e uma pausa é eficaz. Uma das técnicas mais famosas é o chamado “método pomodoro”, onde você vai adequando o trabalho e as pausas conforme a sua rotina e processos de atenção.
Ter sempre à mão um copo de água, chá, café, também pode ajudar a dar um gás extra ou a tranquilidade que você precisa para trabalhar. Se você é do tipo que consegue se concentrar usando fones de ouvido com uma música para motivar, escolha uma playlist para o trabalho. Agora, se o seu caso é o de não conseguir se concentrar com barulhos, encontre um lugar calmo e silencioso. Acenda uma vela, um incenso, crie um ambiente aconchegante para trabalhar, mas não ao ponto de relaxar demais e dormir.
Procrastinar é uma atitude de fuga, e é importante aprender a pensar o que nos leva a querer fugir. Tente se entender, tente pensar nas causas que te levam a procrastinar. Assim fica mais fácil diminuir a quantidade de vezes que essa atitude acontece, e consequentemente o peso da culpa também diminui.
Sara Campagnaro é psicóloga, professora na Estácio Curitiba, Especialista em Psicologia Fenomenológico-Existencial e Mestra em Educação. Coordena o grupo de estudos “Psicologia & Feminismo”.